sexta-feira, 29 de agosto de 2014

¿Qué entiendes por performance hoy?

"Este foi um questionário enviado no ano de 2009 por um instituto espanhol. Considerei um questionário interessante que levanta questões pontuais sobre a performance art e que considero ser revisitado sempre como meio de reflexão sobre a performance art. Publico aqui as questões e minhas respostas submetidas, como meio de expor por onde caminham minhas pesquisas teóricas sobre performance art.
Decidi manter as perguntas em espanhol com as minhas respostas em português, pois foi assim que eu enviei. Do mesmo modo que publico a versão em inglês das questões e de minhas respostas.

En los últimos tiempos, diferentes artistas provenientes de las artes escénicas, danza y teatro, han tomado para sí el término performance para designar un tipo de trabajo que se sale de las normas clásicas de sus disciplinas.
Este tipo de trabajo, que contiene elementos performáticos, nos ha llevado a plantearnos la cuestión, no tanto de si es performance o no, como la necesidad de repensar qué consideramos como performance hoy desde el campo de las artes performáticas, dada la compleja mutabilidad que el término ha adquirido en años recientes.
Dentro del programa de actividades 2009 de Club8, con el soporte del Departament de Cultura i Mitjans de Comunicació de la Generalitat de Catalunya, queremos plantear esta pequeña investigación sobre qué se considera como performance por parte de un grupo de especialistas en la materia para ver hacia donde va este arte.
Por ello, pedimos tu colaboración en este cuestionario:
Nombre/nacionalidad/edad
Fernando Ribeiro, Curitiba - Brasil, 30 anos
¿Cuánto tiempo hace que estás relacionado con el mundo de la performance? ¿Qué tipo de labor tienes: comisario, crítico, performer, docente,...?
9 anos. Performer.
¿Qué entiendes por performance hoy?
Performance é a arte da ação por excelência. É a arte se faz através da ação no campo prático, no tempo presente. Não é uma representação da ação, mas é ela mesma. Opera todas as quesotes relacionadas a ação, questões de descrição, compreensão, interação, ética, moral, quesotes da vida que nos faz agir no mundo.
¿Qué crees que no es performance?
Creio que tudo em que a ação não possui um papel significante, por mais que ela possa estar presente.
¿Qué elementos crees que conforman la performance?
Elementos básicos: Corpo, Ação, Público, Tempo e Espaço. Considero esses os elementos primários para uma performance. Cada uma com suas devidas configurações, podendo cada trabalho de performance dar maior ênfase a um ou a outro elemento, no entanto, sempre estão presentes. Os três primeiros elementos (Corpo, acão e público) considero como elementos diretos do poder de criação do Performer. Os dois últimos elementos (tempo e espaço) considero como indiretos, ou seja, podem não estar no poder direto da ação do artista, mas podem ser explorados por este, através dos primeiros elementos. De qualquer forma, não há performance sem tempo e espaço.
¿Qué es performático?
Tudo relacionado a ação é o campo da performance art. O mundo da vida é o campo da performance art. Cada artista faz o recorte nesse longo horizonte para que criar o seu trabalho em performance art. Isso é algo que possibilite tão variadas performances. É a possibilidade de experimentação da performance art está diretamente ligado a sua possibilidade de engendrar, de manipular, de explorar o campo prático, sempre cruzando os limites entre arte e vida. A performance art está nesse limite e tem o poder de absorver tudo de ambos os campos, senão, de muitos outros também.
¿Qué importancia crees que tiene el cuerpo dentro de la performance? ¿Puedes argumentarlo?
Importância central. Como disse acima, considero o Corpo um dos elementos básicos (prefiro o termo particular de base) da performance art. É um dos elementos primários e esenciáis da performance. Junto com a ação e público faz parte do poder do artista da performance. Poder de agir, que é materializado através do Corpo. O Corpo não é só material e meio para a performance art, mas é o poder de agir nele e através dele.
¿Qué importancia crees que tiene la presencia en vivo en la performance?
Uma grande importância. E tal questão abarca dois sentidos: temporal e espacial. Quanto ao tempo, a presença ao vivo é a configuração do tempo presente da ação. Não se age no passado, nem no futuro. A ação do passado é uma ação perdida e que pode ser lembrada, registrada, mas nunca vivida. A ação possui uma direção ao futuro, talvez expressa na intenção dessa ação, mas ela sempre se concretiza no presente. A ação no presente é aquela realmente vivida. Quanto ao espaço, ele engloba, também, a questão de vivência da performance art. O ‘ao vivo’ da performance art é a conexão espacial da ação em seu momento presente e na configuração espacial, com o espaço do público, sejam das pessoas ou do espaço físico. Presenciar uma performance já é fazer parte dela. empregada), outros elementos serão midiatizados e substituídos pelas possibilidades que a tecnologia pode oferecer. Há, claro, outras possibilidades relacionadas a performance art, como o video ou a transmissão via internet. Porém, em casos como esses, o tempo e o espaço serão mediatizados, portanto, serão substituídos ou somados pelos meios tecnológicos que são os mediatizadores. Por isso, considero uma coisa a performance art, outra a video-performance. Da mesma forma a performance transmitida via web, que por mais que seja em um tempo ‘presente’ (sabemos que há um atraso temporal conforme a tecnologia
¿Consideras fundamental que sea el propio artista el que ejecute la obra que ha creado? ¿En caso de respuesta negativa, puedes argumentarlo?
Sim, para mim, sim. E essa é uma questão bastante pessoal. Não considero que um artista fazer a performance ou colocar outros para fazer a performance seja algo que caracterize ou descaracterize uma performance art. De qualquer modo um conceito ou idéia de corpo, ação e demais elementos estarão em jogo. O que me incomoda é a transferência da responsabilidade e riscos da ação e performance a outro, isto, conforme o trabalho, se caracteriza um uso do outro. Para mim, isso é uma questão ética a ser refletida
¿Qué papel otorgas al público dentro de la performance?
Como citei anteriormente, considero o público como um dos elementos básicos da performance art. Sem público, não há performance. Em casos como a video-performance, há público pois ele é midiatizado e substituído pela própria linguagem do video. Mas, voltando a questão do público. Ação não é simplesmente ação, mas interação. Não somos somente agentes, somos também pacientes, e agir é agir com os outros. Ou seja, agir é intervir no mundo coletivo, em que agimos e sofremos ações, onde toda essa rede se constrói e se comunica. O artista não necessita pegar na mão do público para fazê-lo interagir na performance, a própria presença perante a ação já é interação, a vivência da ação do artista, no momento presente, já é essa conexão de agir/interagir. Diferentemente da ação cotidiana, do dia-a-dia, na performance, pela potencialização que o artista dá a ação, permite uma interação com o público, seja de curiosidade, de interesse de compreensão, de saber o que o artista tá fazendo ou mesmo de ignorar tal ação. Perante uma performance, é exigido do público, do mesmo modo, uma ação, uma tomada de decisão perante o que acontece. A ação é  pública. Reconhecemos e compreendemos ações no dia-a-dia, sabemos quando estão nos chamando somente com um movimento de dedo, há uma linguagem da ação, há um conhecimento prático, que se aprende, que se ensina e que é público. E mais, para mim o público não é somente das pessoas, é também do espaço público, das instituições públicas, de tudo que rege a publicidade na sociedade em que vivemos.
