Anais do II. Colóquio Internacional de Arquitetura, Teatro e Cultura
Rio de Janeiro, 2012
"Por que você é pobre?" - uma reflexão cênico-performática sobre a
segmentação dos espaços culturais do Rio de Janeiro.
Profa. Dra. Tania Alice Caplain Feix
Artista-pesquisadora e professora adjunta da Escola de Teatro da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
Bolsista de iniciação científica: Larissa Siqueira
Bolsistas de iniciação artística: André Marinho e Daniele Carvalho
RESUMO:
O artigo propõe uma reflexão sobre a segunda fase da pesquisa realizada pelo
Coletivo de performance "Heróis do Cotidiano" dentro do projeto "Herói e sacrifício
da Grécia Antiga até a Contemporaneidade: uma investigação cênico-performática",
desenvolvido sob minha coordenação na Escola de Teatro da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), em parceria com alunos e professores desta
instituição e da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ) e da
PUC/Rio. Na primeira fase, apresentada no Colóquio "Arquitetura, Teatro e Cultura"
em 2011, foi efetuada uma pesquisa performática acerca da questão do herói na
cidade do Rio de Janeiro, evidenciando os processos de subjetivação que fomentam
nossa percepção e concepção do que é um herói hoje. Partindo dessa questão, as
performances propunham e incentivavam novas cartografias possíveis para estas
subjetividades associadas à figura do herói, buscando ampliar a liberdade de
percepção e compreensão do conceito de herói e de sacrifício, mas também alargar as
fronteiras associadas à própria linguagem da performance. Na segunda parte da
pesquisa, as performances realizadas ao longo dos dois primeiros anos foram
reelaboradas, servindo de material para a criação de um espetáculo/instalação
realizado em torno da pergunta "Por que você é pobre?". Este material foi ampliado
por investigações de campo e criações por parte dos atores-performers envolvidos no
projeto. Os resultados desta pesquisa foram apresentados em maio de 2012 no
Castelinho do Flamengo, na cidade do Rio de Janeiro. Realizado integralmente sem
dinheiro e na base da troca de competência e saberes, o espetáculo propõe um desafio
ético e estético, tentando repensar os valores tradicionalmente associados a idéia de
pobreza e riqueza. Este desafio passa por um questionamento relativo à
funcionalidade de diversos espaços culturais (salas de exposição, teatro e
performance) da cidade do Rio de Janeiro, já que a pesquisa permitiu evidenciar a
maneira como estes espaços são tradicionalmente associados em nosso pensamento
contemporâneo à idéia de pobreza ou riqueza. Desta forma, o espetáculo propõe uma
reflexão sobre a segmentação dos espaços culturais na cidade do Rio de Janeiro:
segmentação que conduz à uma seleção quase orgânica das populações que os
freqüentam, gerando agrupamentos temporários organizados em função da lógica do
capital. O artigo propõe uma reflexão sobre estas questões a partir dos experimentos
cênicos realizados juntamente com o grupo de professores e alunos de iniciação
científica e artística, levantando e cartografando novas possibilidades de criação
artística, de trabalho, de produção de sentido e de reflexão sobre os mecanismos de
valoração éticos e estéticos dos espaços. O trabalho busca assim refletir sobre as
formas de diálogo possíveis com os espaços materiais e imaginários mobilizados no
experimento, tentando levantar novas modalidades de pensar o mercado da arte
contemporânea, transitando por esferas distintas e gerando visibilidade em cima de
questões associadas a valores, corporeidade e espacialidade de uma forma mais
ampla.