''Nascido, criado e morado no Rio'' (palavras do próprio), Franklin Cassaro. O analista de Organização e Métodos, cumpriu o itinerário de praxe das artes plásticas e fez cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. E foi à luta, digo, às ruas da cidade para promover seus acontecimentos estéticos, instalações, atos escultóricos, intervenções artísticas ou arte interativa, alguns novos nomes das performances (expressão que o povo das artes acha ultrapassado).
"Franklin Cassaro inventou o bioconcretrismo, termo que conceitua sua arte. Cassaro cria objetos vivos, que se modificam e estão em constante evolução. Elementos como o ar e o vento são fundamentais em muitos de seus trabalhos. As performances do artista surgem como atos escultóricos. Sua obra possui muita influência de Lygia Clark. Os objetos “infláveis” do artista acolhem o espectador no seu interior desabitado e vazio. Esteve presente na VII Bienal de Havana, Havana – Cuba, 2000."
Franklin Cassaro é um dos principais artistas surgidos na década de 90. A sua geração retomou o fio experimental tão característico da arte brasileira nos anos 60 e 70. Ele tomou a obra de Lygia Clark como um ponto de partida. Não é o único, mas o principal. Interessa, acima de tudo, os processos de formalização e não o objeto em si. A precariedade e a contenção irmanam-se. O gesto escultórico de Cassaro não se esconde na forma, ele é a própria forma, que se revira, se desfaz e se refaz continuamente. Os seus reviramentos, infláveis e performances, revelam uma forma-processo que não se deixa cristalizar, que não pára de germinar einventar novos organismos poéticos, ao mesmo tempo estranhos e sensuais.
Diferentemente de Lygia Clark, a motivação não é terapêutica, não parte de uma tensão diante dos mecanismos de recalque do corpo-expressivo, mas de uma vontade de disseminar uma informalidade existencial que nasce do exercício experimental. O interior da “casa-corpo” de Lygia Clark não oferece abrigo, mas resistência. Os “infláveis” de Cassaro acolhem o espectador no seu interior desabitado e vazio.
Nos seus desenhos atuais, a respiração dá o ritmo do movimento e as mordidas produzem o rastro gráfico no papel. A tinta é colocada antes das mordidas e ela vai se espalhando e criando suas formas bioconcretas. A impressão destes desenhos é quase arqueológica, como se fossem fósseis de borboletas ou peixes pré-históricos. O desenho, assim como suas esculturas revirando latas e metais, nasce do seu gesto que combina precisão e urgência.
Os infláveis erguem-se como se fossem abrigos momentâneos. Sua estrutura é de vento, criando formas transitórias e passageiras, como a própria vida. Esta mesma leveza evidencia-se nos cubos flutuantes, um dos momentos mais líricos do seubioconcretismo. A simplicidade a serviço da surpresa.
Luiz Camillo Osorio, Março de 2006.
Franklin Cassaro, Rio de Janeiro, 1962, formado em Administração de Empresas e Analista de Organização e Método, estudou escultura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Possui trabalhos e nos acervos do MAM Rio, MAM SP, Museu Nacional de Belas Artes e Coleção Gilberto Chateaubriand, entre outros.
Suas primeiras exposições individuais foram, em 1988, na Galeria Macunaíma, Funarte, RJ, e no MAC, São Paulo. Desde então, Cassaro realizou exposições individuais em diversas capitais brasileiras e na Alemanha e Austrália. Participou de dezenas de exibições coletivas no Brasil e no exterior, incluindo a Bienal do Mercosul, Porto Alegre, 1999 e a Bienal de Havana, 2000.
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