¿Qué cambios crees que el uso de las nuevas tecnologías (vídeo, internet, etc) han producido en la manera de hacer y entender la performance actual?
Como comentei anteriormente, as novas tecnologias somam suas linguagens a da performance art. É sempre uma adição. No quesito registro, as novas tecnologias ajudam no estudo da performance art dando a possibilidade de se ver a ação se desenvolver, no entanto, não substituem o ‘estar presente’ de uma performance. No quesito video-performance, web-performance, etc. As novas tecnologias unem-se a linguagem da performance art, ampliando a possibilidade de exploração conforme a proposta de cada trabalho, i.e., uma video-performance midiatiza o espaço, tempo e público através da linguagem do video, o ponto de vista do trabalho torna-se um, aquele que o video captou, a tridimensionalidade do presencial torna-se bidimensional, o tempo é capturado, recortado do tempo vivido e proposto como tempo midiatizado, como o tempo do vídeo. O mesmo ocorre com a performance via internet, há toda uma estrutura de captação, codificação, transmissão, recodificação que altera tempo e espaço vivido e mesmo a relação com o público.
¿Qué importancia concedes al sentido dentro de una obra de performance?
Toda ação possui um sentido. Na performance, toda ação empreendida pelo artista é significante, é imbutida de sentido. Na performance art não há ações sem sentido, pois cada ação já está relacionada a intenção do artista, cada ação já foi escolhida no repertório do campo prático e transposto aos demais campos que a performance engendra: ético, estético, moral, psicológico, social, etc. Porém, não é, necessariamente, o sentido proposto do artista que dará a leitura única da performance. Como falei anteriormente, a ação é de domínio público, desde o próprio agir ao compreendimento de uma ação. Se há uma intenção e um sentido na ação proposta pelo artista, não necessariamente o será compreendido assim pelo público, pelas outras pessoas, pelas instituições, etc. O sentido mesmo da performance se faz na interação com os outros.
Dentro de la práctica artística actual, ¿consideras que la performance tiene un discurso unificado?
Sim. Pensando a questão do discurso como linguagem voltada a comunicação. A performance está no campo da comunicação (e nesse sentido adiciono tudo o que já falei sobre a interação). O discurso não se faz nas relações formais ou no interior de cada trabalho. Mas o discurso se contrói  no que há de similar e diferente em todos os trabalhos em performance art, em suas relações, confrontos, que os permite reconhecer algo como performance art. Há um discurso unificado porque há uma linguagem da performance art.
¿Consideras positiva la preparación y el ensayo previo de una performance? ¿Qué papel juega la improvisación en vivo en una performance?
Sim. Eu acredito que cada performance exige uma dada situação do artista. Enquanto algumas permitem que o artista a execute a performance sem preparo algum, outras pedem uma preparação e até ensaio. Tudo depende da proposta individual de cada trabalho. A improvisação ao vivo de uma performance é uma exigência dela mesmo. Porque, por mais que se ensaie uma performance, nunca será como a apresentação ao vivo. E mesmo, a repetição de cada performance, na verdade, será uma nova performance. Porque o tempo muda, é outro. O espaço pode ser o mesmo, mas o tempo muda e demais fatores também mudam, como o público. A questão é que a performance no momento de sua execução está diretamente ligada no campo prático, se faz no campo prático e está em jogo com as leis e possibilidades deste campo. O artista da performance tem que estar preparado para improvisar, porque nunca ele conseguirá predizer como será exatamente uma performance. Ele pode ter uma idéia, uma guia da execução da performance, mas no momento em que está acontecendo o trabalho, tudo pode acontecer. E para cada coisa que acontecer (e que o artista não imaginava) ele deverá improvisar para que o trabalho ocorra. E, do mesmo modo, tudo que acontecer, imaginado antes ou não, será absorvido pela performance, como parte dela.
¿Estás de acuerdo con la afirmación: “La performance se ha convertido en un género artístico con su propio lenguaje”? ¿Puedes argumentarlo? Si has respondido afirmativamente, define ese lenguaje.
Sim. E acredito que até tenha esclarecido muitas coisas no decorrer deste questionário. Mas vamos ver se consigo retomar algumas. Considero a performance um gênero, sim. Porque ela ultrapassou todos os paradigmas e formatos dos gêneros artísticos que historicamente se relaciona, seja artes visuais, dança, teatro, música, etc. A performance art permite englobar todas estas anteriormente citadas, assim como permite englobar as mais diversas questões e coisas do mundo vivido, também. Ela é um campo experimental tanto na arte, quanto na vida. E a linguagem, básica, primitiva, em que se constrói, ao meu ver, é o da ação. Mas ação em um sentido amplo, que engloba toda sua rede conceitual como intenção, motivo, agente, circunstâncias, tempo, momento, etc. É a ação ela mesma, não uma representação da ação, não somente o movimento, é o agir produzido por alguém, por alguém que o faz e não simplesmente por algo que acontece. As mais diversas possibilidades de performance estão relacionadas às mais diversas possibilidades de ações que podem ser produzidas e combinadas pelos seres humanos no mundo. Isso permite que exista as mais diversas performances, com as mais diversas intenções, produções, situações criadas e, assim mesmo, permite-se dizer que há uma linguagem (e uma linguagem comunicativa) que possibilita o reconhecimento e a compreensão como performance art, assim como a possibilidade de interação por parte do público, que de forma alguma necessita ser um ‘público instruído’. E quando dou ênfase a ação, não estou, de modo algum, menos prezando os demais elementos básicos que citei, principalmente o corpo. Estão todos interligados pela ação, que trabalha em rede. O agente age através do seu corpo, a sua ação ocorre em um determinado tempo e espaço e interage com o público. Está tudo ligado, está tudo intersignificado. E do mesmo modo permite que cada artista dê a sua ênfase no seu trabalho, seja questões sobre o corpo, sobre o tempo, sobre o contexto social e político, sobre o psicológico. A ação está em um campo prévio, quase primitivo, onde se pode erege questões éticas, morais, jurídicas, políticas, sociais, psicológicas e estéticas. E, para mim, é nesse campo prévio que se articula e se move a performance art."
Texto retirado de: 
- http://www.fernandoribeiro.art.br/index.php/br/outros/artigos

Entrevista com Fernando Ribeiro

Entrevista sobre performance, narrativa transmedia e tríplice mímesis com Fernando Ribeiro
por Raquel Gomes de Oliveira – Pós-doutoranda em Comunicação e Política - UFBA

1. Como surgiu a vontade de criar performances?

Praticamente a partir dos estudos, dos livros. Eu estava no primeiro ano da faculdade, em 1999 e a minha professora de desenho, a artista Carla Vendrami, orientou-me a pesquisar mais sobre o artista Jim Dine. Aí que em minhas pesquisas, acabei comprando um livro sobre sua produção entre os anos de 59-69. E foi ao abrir esse livro que vi pela primeira vez fotos dos happenings de Dine. Ao perguntar para Carla o que era aquilo, ela me respondeu: é performance art. A partir daí, paralelamente a faculdade (que não possuía um matéria específica que abordasse o assunto), comecei meus estudos sobre performance art. Fiquei praticamente 2 anos comprando livros, lendo, estudando, buscando informações e, ao mesmo tempo, organizando palestras sobre a história da performance, transmitindo o que eu aprendia sobre esses estudos. Na época, ainda não tinha muitas manifestações e artistas trabalhando com performance em Curitiba. Eu precisava buscar nos livros. Então, foi após 2 anos de estudos que me veio a necessidade de fazer performance. Eu era um artista, tinha me desenvolvido teoricamente na área mas precisava fazer... e aí criei a performance Eu e o Público, que apresentei pela primeira vez em 2001.

2. Em que medida sua formação acadêmica (bacharel em Artes Visuais e especialista em Estética e Filosofia da Arte) influencia e contribue para seu trabalho?

Primeiramente, são duas formações em dois momentos específicos da minha vida, do meu envolvimento com o meio acadêmico e da minha produção e estudos teóricos sobre a performance art.
A primeira, como comentei acima, foi essencial para o meu contato e envolvimento com esse meio artístico. Foi na faculdade de Artes Visuais que comecei meus estudos e, por mais que minha pesquisa tenha sido tocada paralelamente às obrigações da academia, tive total apoio dela, inclusive podendo organizar palestras dentro de sua programação. Ali a semente não só foi plantada como germinou. Ali comecei para não parar mais. Terminei a faculdade com o meu trabalho de conclusão de curso na linha de pesquisa em Poéticas Visuais, ou seja, estudando o meu próprio processo de criação. Neste trabalho, de 2002, já expressava o quão importante era a performance para mim, como artista.
Já a Especialização em Estética e Filosofia da Arte fez parte de um outro momento de minha vida, digamos que um momento mais maduro. Eu comecei em 2008 e finalizei em 2010. Já na faculdade eu tinha interesse no estudo da filosofia para se pensar/estudar teoricamente a arte. Eu sentia necessidade de um discurso mais rigoroso que a filosofia exigia. E ao entrar na especialização, tinha a intenção de levar a questão da performance art para lá. Mas ao mesmo tempo estava receoso se a academia de filosofia iria se interessar. Tive o grande prazer de conhecer o filósofo e professor da Universidade Federal do Paraná Paulo Vieira Neto, que me orientou no meu trabalho e "comprou" a idéia de levar a performance art para lá. As questões que levei para serem estudadas na Especialização eram questões antigas, que vinham pelo menos desde 2003 e que eu estava sempre a refletir. E foi na Especialização que entrei em contato com Paul Ricoeur, que hoje é o principal filósofo que estudo, e que com a sua obra encontrei na filosofia um modo de abordar e explorar as questões abertas sobre a performance. Hoje, o estudo da obra de Ricoeur influencia não somente meus estudos teóricos e também práticos, com ele pude aprofundar, inclusive, na reflexão de minha própria obra, do meu próprio fazer.

p.ARTE


Em maio de 2012, os artistas Fernando Ribeiro e Tissa Valverde iniciaram o p.ARTE – Mostra de Performance Art, uma noite mensal de performance em Curitiba. Amigos de longa data e com a performance art como campo comum, a idéia da parceria para organizar um evento era antiga, mas foi a partir do ano de 2010 que as conversas começaram a tomar corpo e se cristalizaram no que é a p.ARTE hoje.
p.ARTE é um espaço onde os artistas podem apresentar suas obras de performance art, onde o público pode ver  performance art, é um espaço para discussão sobre a performance art, ou seja, é um espaço da performance art.

A p.ARTE acontece no espaço multidisciplinar chamado Bicicletaria Cultural e possui o intuito de fomentar a arte da performance e levantar referências ao público curitibano dos artistas que trabalham com performance art, tanto locais quanto internacionais. São, tradicionalmente, 02 (duas) apresentações mensais de artistas convidados pelos organizadores/curadores Fernando Ribeiro e Tissa Valverde.
Idealizada pelos próprios artistas da performance art, essa mostra é resultado das inquietações de convergir interesses, referências e produção artística localmente.

