terça-feira, 19 de agosto de 2014

José Roberto Aguilar é do mundo

“A minha arte não é pop, é cor, realismo fantástico, realismo mágico, um figurativismo abstrato… Não importam esses rótulos.” 

Trecho do texto: "Um planeta chamdo Aguilar - de Tânia Rabello
publicado em 12 de março de 2014
http://www.revistabrasileiros.com.br/2014/03/12/um-planeta-chamado-aguilar/#.U_OlrfldXPQ

José Roberto Aguilar é do mundo. Esse ser essencialmente performático, explorador da arte em suas várias formas, seja ela pintura, escultura, videoarte, música, literatura, teatro e as provocativas (e inesquecíveis, para quem teve a oportunidade de presenciá-las) performances, vem deixando sua marca por onde passa. Isso em São Paulo, onde nasceu, em 1941, no Rio de Janeiro, em Buenos Aires, Paris, Londres, Nova York, Japão (país que o inspirou na videoarte, da qual foi pioneiro no Brasil) ou em outras partes do planeta, tomando como pares artistas com o mesmo espírito provocativo, como o cantor e compositor brasileiro Jorge Mautner (que conheceu ainda no ginásio e fundou o grupo Kaos, multiartístico), Gilberto Gil, Caetano Veloso, o artista plástico Ivald Granato, e os videoartistas Nam June Paik e Dennis Oppenheim.
Desde que despontou na cena artística brasileira, no início dos anos 1960, esse estudante de Economia extremamente apaixonado pela literatura – sempre pensou que seria escritor – nunca mais passou despercebido, transitando entre um suporte e outro com absoluta espontaneidade explosiva. Inclusive nos livros, que por fim escreveu. “Todas as linguagens convergem numa só vertente, e essa vertente é a criação”, pontua o artista em documentário feito por Luiz Claudio Lins para a série Encontros, do Itaú Cultural.
Aguilar e performance são palavras quase sinônimas. Elas ganham força na vida do artista nos anos 1970, sendo profusas em críticas sociais e ao establishment cultural. Em Mitos Vadios, por exemplo, um grande happening coletivo organizado por Ivald Granato, Aguilar e artistas do calibre de Hélio Oiticica e Claudio Tozzi, entre outros, faz-se uma severa, porém bem-humorada, crítica à I Bienal Latino-Americana, no fim de 1978, e cujo tema era Mitos e Magia. “O samurai do I Encontro Internacional de Videoarte desembainha agora sua espada contra omissão cultural, bom gosto, pacote cultural, crítica colonizada e esnobismo – os ‘demônios’”, descreve Solange Lisboa no livro sobre o artista. Na ocasião, Aguilar, o “samurai”, duelou com o próprio curador da mostra, Carlos von Schmidt, que, para espanto de seus pares, topou comparecer ao estacionamento da Rua Augusta, 2.918, onde seria realizado o happening. Aguilar, com uma espada de verdade, e Von Schmidt, com uma espada imaginária, duelaram por alguns minutos, com Aguilar gritando “Banzai, banzai!”, e ouvindo em troca algumas outras palavras em japonês.
O que enraizou na década de 1970 fortificou-se, e o resultado foi uma profusão de performances que culminaram com o arrebatamento de multidões ansiosas para acompanhar o artista. Na Pinacoteca do Estado de São Paulo, por exemplo, em Concerto para Piano de Cauda, de 1980, Aguilar toca piano com luvas de boxe, extintores de incêndio e cítara – ocasião que significou o embrião da Banda Performática, criada em 1981, outra das vertentes de expressão artística e que agitou as noites paulistanas na época, em templos underground, como o Radar Tan-tan e Lira Paulistana. O maior sucesso da banda, Você Escolheu Errado o seu Super-herói, ganhou o País na interpretação das Frenéticas. Em outra performance emblemática, Anti-Christo (em alusão ao artista búlgaro, que embrulhou monumentos, pontes e praias), Aguilar, literalmente, desembrulhou o Museu da Imagem e do Som – MIS, na capital paulista, coberto por centenas de metros de plástico preto, durante a abertura do IV Festival Vídeo-Brasil, em 1986.
Já em 1989, arrasta mais de 15 mil pessoas e 300 artistas – entre eles, Ivald Granato, o diretor teatral José Celso Martinez Corrêa, o cantor e compositor Arnaldo Antunes, Jorge Mautner e o ator Sérgio Mamberti – ao Estádio do Pacaembu para participarem da megaperformance A Revolução Francesa, com Aguilar no papel de Voltaire. Um dia antes, no ensaio geral, atores e participantes marcharam na Praça Charles Miller, onde fica o Pacaembu, convidando a população para participar do evento, ao que foram prontamente atendidos. “Eu me manifesto através de uma celebração. Todas as minhas atividades são uma celebração. Uma coisa que celebra, basicamente. Sempre é em relação a um tesão pela vida”, define a forma de agir José Roberto Aguilar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário