quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Poesia brasileira contemporânea: ações plásticas e performáticas

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Poesia brasileira contemporânea: ações plásticas e performáticas | Renato Rezende*


Em seu influente artigo “A escultura no campo ampliado”, publicado em 1978, Rosalind Krauss apoia-se na então ainda incipiente evidência de uma lógica artística não mais modernista, e sim pós-modernista, para propor e justificar o conceito de “campo ampliado” para a escultura contemporânea. Definindo escultura como aquilo que se dá no espaço duplamente negativo de “não-monumento” e “não-arquitetura”, a crítica de arte norteamericana constrói sua argumentação problematizando a categorização modernista da escultura e concluindo, por fim, que a “escultura não é mais apenas um único termo na periferia de um campo que inclui outras possibilidades estruturadas de formas diferentes. Ganha-se, assim, ‘permissão’ para pensar essas outras formas” (Krauss, s/d, p. 91). Essas outras formas possíveis de pensar a escultura, contrariando a necessidade da pureza de mediums e da autonomia da obra de arte pregada pelo cânone modernista, situando-se no espaço aberto e maleável de uma troca dinâmica entre paisagem/arquitetura/escultura, abrem-se também para a prática artística de ocupação de vários lugares diferentes pelo artista dentro do campo da cultura e para o uso diversificado de suportes.[1]
Após estabelecer o campo ampliado da escultura, Rosalind Krauss indica que o mesmo procedimento pode ser tentado com outros gêneros artísticos e sugere, por exemplo, que a dilatação do par originalidade/reprodutibilidade possa revelar os contornos do campo ampliado da pintura. Isso é tentado por Gustavo Fares em seu artigo “Painting in the Expanded Field”. O que nos interessa no artigo de Fares é a sua conclusão de que a pintura tem, durante os séculos, perdido um território que era seu.[2] Pensando nesses termos – o da perda de um lugar e, portanto, como veremos, de uma denominação – uma observação semelhante poderia ser feita, e com maior justiça, em relação à poesia: durante os séculos de desenvolvimento da cultura ocidental ela tem perdido um território que era originalmente seu. Em uma rápida e abrangente genealogia da poesia na nossa cultura, desde suas origens gregas, onde ela ganhava contorno e status de arte total, vemos que a tradição épica, ou seja, a tradição homérica, que no correr dos anos gerou Virgílio, Ariosto, Tasso, entre muitos outros, se transformou, com a ascensão da burguesia, em romance e, com o século das imagens, em cinema.[3]Quase ninguém mais escreve longos poemas narrativos com centenas de páginas, muitos personagens e aventuras.[4] Da mesma forma, a tradição da poesia lírica inaugurada por Arquíloco (segundo Nietzsche em O nascimento da tragédia) teria se transformado, na era da cultura de massas e indústria cultural (com a facilidade da reprodução das gravações sonoras), em canção popular.[5]Hoje, são raros os poetas que se dedicam ao poema lírico (sem fazer uso da ironia) e do poema épico tradicionais.[6] Esses gêneros, naquela modelagem, foram, por assim dizer, “subtraídos” da tradição da poesia e transferidos para (e alterados em) os mediums da música, da prosa e do cinema.[7] A poesia, então, adentrou o século 20 com um trunfo que os poetas julgavam inalienável: o pensamento – justamente por ser o pensamento constituído por palavras (assim como poemas são feitos de palavras, segundo Mallarmé). Não é coincidência que muitos dos grandes poetas do século passado foram poetas do pensamento: Eliot, Pound, Pessoa, Valéry… Nas últimas décadas do século 20, no entanto, com o advento da arte conceitual, as artes visuais passaram igualmente a levar uma alta e inaudita carga de pensamento, aproximando-se da filosofia.[8] A irmandade entre poesia e filosofia tem acompanhado a cultura ocidental desde sua origem e tal aproximação tem sido objeto de estudo e debate entre poetas e filósofos há muitas gerações.[9] Restaria-nos pensar, portanto, seguindo essa trilha de pensamento, a relação entre poesia e arte contemporânea em sua confluência filosófica.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Celeida Tostes


Despojei-me
Cobri meu corpo de barro e fui.
Entrei no bojo do escuro, ventre da terra.
O tempo perdeu o sentido de tempo.
Cheguei ao amorfo.
Posso ter sido mineral, animal, vegetal.
Não sei o que fui.
Não sei onde estava. Espaço.
A história não existia mais.
Sons ressoavam. Saíam de mim.
Dor.
Não sei por onde andei.
O escuro, os sons, a dor, se confundiam.
Transmutação.
O espaço encolheu.
Saí. Voltei."

Celeida Tostes


Referência:
http://ensinandoartesvisuais.blogspot.com.br/2007/09/cermica-artstica-e-performance-arte-de.html

Chuva de dinheiro (1983)



Performance Chuva de Dinheiro (1983), quando Márcia Pinheiro – nome que utilizava na época - e Ana Cavalcanti lançaram enormes notas de CR$ 5 de cima de um prédio na esquina da Av. Rio Branco e Nilo Peçanha, no Rio.





quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Márcia X - uma antibiografia

concinnitas | ano 2014, volume 01, número 24, julho de 2014 


Márcia X – uma antibiografia.
Alexandre Sá


..."Conheci Márcia X em 2003, em Pau Grande, no município de Magé, no Rio de
Janeiro, numa ação coletiva do grupo Imaginário Periférico. Estava engatinhando
completamente nessas fronteiras entre o corpo, o movimento, a poesia e a teatralidade, e, ao ser convidado para participar de tal evento, resolvi fazer uma performance (embora não soubesse bem o que era aquilo) em que vendava os olhos com uma atadura e, vagarosamente, rasgava e queimava algumas páginas do livro No interior do cubo branco, de Brian O’Doherty, como resultado de uma preocupação direta com os limites do trabalho de arte e com suas consequentes possibilidades de explosão e atravessamento. Ao final, lembro que Márcia X se aproximou e me perguntou, como um tiro: “Quem é você?”. A pergunta, que a princípio poderia soar preconceituosa e um pouco blasé por ser tão direta
e à queima-roupa, pareceu doce e dedicada, endossada por uns olhos realmente curiosos e que, naquele momento, me davam a sensação legítima de que me atravessavam. Respondi o que consegui, mesmo sem saber de fato quem era a tal figura exótica com cabelos longuíssimos; e ela, depois de um silêncio instantâneo, mas que se revelava estendido o suficiente para que o diálogo parecesse preenchido por diferentes marés, me disse que tinha gostado muito do trabalho e, com uma generosidade como nem sempre é possível encontrar no sistema de arte, me deu todo o incentivo possível para continuar."

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terça-feira, 25 de novembro de 2014

Márcia X. Burguer

concinnitas | ano 2014, volume 01, número 24, julho de 2014


Marcia X. Burguer
Alex Hamburger


Prefácio
Como parceiro de vida e obra por cerca de oito anos da nossa estrela, aqui um
tanto pobremente retratada, se considerarmos a intensidade dos fatos vividos na época da quase perdida ‘geração performática dos anos 80', fui gentilmente convidado para gravar meu testemunho sobre aqueles loucos anos, movidos ao mesmo tempo por uma ingenuidade protocolar, fúria eletiva, lançamento de dados, além de uma complexa, porém refinada tentativa de resgatar uma visão alternada aos pontos de vista imperativos e absolutos.
Estou plenamente convicto que um relato na linha biográfica pura, mesmo que
pudesse inscrever nele a gênese dos inúmeros desafios protagonizados, não faria jus a alguém cuja linha mestra de partida (e chegada) sempre foi o vigor inabalável, o fôlego renovador, a invenção transgressiva e a reordenação das prioridades do ser, que ela tão bem soube desenvolver e que brotava de seus poros de forma contagiante e permeável a todos que dela se acercaram ou conviveram.

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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Performance: a questão da autoria

concinnitas | ano 2014, volume 01, número 24, julho de 2014


Performance: a questão da autoria
Ricardo Basbaum


" ... na cadeia de reações que acompanham o ato criador falta um elo. Essa
falha que representa a inabilidade do artista em expressar integralmente sua intenção; essa diferença entre o que quis realizar e o que na verdade realizou é o ‘coeficiente artistico' pessoal contido na sua obra de arte."
É fácil reconhecer no texto acima a formulação de Marcel Duchamp a respeito
do ato criador, enfatizando o papel do público na recepção da obra, no julgamento que o incluirá ou não entre "as figuras primordiais da história da arte". O artista desenhado por Duchamp é "mediúnico", trabalhando no domínio da "pura intuição". Mas o genial artista francês parece, neste pequeno texto de 1957 –pronunciado em Houston durante uma Conferência da Federação Americana das Artes1 (à qual também compareceu o interessante antropólogo-biólogo Gregory Bateson) –, excessivamente preocupado com a "posteridade" e o "veredito do público": afinal, pensa-se logo, nem mesmo Duchamp escapou à obsessão modernista com a História.
Entretanto, Duchamp já havia feito às coisas funcionarem de outro modo, e
depois dele os objetos nunca mais foram os mesmos. Com certeza, podemos localizar na invenção do ready-made o gesto decisivo, indicativo de uma mudança no padrão da autoria artística, deslocando-a para o campo da apropriação – para um trabalho de redefinição do objeto. Duchamp não "cria" um ready-made, mas descobre-o com dia e hora marcados.

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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A hibridação entre performance e fotografia

A HIBRIDAÇÃO ENTRE PERFORMANCE E FOTOGRAFIA:  UM ESTUDO SOBRE A PERFORMANCE, A FOTOGRAFIA E O ARTISTA 
LUIZ RETTAMOZZO 

Flávia Adami
 flaviaadami@hotmail.com


Resumo 
A linguagem da performance sempre foi e continuará sendo um assunto controverso no campo das arte visuais. Questionamentos sobre o entendimento dessa linguagem continuam em pauta: de que maneira a performance interfere nas relações interpessoais, culturais e sociais?; como caracterizar os resultados obtidos pelos trabalhos performáticos? Essas são perguntas que exigem muita reflexão. Este artigo tem por objetivo discutir a relação entre performance e fotografia. Tentaremos identificar um tipo de performance que encontra na fotografia não apenas o registro, ou seja, uma performance que contraria o
entendimento da ação ao vivo como única possibilidade. Para este estudo, foi analisado o trabalho intitulado Ar Retta, publicado em 1981, pelo artista Luis Rettamozzo. Estes trabalhos fotográficos afirmam uma poética entre a performance e a fotografia, no qual a fotografia não é o registro de uma ação ao vivo, mas o lugar de seu acontecimento.

Palavras chaves: Performance; Fotografia; Interseção.

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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Caminho

Realizada no dia 13/11/14 
Local: Universidade do Estado do Rio de Janeiro

A performance Caminho deixa a marca de uma fita no chão. Ela representa as escolhas que fazemos todos os dias. Cada passo é uma decisão para um futuro próximo ou distante pois escolhemos a todo momento nosso caminho.
A luta diária do dia a dia é que demarca nossas escolhas do que almejamos para o futuro. E é no momento presente que se deve focar pois o sonho é resultado do esforço.








Registros: Natalia Rey e Thatiana Montenegro

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Ricardo Marinelli



Monstruosidade e resistência na performance de Ricardo Marinelli

Texto de Caio Riscado
Revisão de Marcio Honorio de Godoy
© 2014 eRevista Performatus e o autor

Curitiba, 24 de maio de 2014, sede do Água Viva Concentrado Artístico, segunda edição da Transborda – Mostra de Performance [1]. Faz frio e o performer Ricardo Marinelli [2] está nu, deitado no chão, em posição fetal, com o corpo recolhido contra a parede da sala. Dessa vez Marinelli não usa roupa, nem maquiagem, nem peruca, nem meia-calça, nem salto alto, nem esmalte, elementos que o acompanharam em performances anteriores. De cabeça raspada, barba feita, o performer tem a genitália, a visão, a boca e algumas articulações do seu corpo aprisionadas por camadas de fita adesiva. Nas costas, um quadrado de fita adesiva impede que a recepção veja a única tatuagem do performer. Faz frio e o performer Ricardo Marinelli está nu mas trajando aquilo que chamamos de corpo.
Um corpo que sem o apoio das mãos, sem a base dos dedos dos pés e sem a visão, dança pelo espaço por meio de curtos movimentos espasmódicos. O performer procura apoio nas paredes, no chão e nas pernas daqueles que o observam. Na medida em que se desloca, sua respiração fica ofegante – podemos ouvir a fricção do ar em contato com a fita adesiva que sufoca sua boca. As narinas de Marinelli parecem fazer mais esforço do que o comum, reverberando em seu corpo as dificuldades geradas pelo aprisionamento voluntário de alguns dos seus equipamentos corpóreos.
O corpo sem genitália, sem pelos, sem as próteses de gênero sistematicamente associadas ao masculino, dança com precisão o/no micro limite de espaço-tempo que se faz presente entre a ação de tentativa e sua respectiva falha. Muitas são as imagens. A criança tentando dar os seus primeiros passos, alguém que se movimenta pela primeira vez depois de um coma, uma absurda máquina de lavar descontrolada, uma cadela machucada, a animalização do humano. O corpo sem seus apoios e referências habituais (re)conduz o olhar da recepção, pois desnaturaliza os movimentos tidos como comuns. Entre idas e vindas do chão ao plano médio, ou alto, o performer busca o equilíbrio naquilo que justamente está ausente: ele quer ver, quer tocar, lamber, comer, apoiar, ficar de pé, mas não pode.
O corpo sem órgãos de Ricardo Marinelli denuncia o sistema de monitoramento e setorização da heteronorma. Mesmo sem genitália, sem visão, sem boca e mãos, ainda lhe resta uma categoria arraigada pelo plano social dominante. Mesmo distanciado da zona dos “gêneros inteligíveis”, Marinelli não está isento de ser classificado, julgado e nomeado. Marinelli não é homem e nem mulher, não é gay, não é lésbica, não é travesti, não é bicho, é bizarra, é monstro. A bizarrice (des)regulada do corpo em movimento toma conta da pequena sala de ensaio onde a performance é exibida e a monstra Marinelli dança a experiência do corpo abjeto, temido e recusado com repugnância.

Performance: Ricardo Marinelli. Fotografia de Matias Cds

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Coletivo Corpo Expresso


Coletivo Corpo Expresso é uma associação sem fins lucrativos, que surgiu em Santa Maria - RS, Brasil. Tem a finalidade de fomentar a criação e a circulação artística local, bem como promover o intercâmbio de ideias e obras artísticas no estado do Rio Grande do Sul e por todo o território nacional.



O Afogamento

Foto: Ronald Mendes / Agencia RBS
"A artista Élle de Bernardini, responsável pela performance, conta que o objetivo era fazer algo natural e que trouxesse à memória um ato politico. Após pesquisas junto a seus colegas do Coletivo Corpo Expresso, ela chegou a ideia do afogamento, "uma tortura possível de ser reproduzida". E foi assim que, sem ensaio, ela mergulhou na agonia sofrida por milhares de pessoas durante os anos de chumbo.
_ Queríamos trabalhar com a memória do corpo e não com aquela memória racional. Queríamos que a performance atingisse os sentidos, alguma coisa que chamasse a atenção para que o público sentisse algo próximo daquilo que aquelas pessoas ou seus familiares vivenciaram _ explica Élle."