Textos retirados de: 
http://www.fernandoribeiro.art.br/
http://www.p-arte.org/

Fernando Ribeiro

Quem é
Artista da performance e curador, vive e trabalha em Curitiba, Brasil. Bacharel em Artes Visuais pela Universidade Tuiuti do Paraná – UTP – 2002. Especialista em Estética e Filosofia da Arte pela Universidade Federal do Paraná – UFPR – 2010. Além da produção em performance art, organiza o evento p.ARTE – Mostra de Performance Art. Curador convidado da Bienal Internacional de Curitiba, 2013.
Alguns trabalhos
  • POTÊNCIA - 2013

Em 5 maio de 2013, Fernando Ribeiro apresentou a performance Potência dentro do programa de Danças Performativas do Museu Oscar Niemeyer. Esta performance foi criada e executada pela primeira vez em 2004 e possui uma duração entre 2 a 3 horas. 
Ribeiro, com o corpo coberto de cabos de som e ligados a uma potência, começa a desenrolar os cabos para que consiga chegar às caixas de som, no outro lado da sala. Ao terminar a performance, conectando os cabos às caixas, o público tem acesso ao som conectado a potência.
  • DISTENSÃO - 2010

A performance Distensão foi apresentada no evento Ato Performático no dia 06 de maio de 2010, no Sesc da Esquina. O Ato Performático se configurou como o primeiro evento em Curitiba direcionado à performance, em seu sentido lato. Durante uma semana houve palestras, bate-papos, discussões além de apresentações que englobaram áreas como artes visuais, música e teatro.
Fernando Ribeiro contribuiu com o evento com sua performance inédita Distensão. O espaço previamente escolhido para a performance foi um lance da escadaria do Sesc da Esquina, Curitiba/PR. Pela parede desse espaço, foram distribuídos 100 ganchos. Pendurados a esses ganchos haviam 2 cordas de 50m cada, tendo em cada ponta um nó-de-forca e pelo seu corpo 100 ganchos de metal. Ao centro desse espaço, a frente dos ganchos, havia uma bacia amarela contendo graxa azul.
A performance se inicia com o artista chegando ao espaço, ele tira seu tênis e meia e descalço direciona-se a bacia com graxa azul. De costas para a parede e de frente para o público ele prende cada nó-de-forca em seus braços e pernas, conectando cada corda a um de seus lados. Ele invade com seus pés a bacia, inundando-os na graxa, pega com cada mão um gancho preso a cada respectiva corda e movimenta-se em direção aos ganchos das paredes, conectando o gancho da corda a da parede.
A partir desse início ele começa a movimentar de um lado a outro, prendendo os ganchos ligados as cordas nos ganchos da parede. Nesse mesmo movimento, as cordas presas as suas pernas e braços, se enrolam ao mesmo tempo que se definem como rastro dos movimentos do artista. Seu pé cheio de graxa diminui as possibilidades de movimento.
  • ESFORÇO - 2011

Quais são os sons de nossos esforços? Como potencializar esses sons? Como o som de nossas ações se misturam com os demais sons que produzimos? São essas as questões que moveramm Fernando Ribeiro na sua performance Esforço.
Este trabalho foi apresentado no Cafofo do Coletivo Couve-Flor, dentro da programação Ocupações Performáticas – curadoria de Michelle Moura. Utilizando do seu Capacete para uma Mesma Visão, Ribeiro não somente executou sua ação como compartilhou sua visão externa ao capacete com o público local e com quem acessou seu website no momento.
  • DATILÓGRAFO - 2009

A performance O Datilógrafo fez parte do evento Jornalismo e Literatura, promovido pelo Sesc da Esquina, Curitiba/PR. Durante os dias 7, 8 e 9 de outubro de 2009, no horário do almoço e no fim da tarde, Fernando Ribeiro, portando uma máquina de datilografar portátil, ocupava algum espaço do Sesc da Esquina e começava a escrever.
Em cada lugar que parava escrevia uma página. Intitulava o dia e a numeração da página. Logo após escrita, colocava-a dentro de um pacote plástico e fixava no lugar em que escreveu. Os textos tratavam desde suas impressões do momento, observações que aconteciam até reflexões sobre a performance em si.
A performance alude as mais diversas questões, sejam biográficas ou não. Quanto a primeira, a datilografia possui um papel importante na vida do artista. Fora com 12 anos que cursou seu primeiro curso de datilografia. Logo começou a trabalhar como estagiário da escola, o que o possibilitou ampliar os cursos e o domínio da técnica. Para o artista a datilografia sempre teve um papel especial herdado de seu pai, que considerava o domínio de tal técnica como um primeiro passo para se conseguir um bom emprego.
Quanto a questões não-biográficas, a performance alude mesmo ao desenvolvimento tecnológico relacionado a escrita. Fernando Ribeiro colocava a máquina de datilografar no seu colo para escrever, como hoje é geralmente visto no uso de computadores portáteis. Quanto a escrita mesma, ela ganhava um corpo fenomenológico a cada letra escrita. Das palavras, dos erros, dos acertos, acentuações, pontuações etc, tudo que o artista escrevia naquele momento era impresso no papel. A própria correção ou anulação de uma escrita errada ou de qualquer outro erro era feito através da sobreposição de letras e hífens. A preocupação era de inscrever aquele momento, aqueles pensamentos e observações que corriam entre o toque dos 10 dedos sobre as teclas, olhando ou não para o teclado.
Sobre a própria escrita, a performance chamava a atenção do público por presenciar o uso de uma máquina que hoje caiu em desuso devido ao advento do computador. A relação do artista com o público era de diálogo direto, seja entre uma página ou outra, seja parando de datilografar para ouvir as estórias que cada um tinha em relação com a máquina ou mesmo com a prática. As pessoas mais velhas geralmente contavam estórias relacionadas, máquinas de datilografar que já tiveram ou que já trabalharam, as pessoas mais novas, principalmente crianças, tinham interesse no que era essa máquina, como ela funcionava e, por fim, no que o artista estava escrevendo.

