"Este foi um questionário enviado no ano de 2009 por um instituto espanhol. Considerei um questionário interessante que levanta questões pontuais sobre a performance art e que considero ser revisitado sempre como meio de reflexão sobre a performance art. Publico aqui as questões e minhas respostas submetidas, como meio de expor por onde caminham minhas pesquisas teóricas sobre performance art.
Decidi manter as perguntas em espanhol com as minhas respostas em português, pois foi assim que eu enviei. Do mesmo modo que publico a versão em inglês das questões e de minhas respostas.
En los últimos tiempos, diferentes artistas provenientes de las artes escénicas, danza y teatro, han tomado para sí el término performance para designar un tipo de trabajo que se sale de las normas clásicas de sus disciplinas.
Este tipo de trabajo, que contiene elementos performáticos, nos ha llevado a plantearnos la cuestión, no tanto de si es performance o no, como la necesidad de repensar qué consideramos como performance hoy desde el campo de las artes performáticas, dada la compleja mutabilidad que el término ha adquirido en años recientes.
Dentro del programa de actividades 2009 de Club8, con el soporte del Departament de Cultura i Mitjans de Comunicació de la Generalitat de Catalunya, queremos plantear esta pequeña investigación sobre qué se considera como performance por parte de un grupo de especialistas en la materia para ver hacia donde va este arte.
Por ello, pedimos tu colaboración en este cuestionario:
Nombre/nacionalidad/edad
Fernando Ribeiro, Curitiba - Brasil, 30 anos
¿Cuánto tiempo hace que estás relacionado con el mundo de la performance? ¿Qué tipo de labor tienes: comisario, crítico, performer, docente,...?
9 anos. Performer.
¿Qué entiendes por performance hoy?
Performance é a arte da ação por excelência. É a arte se faz através da ação no campo prático, no tempo presente. Não é uma representação da ação, mas é ela mesma. Opera todas as quesotes relacionadas a ação, questões de descrição, compreensão, interação, ética, moral, quesotes da vida que nos faz agir no mundo.
¿Qué crees que no es performance?
Creio que tudo em que a ação não possui um papel significante, por mais que ela possa estar presente.
¿Qué elementos crees que conforman la performance?
Elementos básicos: Corpo, Ação, Público, Tempo e Espaço. Considero esses os elementos primários para uma performance. Cada uma com suas devidas configurações, podendo cada trabalho de performance dar maior ênfase a um ou a outro elemento, no entanto, sempre estão presentes. Os três primeiros elementos (Corpo, acão e público) considero como elementos diretos do poder de criação do Performer. Os dois últimos elementos (tempo e espaço) considero como indiretos, ou seja, podem não estar no poder direto da ação do artista, mas podem ser explorados por este, através dos primeiros elementos. De qualquer forma, não há performance sem tempo e espaço.
¿Qué es performático?
Tudo relacionado a ação é o campo da performance art. O mundo da vida é o campo da performance art. Cada artista faz o recorte nesse longo horizonte para que criar o seu trabalho em performance art. Isso é algo que possibilite tão variadas performances. É a possibilidade de experimentação da performance art está diretamente ligado a sua possibilidade de engendrar, de manipular, de explorar o campo prático, sempre cruzando os limites entre arte e vida. A performance art está nesse limite e tem o poder de absorver tudo de ambos os campos, senão, de muitos outros também.
¿Qué importancia crees que tiene el cuerpo dentro de la performance? ¿Puedes argumentarlo?
Importância central. Como disse acima, considero o Corpo um dos elementos básicos (prefiro o termo particular de base) da performance art. É um dos elementos primários e esenciáis da performance. Junto com a ação e público faz parte do poder do artista da performance. Poder de agir, que é materializado através do Corpo. O Corpo não é só material e meio para a performance art, mas é o poder de agir nele e através dele.
¿Qué importancia crees que tiene la presencia en vivo en la performance?