Instrumento de reivindicação social

© 2014 eRevista Performatus e o autor
Ed. 12Ano 2 | Nº 12 | Out 2014

Fragmento do texto "Resignificação coletiva da memória dos sentidos: um processo artístico com performance" de Élle de Bernardini

"Notei que pensar a performance enquanto arte possui um alcance SOCIAL e um apelo aos sentimentos das pessoas de modo geral muito maior que a pintura, por exemplo. Observei também que ela podia, se bem empregada com propósitos estéticos sérios, ser instrumento de reivindicação social. Ao mesmo tempo, percebi ainda na performance um papel de assegurar e conservar o caráter de essência da arte, que é de se direcionar aos sentidos dos sujeitos e, através dos sentidos, se fazer entendida. A performance é um veículo artístico de propagação de ideias e queixas, e ela acontece justamente onde o público se doa a recebê-la, prestando-se a dividir o tempo-espaço com ela, de modo que um afeta o outro reciprocamente, e ambos, sem saber, chegam a instantes semelhantes, a conclusões semelhantes. Em outras palavras, a performance desperta um sentimento de coletividade nos sujeitos, e ela faz isso evidenciando o que temos de singular, através da ação de uma única pessoa, do artista, e une todos os que dela participam em um sentimento coletivo, que resignifica o tempo todo a história e o próprio tempo-espaço. Num jogo mútuo entre performer e público, a performance coloca as pessoas em um estado de arte, e desse estado provém, além da recepção e contemplação da obra, o que eu particularmente considero mais importante para o presente em se tratando de arte e criações artísticas: a crítica, o exercício do qual muito Bertolt Brecht falou, que é o de ver o mundo com olhos estranhados."

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Resignificação coletiva da memória dos sentidos: um processo artístico com performance

© 2014 eRevista Performatus e o autor
Ed. 12Ano 2 | Nº 12 | Out 2014


Texto de Élle de Bernardini


Para Halbwaschs a memória é sempre fruto de um processo coletivo, na medida em que necessita de uma comunidade afetiva, ou seja, um grupo ao qual o  sujeito já faça parte. A lembrança está sempre inserida em um contexto social
preciso. Para esse pensador, o apego afetivo a uma comunidade dá consistência às lembranças, e o desapego é oposto disso, estando, por sua vez, ligado ao
esquecimento. A memória em Halbwaschs é reconhecimento e reconstrução. É
reconhecimento na medida em que porta o "sentimento do já visto". E
reconstrução, porque não é uma repetição linear de acontecimentos vivenciados no passado, mas sim um resgate desses acontecimentos e vivências no contexto de um quadro de preocupações e interesses atuais.
Sobre essas considerações de Halbwaschs, iniciei uma pesquisa com a
memória que chamei de "Memória dos Sentidos" ou "Memória do Corpo". No
começo, minha pesquisa tinha como objeto a relação nebulosa entre a lembrança racional e a lembrança física. Para mim, enquanto artista, o que interessa é a lembrança dos sentidos, a lembrança do corpo. Minha pesquisa estabelece, como objeto, os sentidos, e parte deles para falar da memória e do resgate das sensações através do reviver um acontecimento do passado.

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terça-feira, 28 de outubro de 2014

Para onde vou?

A performance “Para onde vou?” pensada pela bolsista de extensão Mariana Schumacher foi feita hoje, dia 28 de outubro de 2014, na concha acústica da UERJ com a colaboração de Marina Silva e Natalia Rey. Na realidade, ela foi interrompida por funcionários da Universidade por infringir a ordem que não permite que esse tipo de manifestação artística aconteça, ou seja, pinturas, desenhos e cartazes são proibidos na estrutura física da Universidade.
A ação tem como fonte de inspiração a angústia de termos que decidir o futuro profissional diante de tantas possibilidades que acredito atingir muitos outros jovens além de mim. A pergunta que paira na minha cabeça acaba se tornando um pedido de socorro aqueles que passam e vêem a frase escrita no chão. Dessa forma, questionando-se também se estão no caminho certo, digo, no caminho da felicidade pessoal. A ação “Para onde vou?” muito se assemelha com a feita anteriormente “Você sabe para onde está indo ou apenas segue o fluxo?” pois ambas tem a mesma questão por trás.
A paralisação da performance na metade deixou rastros de um “para” no chão. Não à toa que essa palavra nos remeta ao verbo parar, proibir. A sociedade não permite a livre expressão, vivemos em uma falsa liberdade. Além de parar, tive que limpar a “sujeira” que causei, não podendo finalizar a ação e gerar a reflexão que gostaria no restante das pessoas.
O funcionário me perguntou quem tinha autorizado aquilo e eu respondi que não pedi autorização para ninguém, uma ação performática não tem o mesmo sentido se permitida. A performance deve ser fuleragem, assim como defende a artista Bia Medeiros. 