Referência:
- http://www.fernandoribeiro.art.br/

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Performance no Memorial

Sobre o Memorial Minas Gerais Vale 
"Caracterizado como MUSEU DE EXPERIÊNCIA,  o Memorial Minas Gerais Vale  traz a alma e as tradições mineiras contadas de forma  original e interativa. Cenários reais e virtuais se misturam para criar experiências e sensações que levam os visitantes do século XVIII ao século XXI.
Longe de dar visibilidade apenas a um recorte histórico, o Memorial coloca em contato direto presente e passado promovendo, com esse gesto, outras formas de aproximação do público com as questões que atravessam nosso tempo.
Aberto em 2010, o prédio que abriga o Memorial Vale era a sede da Secretaria do Estado da Fazenda de Minas Gerais. A edificação histórica datada de 1897 é o local onde foi lançada a pedra fundamental da cidade de Belo Horizonte. A construção é tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA/MG.
Criado e mantido pela Vale por meio de sua Fundação, o Memorial integra o Circuito Cultural Praça da Liberdade."
Programa Performance no Memorial - Circuito Cultural Liberdade
  • "Ficção" - Carolina Botura (21 de Junho de 2014)
 

De acordo com Carolina, “Ficção” aborda a ideia de que não existe uma verdade absoluta, tudo é parte de uma realidade, fragmentada, parcial e única. A performance surgiu através dos questionamentos da própria artista, que convida o público durante a apresentação, através de uma série de ações surpresas a serem desenvolvidas dentro e fora do Memorial Vale, a refletir também sobre essas questões.
 
“O trabalho parte da ideia de que tudo é uma soma de visões, somos ficções de nós mesmos. Nós escolhemos o que nós contamos e também o que não contamos e isso nos revela. Cada um de nós se coloca na vida como autor de um pedaço de uma história e é sobre isso que a performance discute, o que é real e o que é ficção?” explica Carolina. 


  • "Eu prometo!" - Fernando Ribeiro (23 de Agosto de 2014)

Na performance Eu prometo!, Fernando Ribeiro traz uma reflexão sobre o prometer. Mais do que a promessa em si, o ato de prometer.
Munido de uma dúzia de rosas, um balde de água fervida, um balde de gelo, a sua reflexão sobre o prometer mistura-se com as suas ações durante a performance. Da intenção de se produzir uma água de rosas ao prometer para o público presente.
  • "Endecha" - Fernanda Branco Polse (19 de Julho de 2014) 

Se te aproximas, devoro-te.
Se te afastas, morro.
Pra ti existo.


  • "Existência" -  Fernando Audmouc (16 de Março de 2013)


A performance aborda a existência sem a preocupação com o porvir, vivendo o presente e o diálogo com o mundo em seu próprio tempo.





Referências:

http://www.jornaltudobh.com.br/tudo-mais/memorial-minas-gerais-recebe-performance-de-carolina-botura/
http://www.memorialvale.com.br 
- http://circuitoculturalliberdade.com.br/plus/modulos/listas/index.php?tac=agendaver&id=740&layout=programacao
- http://idanca.net/naomi-assumpcao-e-fernando-audmouc-realizam-performance-no-memorial-minas-gerais-vale/






segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Micheline Torres

Texto de: http://andreacarvalhostark.blogspot.com.br/2009/09/micheline-torres-alem-da-carne.html

Micheline Torres nasceu no ano de 1974, em uma cidade do interior da Paraíba chamada Sertãozinho, mas foi criada no subúrbio carioca do Méier. Estudou Filosofia e Artes Cênicas na universidade mas formou-se em Balé e em Dança Contemporânea. Mora hoje em Copacabana mas raramente a vemos ali na orla da praia mais famosa da cidade do Rio de Janeiro.

Micheline trabalha como bailarina de dança moderna no Brasil e no exterior. Copacabana só a vê por alguns meses. Já esteve em Portugal, França, Inglaterra, Canadá, Suiça, Alemanha. 

É meu trabalho. É o que coloco no mundo. É (também) como procuro sobreviver economicamente vivendo no Brasil em 2007. E é quase impossível, mas acontece.

Em 2008 vai passar três meses trabalhando em Paris. Foi uma das oito artistas do mundo a ser contemplada com uma bolsa pelo Centre International des Récollets.Seu trabalho se desenvolve através de pesquisas sobre dança, performance e artes plásticas. Sua carreira contraria a tão difundida idéia de que não é possível viver de dança. 


Ser performer no Brasil, ou trabalhar com dança contemporânea, artes plásticas, intervenção urbana, ou crítica de arte, é ser, segundo a expressão de Ricardo Basbaum "artista e etc". É construir trabalhos colaborativos, é atuar em várias esferas do fazer artístico, é ser curioso e, sobretudo, MUITO INSISTENTE! Ser "artista e etc" no Brasil é pensar política cultural. Também. E meter a mão na massa disforme de sua prática artística, seja qual for. Acredito nesses princípios como ações pra mim e pra nós, coisas que nos atravessam e seguem adiante.

Depois de 12 anos atuando na companhia de dança de Lia Rodrigues, Micheline Torres parte para seus próprios vôos. Iniciou, nesse ano de 2007, sua carreira como artista independente. O primeiro trabalho: a performance Carne.