Uma grande importância. E tal questão abarca dois sentidos: temporal e espacial. Quanto ao tempo, a presença ao vivo é a configuração do tempo presente da ação. Não se age no passado, nem no futuro. A ação do passado é uma ação perdida e que pode ser lembrada, registrada, mas nunca vivida. A ação possui uma direção ao futuro, talvez expressa na intenção dessa ação, mas ela sempre se concretiza no presente. A ação no presente é aquela realmente vivida. Quanto ao espaço, ele engloba, também, a questão de vivência da performance art. O ‘ao vivo’ da performance art é a conexão espacial da ação em seu momento presente e na configuração espacial, com o espaço do público, sejam das pessoas ou do espaço físico. Presenciar uma performance já é fazer parte dela. empregada), outros elementos serão midiatizados e substituídos pelas possibilidades que a tecnologia pode oferecer. Há, claro, outras possibilidades relacionadas a performance art, como o video ou a transmissão via internet. Porém, em casos como esses, o tempo e o espaço serão mediatizados, portanto, serão substituídos ou somados pelos meios tecnológicos que são os mediatizadores. Por isso, considero uma coisa a performance art, outra a video-performance. Da mesma forma a performance transmitida via web, que por mais que seja em um tempo ‘presente’ (sabemos que há um atraso temporal conforme a tecnologia
¿Consideras fundamental que sea el propio artista el que ejecute la obra que ha creado? ¿En caso de respuesta negativa, puedes argumentarlo?
Sim, para mim, sim. E essa é uma questão bastante pessoal. Não considero que um artista fazer a performance ou colocar outros para fazer a performance seja algo que caracterize ou descaracterize uma performance art. De qualquer modo um conceito ou idéia de corpo, ação e demais elementos estarão em jogo. O que me incomoda é a transferência da responsabilidade e riscos da ação e performance a outro, isto, conforme o trabalho, se caracteriza um uso do outro. Para mim, isso é uma questão ética a ser refletida
¿Qué papel otorgas al público dentro de la performance?
Como citei anteriormente, considero o público como um dos elementos básicos da performance art. Sem público, não há performance. Em casos como a video-performance, há público pois ele é midiatizado e substituído pela própria linguagem do video. Mas, voltando a questão do público. Ação não é simplesmente ação, mas interação. Não somos somente agentes, somos também pacientes, e agir é agir com os outros. Ou seja, agir é intervir no mundo coletivo, em que agimos e sofremos ações, onde toda essa rede se constrói e se comunica. O artista não necessita pegar na mão do público para fazê-lo interagir na performance, a própria presença perante a ação já é interação, a vivência da ação do artista, no momento presente, já é essa conexão de agir/interagir. Diferentemente da ação cotidiana, do dia-a-dia, na performance, pela potencialização que o artista dá a ação, permite uma interação com o público, seja de curiosidade, de interesse de compreensão, de saber o que o artista tá fazendo ou mesmo de ignorar tal ação. Perante uma performance, é exigido do público, do mesmo modo, uma ação, uma tomada de decisão perante o que acontece. A ação é pública. Reconhecemos e compreendemos ações no dia-a-dia, sabemos quando estão nos chamando somente com um movimento de dedo, há uma linguagem da ação, há um conhecimento prático, que se aprende, que se ensina e que é público. E mais, para mim o público não é somente das pessoas, é também do espaço público, das instituições públicas, de tudo que rege a publicidade na sociedade em que vivemos.
¿Qué cambios crees que el uso de las nuevas tecnologías (vídeo, internet, etc) han producido en la manera de hacer y entender la performance actual?
Como comentei anteriormente, as novas tecnologias somam suas linguagens a da performance art. É sempre uma adição. No quesito registro, as novas tecnologias ajudam no estudo da performance art dando a possibilidade de se ver a ação se desenvolver, no entanto, não substituem o ‘estar presente’ de uma performance. No quesito video-performance, web-performance, etc. As novas tecnologias unem-se a linguagem da performance art, ampliando a possibilidade de exploração conforme a proposta de cada trabalho, i.e., uma video-performance midiatiza o espaço, tempo e público através da linguagem do video, o ponto de vista do trabalho torna-se um, aquele que o video captou, a tridimensionalidade do presencial torna-se bidimensional, o tempo é capturado, recortado do tempo vivido e proposto como tempo midiatizado, como o tempo do vídeo. O mesmo ocorre com a performance via internet, há toda uma estrutura de captação, codificação, transmissão, recodificação que altera tempo e espaço vivido e mesmo a relação com o público.
¿Qué importancia concedes al sentido dentro de una obra de performance?
Toda ação possui um sentido. Na performance, toda ação empreendida pelo artista é significante, é imbutida de sentido. Na performance art não há ações sem sentido, pois cada ação já está relacionada a intenção do artista, cada ação já foi escolhida no repertório do campo prático e transposto aos demais campos que a performance engendra: ético, estético, moral, psicológico, social, etc. Porém, não é, necessariamente, o sentido proposto do artista que dará a leitura única da performance. Como falei anteriormente, a ação é de domínio público, desde o próprio agir ao compreendimento de uma ação. Se há uma intenção e um sentido na ação proposta pelo artista, não necessariamente o será compreendido assim pelo público, pelas outras pessoas, pelas instituições, etc. O sentido mesmo da performance se faz na interação com os outros.