Registro: Natalia Rey

Registro: Natalia Rey

Registro: Natalia Rey

Registro: Natalia Rey

Registro: Natalia Rey


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Performatus


Linha editorial
"A partir das reflexões sobre a arte contemporânea e, mais especificamente, sobre o gênero artístico da performanceexpressão artística, de certa forma, ainda recente e pouco explorada, a eRevista Performatus vem a ser uma concretização de um veículo para promover a reunião de estudos sobre esta manifestação que tanto renuncia rótulos e se move sempre em direção ao interdisciplinar. Ensaios, críticas, entrevistas, traduções e um item chamado “perfil do artista” são os tópicos-estímulos para gerar reflexões em torno do ato performático, ou ainda, conforme uma designação mais atual e abrangente, do ato performativo.
Da raiz etimológica da palavra “performance”, podemos recorrer ao latim, de onde emergiu o termo “formare” – que denota “dar forma” – e “performatus”, que quer dizer “acabado de formar” e, com estas etimologias do termo, conforme constata a autora Isabel Carlos, podemos perceber a base comum da performance tanto nas artes plásticas como nas artes performativas.
“Performatus”, palavra que origina o nome do nosso objeto de pesquisa também deriva de onde nasce a língua comum do corpo integrante dessa eRevista: a língua portuguesa, que é aqui apresentada com características próprias de cada território em que é falada.
Performatus, eRevista trimestral especializada em estudos performativos, foi “acabada de formar” em Novembro de 2012 sob criação de Paulo Aureliano da Mata e Tales Frey, ambos fundadores da Cia. Excessos."

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Disparos e excesso de arquivos

DISPAROS E EXCESSO DE ARQUIVOS 


Paola Zordan - UFRGS 


Resumo 

Com Nietzsche, inspirado arquivismo de Foucault e atravessado pela esquizoanálise de Deleuze e Guattari, este texto explica os procedimentos de uma pesquisa híbrida, envolvida com performances, instalações, intervenções e superfícies pictóricas dentro do âmbito da Educação. Expõe como funciona um disparo de pesquisa e mostra como a paixão por alguns temas faz proliferar diferentes repertórios para a criação. Lista brevemente quatro arquivos de sua própria criação e explica o conceito de transvenção, que utiliza em função da dificuldade de nomear com termos já conhecidos o que produz. 
De algum modo prova como uma pesquisa na linha destes autores se deixa levar pelos encontros até selecionar os enunciados que o corpo estudado produz. 




sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Heróis do cotidiano

A performance " O Banquete de Platão" foi realizada pelo Coletivo de performance Heróis do Cotidiano em São Paulo, na Mostra de Artes do SESC 2010 nas Unidades SESC Carmo, Pinheiros e Ipiranga. 




A meditação como possibilidade criativa para o performer

Anais da VII Reunião Científica da ABRACE (Associação Brasileira de 
Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas)
Porto Alegre, 2011
A meditação como possibilidade criativa para o performer.
Tania Alice


RESUMO
Este artigo propõe uma reflexão sobre as possibilidades oferecidas 
pela prática da meditação (shamata) para o performer que trabalha com 
intervenções urbanas e/ou modalidades de atuação fora do regime de 
representação tradicional, dentro da perspectiva de construção de uma 
"cultura de paz" (Lama Padma Samten). A prática da meditação é pensada 
como uma ferramenta existencial que oferece novas possibilidades para a 
construção do ser, construção esta que passa uma possível reprogramação 
neuronal, que, por sua vez, permite uma ampliação da liberdade de escolha 
do performer diante das experiências e vivências cotidianas. Neste sentido, a 
meditação é também vista como um treinamento possível para o performer, 
na medida em que gera uma presença e capacidade criativa intensificada e o 
libera de uma forma de atuação condicionada no mundo, permitindo a 
construção de novos territórios criativos, fundamentais para o século XXI.