E o frango sobre a mesa, porque é preciso se alimentar em vários sentidos. Meti a mão nele, me enfiei toda. E já estava saindo da Lia Rodrigues Companhia de Danças, depois de 12 anos de intensas colaborações, uma saída há muito tempo planejada e negociada e podia, enfim, me deter mais em meus projetos, porque é preciso se alimentar em vários lugares. Entrei no frango, na carne, e comecei a escorregar entre nossa materialidade, sexualidade, as trocas entre o que está dentro e o que está fora, as imagens que a carne provoca, a manipulação de meu corpo e de outro corpo, símbolos e rituais corporais. E daí saiu cuspe, corte, carne apertada, baba, garrote de exame de sangue, pasta e escova de dente, cirurgia facial, falta de peito, fio dental e mais o que cada um quiser ver no trabalho. Carne foi selecionado pelo Rumos Dança do Itaú Cultural de 2006, dessa vez como vídeo-dança. Virou uma performance que apresentei no Jardim da Delícias, Museu da República-RJ, Galeria Vermelho-SP, SPA das Artes-Recife e Multiplicidades-Vitória. Carne nasceu de uma proposta em um curso na Escola de Artes Visuais do Parque Lage: corpo presente/corpo ausente. Então, no início era o corpo. Parti da idéia de presença e ausência como vida e morte, e cheguei a corpo vivo, porém desanimado e corpo morto, porém animado. Cheguei ao frango. Era mais uma questão de me colocar diante de outro corpo e me perguntar: quem anima quem? Quem manipula quem? Quem entra dentro de quem? Sempre tive ojeriza a frango, desde que vi minha mãe limpando um na cozinha e tive a real noção de como ele era antes de chegar cheiroso à mesa...resolvi que tinha visto demais, que não mais o comeria. E foi ele quem apareceu enquanto eu caminhava no supermercado e pensava no corpo presente/corpo ausente, em morte e vida. Comprei o frango e lá estava eu e ele, na mesa de casa, frente a frente. Como entrar? 

Micheline estudou com os profissionais mais importantes da área de dança no Brasil e na Europa: Ruth Amarante e Bernd Marszan, Wuppertal Pina Bausch; Juliana Carneiro da Cunha, Théatrè du Soleil; Henriette Horn, Folkwang Hochschule Essen; Rui Horta, Portugal; Nienke Reehorst, Wim Vandekeybus; Helena Katz , PUC-SP; Massoud Sadpour, Workcenter of Jerry Grotowsky; Ed Kortland, Wuppertal Pina Bausch; Gary Stevens, Inglaterra; Alejandro Ahmed, Brasil; Cristophe Wavelet, França; Lia Rodrigues, Brasil.

Não, não acredito, como você perguntou, que um artista brasileiro tem que necessariamente ir para o exterior para "acontecer". Acredito no território aonde vivo e acredito no trânsito, nas trocas, nas parcerias. E sei que é mais provável que eu vá para Paris, com uma bolsa de estudos, do que eu vá para La Paz, na Bolívia, conhecer de perto o trabalho da Narda Alvarado, ou que eu vá outra vez para o Tocantins ou para Lima no Peru ou para Juazeiro do Norte. Mas eu desejo ter trabalho e dinheiro para ir pra África e pro México e pra Israel e pra Sertãozinho, cidade no interior da Paraíba, de onde eu vim. E ir não "levando meu trabalho e conhecimento",mas ir na mão dupla, no trânsito e na troca. Sobre território, trânsito e troca, ler Milton Santos, geógrafo brasileiro.

Em sua trajetória, mesmo sem ainda ter assumido uma carreira independente, Micheline apresentou trabalhos solos em festivais, como o consagrado Panorama RioArte de Dança. Em 2004, sua performance solo Erosão e Conservação do Solo foi selecionada pelo Rumos Dança do Itaú Cultural de São Paulo.

As idéias de Milton Santos me foram motor para um solo chamado "Erosão e Conservação do Solo". "Roubar" idéias de outros territórios, de outras linguagens, é minha prática comum. Roubo, furto ou plágio, creative commons, autoria compartilhada, atravessar e se deixar atravessar pelos outros, a estética do plágio de Tom Zé. Mas tenho família, pai, mãe, mestres, irmãos e primos distantes e aprecio minha rede de referências e que se propague muito além de mim, pra onde nem imagino. Nessa rede, disseram Péricles Cavalcanti e Arnaldo Antunes: "Antes de mim vieram os velhos/Os jovens vieram depois de mim/E estamos todos aqui/No meio do caminho dessa vida/Vinda antes de nós/E estamos todos a sós"

Escreveu na revista de arte O Ralador e performou com Tunga em alguns dos recentes trabalhos do consagrado artista plástico: Teresa, no Centro Cultural de São Paulo e em Laminadas Almas, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

É o que esse grupo de dança contemporânea também se pergunta: como atravessar e avançar fazendo dança contemporânea no Brasil? Como pensar não em prêmios, mas em estruturas fortes que atravessem os governos e a nossa geração? Como garantir programas de fomento à criação, circulação, pesquisa e formação de público?

Aqui no Rio de Janeiro, alguns membros da classe de dança contemporânea têm se reunido para discutir políticas culturais e soluções para o programa cultural do governo, em esfera estadual e federal. São muitos encontros, muitas vezes difíceis, cartas pra redigir, escolhas a tomar. Assinando uma carta, me defini com "artista independente". Acho amplo, mas me sinto bem tendo espaço pra me mover ali dentro. Menos dentro da definição "artista independente" e mais dentro da independência e da liberdade que eu senti quando olhei pro frango sobre a mesa e me perguntei: como atravessá-lo?

CARNE




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A relação entre dança e artes visuais, feminilidade e manipulação da carne são algumas das questões que aparecem em Carne, de Micheline Torres. Nesta performance, que começou a se desenhar em 2006 durante um curso no Parque Lage, a artista divide as atenções com um pedaço de frango congelado, inserido na pesquisa para responder as questões sobre corpo presente/corpo ausente e morte/vida levantadas por Micheline. 
Em Carne, Micheline discute questões de feminilidade, sexualidade e consumismo explorando limites do seu corpo em cena. Foi apresentado no Rio de Janeiro, São Paulo, Vitória, Recife, Salvador, Brasilia, Goiânia, Fortaleza, São Luiz do Maranhão, França, Portugal, Noruega, Mexico, Holanda, Argentina, Cuba e Africa.
O trabalho de Micheline transita entre as área de performance, vídeo, dança e artes visuais, incluindo pequenos trabalhos para a revista Verbete.art que podem ser vistos no YouTube.




