Entrevista sobre performance, narrativa transmedia e tríplice mímesis com Fernando Ribeiro
por Raquel Gomes de Oliveira – Pós-doutoranda em Comunicação e Política - UFBA
1. Como surgiu a vontade de criar performances?
Praticamente a partir dos estudos, dos livros. Eu estava no primeiro ano da faculdade, em 1999 e a minha professora de desenho, a artista Carla Vendrami, orientou-me a pesquisar mais sobre o artista Jim Dine. Aí que em minhas pesquisas, acabei comprando um livro sobre sua produção entre os anos de 59-69. E foi ao abrir esse livro que vi pela primeira vez fotos dos happenings de Dine. Ao perguntar para Carla o que era aquilo, ela me respondeu: é performance art. A partir daí, paralelamente a faculdade (que não possuía um matéria específica que abordasse o assunto), comecei meus estudos sobre performance art. Fiquei praticamente 2 anos comprando livros, lendo, estudando, buscando informações e, ao mesmo tempo, organizando palestras sobre a história da performance, transmitindo o que eu aprendia sobre esses estudos. Na época, ainda não tinha muitas manifestações e artistas trabalhando com performance em Curitiba. Eu precisava buscar nos livros. Então, foi após 2 anos de estudos que me veio a necessidade de fazer performance. Eu era um artista, tinha me desenvolvido teoricamente na área mas precisava fazer... e aí criei a performance Eu e o Público, que apresentei pela primeira vez em 2001.
2. Em que medida sua formação acadêmica (bacharel em Artes Visuais e especialista em Estética e Filosofia da Arte) influencia e contribue para seu trabalho?
Primeiramente, são duas formações em dois momentos específicos da minha vida, do meu envolvimento com o meio acadêmico e da minha produção e estudos teóricos sobre a performance art.
A primeira, como comentei acima, foi essencial para o meu contato e envolvimento com esse meio artístico. Foi na faculdade de Artes Visuais que comecei meus estudos e, por mais que minha pesquisa tenha sido tocada paralelamente às obrigações da academia, tive total apoio dela, inclusive podendo organizar palestras dentro de sua programação. Ali a semente não só foi plantada como germinou. Ali comecei para não parar mais. Terminei a faculdade com o meu trabalho de conclusão de curso na linha de pesquisa em Poéticas Visuais, ou seja, estudando o meu próprio processo de criação. Neste trabalho, de 2002, já expressava o quão importante era a performance para mim, como artista.
Já a Especialização em Estética e Filosofia da Arte fez parte de um outro momento de minha vida, digamos que um momento mais maduro. Eu comecei em 2008 e finalizei em 2010. Já na faculdade eu tinha interesse no estudo da filosofia para se pensar/estudar teoricamente a arte. Eu sentia necessidade de um discurso mais rigoroso que a filosofia exigia. E ao entrar na especialização, tinha a intenção de levar a questão da performance art para lá. Mas ao mesmo tempo estava receoso se a academia de filosofia iria se interessar. Tive o grande prazer de conhecer o filósofo e professor da Universidade Federal do Paraná Paulo Vieira Neto, que me orientou no meu trabalho e "comprou" a idéia de levar a performance art para lá. As questões que levei para serem estudadas na Especialização eram questões antigas, que vinham pelo menos desde 2003 e que eu estava sempre a refletir. E foi na Especialização que entrei em contato com Paul Ricoeur, que hoje é o principal filósofo que estudo, e que com a sua obra encontrei na filosofia um modo de abordar e explorar as questões abertas sobre a performance. Hoje, o estudo da obra de Ricoeur influencia não somente meus estudos teóricos e também práticos, com ele pude aprofundar, inclusive, na reflexão de minha própria obra, do meu próprio fazer.
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