Dentro de la práctica artística actual, ¿consideras que la performance tiene un discurso unificado?
Sim. Pensando a questão do discurso como linguagem voltada a comunicação. A performance está no campo da comunicação (e nesse sentido adiciono tudo o que já falei sobre a interação). O discurso não se faz nas relações formais ou no interior de cada trabalho. Mas o discurso se contrói no que há de similar e diferente em todos os trabalhos em performance art, em suas relações, confrontos, que os permite reconhecer algo como performance art. Há um discurso unificado porque há uma linguagem da performance art.
¿Consideras positiva la preparación y el ensayo previo de una performance? ¿Qué papel juega la improvisación en vivo en una performance?
Sim. Eu acredito que cada performance exige uma dada situação do artista. Enquanto algumas permitem que o artista a execute a performance sem preparo algum, outras pedem uma preparação e até ensaio. Tudo depende da proposta individual de cada trabalho. A improvisação ao vivo de uma performance é uma exigência dela mesmo. Porque, por mais que se ensaie uma performance, nunca será como a apresentação ao vivo. E mesmo, a repetição de cada performance, na verdade, será uma nova performance. Porque o tempo muda, é outro. O espaço pode ser o mesmo, mas o tempo muda e demais fatores também mudam, como o público. A questão é que a performance no momento de sua execução está diretamente ligada no campo prático, se faz no campo prático e está em jogo com as leis e possibilidades deste campo. O artista da performance tem que estar preparado para improvisar, porque nunca ele conseguirá predizer como será exatamente uma performance. Ele pode ter uma idéia, uma guia da execução da performance, mas no momento em que está acontecendo o trabalho, tudo pode acontecer. E para cada coisa que acontecer (e que o artista não imaginava) ele deverá improvisar para que o trabalho ocorra. E, do mesmo modo, tudo que acontecer, imaginado antes ou não, será absorvido pela performance, como parte dela.
¿Estás de acuerdo con la afirmación: “La performance se ha convertido en un género artístico con su propio lenguaje”? ¿Puedes argumentarlo? Si has respondido afirmativamente, define ese lenguaje.
Sim. E acredito que até tenha esclarecido muitas coisas no decorrer deste questionário. Mas vamos ver se consigo retomar algumas. Considero a performance um gênero, sim. Porque ela ultrapassou todos os paradigmas e formatos dos gêneros artísticos que historicamente se relaciona, seja artes visuais, dança, teatro, música, etc. A performance art permite englobar todas estas anteriormente citadas, assim como permite englobar as mais diversas questões e coisas do mundo vivido, também. Ela é um campo experimental tanto na arte, quanto na vida. E a linguagem, básica, primitiva, em que se constrói, ao meu ver, é o da ação. Mas ação em um sentido amplo, que engloba toda sua rede conceitual como intenção, motivo, agente, circunstâncias, tempo, momento, etc. É a ação ela mesma, não uma representação da ação, não somente o movimento, é o agir produzido por alguém, por alguém que o faz e não simplesmente por algo que acontece. As mais diversas possibilidades de performance estão relacionadas às mais diversas possibilidades de ações que podem ser produzidas e combinadas pelos seres humanos no mundo. Isso permite que exista as mais diversas performances, com as mais diversas intenções, produções, situações criadas e, assim mesmo, permite-se dizer que há uma linguagem (e uma linguagem comunicativa) que possibilita o reconhecimento e a compreensão como performance art, assim como a possibilidade de interação por parte do público, que de forma alguma necessita ser um ‘público instruído’. E quando dou ênfase a ação, não estou, de modo algum, menos prezando os demais elementos básicos que citei, principalmente o corpo. Estão todos interligados pela ação, que trabalha em rede. O agente age através do seu corpo, a sua ação ocorre em um determinado tempo e espaço e interage com o público. Está tudo ligado, está tudo intersignificado. E do mesmo modo permite que cada artista dê a sua ênfase no seu trabalho, seja questões sobre o corpo, sobre o tempo, sobre o contexto social e político, sobre o psicológico. A ação está em um campo prévio, quase primitivo, onde se pode erege questões éticas, morais, jurídicas, políticas, sociais, psicológicas e estéticas. E, para mim, é nesse campo prévio que se articula e se move a performance art."
Texto retirado de:
- http://www.fernandoribeiro.art.br/index.php/br/outros/artigos