Referências:
- http://idanca.net/micheline-torres-faz-temporada-de-carne-no-rio-de-janeiro/
- http://galpaogamboa.com.br/2011/10/carne/

Pequenas histórias sobre pessoas e lugares


Micheline Torres
Bailarina, coreógrafa e performer, estudou Artes Cênicas na UNIRIO e Filosofia na UFRJ. Trabalhou por 12 anos como bailarina e assistente da Lia Rodrigues Companhia de Danças. Desde 2000 desenvolve trabalhos próprios situados entre a dança contemporânea, a performance e as artes visuais. Atualmente desenvolve o projeto Meu Corpo é Minha Política, contemplado com o prêmio Funarte Klauss Vianna de Dança 2009 e 2011, os projetos de residência do Centre National de la Danse (Paris) e NRW/TanzHaus Dusseldorf e o edital FADA, tendo sido apresentado em 18 cidades do Brasil e 8 países. Contemplada com o Programa Rumos Dança 2012-2014

Pequenas Historias sobre Pessoas e Lugares é um trabalho que pesquisa histórias e ficções acerca de imigrantes, suas trajetórias e tentativas de acolhimento em outras localidades.
Esta nova pesquisa nasce do trabalho Eu Prometo, isto é Político, contemplado com o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2009 e com o programa de residência de pesquisa do Centre National de la Danse- Paris.
Como ponto de partida para este novo trabalho, Micheline Torres propõe-se trabalhar sobre o material excluído, jogado fora, não utilizado em Eu Prometo, isto é Político e sobre a idéia de ser excluido, jogado fora, descartado, nao pertencer ao lugar.
Pequenas Historias sobre Pessoas e Lugares é o terceiro trabalho do projeto Meu Corpo é Minha Política.
Meu Corpo é Minha Política foi iniciado em 2006, e é formado pela performance CARNE, apresentada no Rio de Janeiro, São Paulo, Vitória, Recife, Salvador, Brasilia, Goiânia, Fortaleza, São Luiz do Maranhão, França, Portugal, Noruega, Mexico, Holanda,Argentina, Cuba e Africa, e pelo trabalho Eu Prometo, isto é Político, apresentado no Rio de Janeiro, Ipatinga, Juiz de Fora, Belo Horizonte, Niterói, Viçosa, Barra Mansa, São João de Meriti, Fortaleza e Paris.


Referência:
- https://vimeo.com/67842109

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Alexandre da Cunha


Manuais de primeiros-socorros inspiram o trabalho do artista carioca Alexandre da Cunha. A performance trata da fragilidade do corpo. Um colaborador é convidado a repetir uma seqüência de movimentos que remetem a procedimentos de tratamento e intervenção, como massagens, enfaixamento e autópsia. O artista é considerado um seguidor da arte relacional proposta por Lygia Clark. A obra foi comissionada pela Associação Cultural Videobrasil.
A performance foi reeditada pelo artista em 2013, durante o 18º Festival. Assista ao registro dessa apresentação no Canal VB

O corpo na poética de Lygia Clarck e a participação do espectador

Texto de Dirce Helena Benevides de Carvalho

"No Brasil, o trabalho de Lygia Clark é de extrema relevância em decorrência das transformações que opera nos três elementos da comunicação artística: o artista, a obra e o espectador. A trajetória de Lygia Clark é a própria trajetória de vida e arte que se mesclam, se misturam, se desdobram, se tocam, se confundem para resgatar o significado primeiro de “ser e estar” no mundo. Esse terreno fronteiriço onde se instaura a artista a partir da criação dos Bichos, 1959, dificulta a tratativa de sua produção, pois ao abandonar o objeto de arte faz uma expansão em sua obra contaminando outras áreas do conhecimento , trabalhando em um terreno movediço, onde qualquer tentativa em categorizá-la será sempre um risco. Ressalta-se, portanto, que o exercício reflexivo do presente artigo propõe-se a levantar alguns deslocamentos realizados pela artista na passagem do objeto permanente para o corpo sem a pretensão de subscrever suas manifestações em algum campo específico, seja no âmbito das artes visuais, da performance, das artes cênicas, da arte terapia, ou mesmo da antiarte.O que se pretende é sinalizar deslocamentos advindos da passagem do objeto para a arte efêmera onde a artista elege o corpo como o topos de sua obra. Para explicitar tal passagem , faz-se necessário discorrer sobre as transformações que ocorrem na trajetória de Lygia Clark. Para tanto, foram escolhidos os Bichos, obra criada pela artista no momento em que integra o Grupo Neoconcreto, 1959-1961, e Caminhando, 1964. A própria artista não permite que sua obra seja categorizada. Extremamente lúcida, passa por transformações onde todas as fases se entrelaçam, advindas de múltiplos processos de transformação, de germinação de idéias, de buscar no mundo e em si mesma, no aqui e no agora as sensações esquecidas. A lucidez é experimentada em cada uma delas e sempre acompanhada de dolorosas crises, quando experimenta os seus limites, para no momento seguinte emergir em novas percepções. São vivências profundas que a artista não deixa escapar trazendo-as para a sua arte. Todas as fases de seu trabalho resultam de longo processo de maturação, muitas vezes inconsciente, vindas quase sempre em imagens oníricas “no interior que é exterior, uma janela e eu. Através desta janela eu vejo passar lá fora o que é para mim, o que está dentro. Deste sonho nasceu o Bicho que denominei ‘dentro-fora’” (CLARK, 1980, p. 23). Lygia Clark durante toda a sua trajetória tem consciência das inquietações e perturbações causadas pelos avanços tecnológicos e, na sua ousadia luta para recuperar esse homem fragmentado na tentativa de devolver-lhe o equilíbrio necessário para a sua sobrevivência.Ao abandonar o objeto de arte, coisa do passado dada ao espectador para decifrá-lo, a artista elege o corpo como o lugar privilegiado para suas proposições. Sobre a necessidade o corpo, Lygia em correspondência enviada a Hélio Oiticia, declara “Em tudo que faço há realmente necessidade do corpo humano que se expressa, ou para revelá-lo como se fosse uma experiência primeira” (CLARK,OITICICA, 1964-74, p. 62).
À guisa de Introdução, é oportuno enfatizar que pretende-se em pesquisas posteriores buscar conexões com o ‘corpo’ na poética de Lygia Clark e suas possíveis reverberações e/ou desdobramentos no corpo
performativo das artes cênicas. No decorrer de sua trajetória Lygia Clark luta incessantemente para eliminar o objeto de arte que considera coisa do passado, coisa dada ao espectador para decifrá-lo passando
a ser propositora de situações elegendo o corpo como lugar para fundir-se ao coletivo. A artista subverte a própria arte onde o corpo do espectador passa a ser o suporte de suas proposições, o que leva alguns historiadores a denominarem essas manifestações da artista de “antiarte ou arte-terapia”.
É, portanto, um trabalho fronteiriço e apresenta-se como campo aberto onde permanecerá sempre o indizível suscitando novas investigações."

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Baba Antropofágica - Lygia Clarck


Curta metragem registra a "Baba Antropofágica", proposta de Lygia Clark (1920 - 1988) (re)vivenciada no Clark Art Center (CAC), Rio de Janeiro, com Jards Macalé.
Direção e roteiro: Walmor Pamplona. 
Realização: Clark Art Center.
www.lygiaclark.org.br
www.clarkartcenter.com.br

Trabalhos - Franklin Cassaro

http://cargocollective.com/franklincassaro

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O corpo em contexto na contemporaneidade

O corpo em contexto na contemporaneidade: entre o público e o privado nos videos “entre” de Nina Galanternick e “desenho-corpo” de Lia
Chaia 

por Regilene Sarzi Ribeiro


"O embate entre máquina (câmera de vídeo) e o corpo (performance do artista) se apresenta como elemento estrutural construtor de linguagem, compreendida para além dos mecanismos de registros de som e imagem, a fim de ser reconhecida como sinônimo de produção midiática que amplia as experiências sensíveis com o
corpo.
Tendo o próprio corpo como materialidade e linguagem artística, os artistas que deram origem à arte do vídeo no Brasil se apropriam dos recursos da máquina, registro e enquadramentos de imagens e sons, para expor seu corpo a discussões estéticas, sociais, culturais e políticas em situações inusitadas, de ataques e intervenções violentas contra o corpo, uma das marcas da Body Art. Somado ao fato de que tais práticas performáticas eram concebidas para serem especificamente registradas pelo vídeo, sem público, denominadas performances sem audiência. Sobre estas performances, afirma Mello:

Diferentemente de outros países que produzem nos anos 1970 performances e body art (arte corporal) muitas vezes em espaços abertos, no Brasil tais manifestações públicas são recriminadas, censuradas, pelo Estado ditatorial. Os trabalhos performáticos são realizados, dessa forma, em caráter privado, isolados do espaço público, e documentados pela câmera de vídeo (MELLO, 2008: 144)."

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Teaser drum

Franklin Cassaro e a batucada portátil no abrigo bioconcreto


Franklin Cassaro

''Nascido, criado e morado no Rio'' (palavras do próprio), Franklin Cassaro. O analista de Organização e Métodos, cumpriu o itinerário de praxe das artes plásticas e fez cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. E foi à luta, digo, às ruas da cidade para promover seus acontecimentos estéticos, instalações, atos escultóricos, intervenções artísticas ou arte interativa, alguns novos nomes das performances (expressão que o povo das artes acha ultrapassado).



"Franklin Cassaro inventou o bioconcretrismo, termo que conceitua sua arte. Cassaro cria objetos vivos, que se modificam e estão em constante evolução. Elementos como o ar e o vento são fundamentais em muitos de seus trabalhos. As performances do artista surgem como atos escultóricos. Sua obra possui muita influência de Lygia Clark. Os objetos “infláveis” do artista acolhem o espectador no seu interior desabitado e vazio. Esteve presente na VII Bienal de Havana, Havana – Cuba, 2000."


Franklin Cassaro é um dos principais artistas surgidos na década de 90. A sua geração retomou o fio experimental tão característico da arte brasileira nos anos 60 e 70. Ele tomou a obra de Lygia Clark como um ponto de partida. Não é o único, mas o principal. Interessa, acima de tudo, os processos de formalização e não o objeto em si. A precariedade e a contenção irmanam-se. O gesto escultórico de Cassaro não se esconde na forma, ele é a própria forma, que se revira, se desfaz e se refaz continuamente. Os seus reviramentos, infláveis e performances, revelam uma forma-processo que não se deixa cristalizar, que não pára de germinar einventar novos organismos poéticos, ao mesmo tempo estranhos e sensuais.
Diferentemente de Lygia Clark, a motivação não é terapêutica, não parte de uma tensão diante dos mecanismos de recalque do corpo-expressivo, mas de uma vontade de disseminar uma informalidade existencial que nasce do exercício experimental. O interior da “casa-corpo” de Lygia Clark não oferece abrigo, mas resistência. Os “infláveis” de Cassaro acolhem o espectador no seu interior desabitado e vazio.  
Nos seus desenhos atuais, a respiração dá o ritmo do movimento e as mordidas produzem o rastro gráfico no papel. A tinta é colocada antes das mordidas e ela vai se espalhando e criando suas formas bioconcretas. A impressão destes desenhos é quase arqueológica, como se fossem fósseis de borboletas ou peixes pré-históricos. O desenho, assim como suas esculturas revirando latas e metais, nasce do seu gesto que combina precisão e urgência.
Os infláveis erguem-se como se fossem abrigos momentâneos. Sua estrutura é de vento, criando formas transitórias e passageiras, como a própria vida. Esta mesma leveza evidencia-se nos cubos flutuantes, um dos momentos mais líricos do seubioconcretismo. A simplicidade a serviço da surpresa.
Luiz Camillo Osorio, Março de 2006.

Franklin Cassaro, Rio de Janeiro, 1962, formado em Administração de Empresas e Analista de Organização e Método, estudou escultura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Possui trabalhos e nos acervos do MAM Rio, MAM SP, Museu Nacional de Belas Artes e Coleção Gilberto Chateaubriand, entre outros.

Suas primeiras exposições individuais foram, em 1988, na Galeria Macunaíma, Funarte, RJ, e no MAC, São Paulo. Desde então, Cassaro realizou exposições individuais em diversas capitais brasileiras e na Alemanha e Austrália. Participou de dezenas de exibições coletivas no Brasil e no exterior, incluindo a Bienal do Mercosul, Porto Alegre, 1999 e a Bienal de Havana, 2000.


2002 - foto: Pedro Agilson