A potência autoficcional na construção da cena performática

ALICE, Tania. A potência autoficcional na construção da cena 
performática. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de 
Janeiro (UNIRIO). Professora do Departamento de Interpretação e da 
Pós-Graduação em Artes Cênicas. Performer e diretora teatral.

RESUMO
O artigo tem por objetivo articular o processo de criação performática com o 
conceito de autoficção, mistura entre ficção e realidade, elaborado no campo 
da criação literária nos anos 90. A partir de uma experiência de criação 
realizada pelo Coletivo de performance Heróis do Cotidiano que resultou em 
um work in progress intitulado Por que você é pobre?, surgiu o 
questionamento de entender por quê a utilização de material autobiográfico 
causava um aumento da potência cênica e performática, desde que 
articulado com uma inquietação de ordem social. O artigo visa problematizar 
esta questão, partindo dos dados autobiográficos que surgiram na equipe de 
criação sobre a questão da pobreza, tentando entender como os movimentos 
realizados a partir de matrizes pessoais foram estabelecendo um diálogo com 
uma dimensão maior, social, política e energética. O intimo da autoficção, 
elaborada a partir de memórias corporais e afetivas, ativa então uma 
memória social mais ampla, que por sua vez potencializa a capacidade de 
afetação do gesto artístico, inscrevendo-o no campo do "artivismo", diluição 
das fronteiras entre arte e manifestação social.

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A(r)tivismo e utopia no mundo insano

A(r)tivismo e utopia no mundo insano
Gilson Motta e Tania Alice1

Resumo:
O artigo investiga o conceito de utopia nas práticas artísticas 
contemporâneas. Pela instauração de micro-utopias que potencializam a 
circulação dos afetos, a arte contemporânea vem sendo marcada pela 
instauração de espaços de convivência alternativos, que recriam laços 
sociais e potencializam os vínculos entre os participantes, explorando as 
modalidades de uma "estética relacional" (Bourriaud) que visa gerar 
relações transformadoras num contexto dominado pela lógica neo-liberal. 
Configuram-se então territórios de resistência e de contaminação que se 
inscrevem em um movimento mais geral de "artivismo" que, partindo de 
uma revolução da subjetividade, propõe uma revolução dos nossos modos 
de perceber e habitar o mundo. No presente artigo, observaremos estes 
conceitos no trabalho do Coletivo de Performance Heróis do Cotidiano, do 
Rio de Janeiro. Ao buscar subverter os modos de percepção habituais, o 
Coletivo propõe uma partilha sensível, que pode resultar na modificação do 
olhar do participante e do performer sobre o espaço urbano e na 
transformação da relação que eles estabelecem entre si no contexto da 
esfera artística. 

 

"Por que você é pobre?" - uma reflexão cênico-performática sobre a segmentação dos espaços culturais do Rio de Janeiro

Anais do II. Colóquio Internacional de Arquitetura, Teatro e Cultura
Rio de Janeiro, 2012
"Por que você é pobre?" - uma reflexão cênico-performática sobre a
segmentação dos espaços culturais do Rio de Janeiro.

Profa. Dra. Tania Alice Caplain Feix
Artista-pesquisadora e professora adjunta da Escola de Teatro da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
Bolsista de iniciação científica: Larissa Siqueira
Bolsistas de iniciação artística: André Marinho e Daniele Carvalho


RESUMO:
O artigo propõe uma reflexão sobre a segunda fase da pesquisa realizada pelo
Coletivo de performance "Heróis do Cotidiano" dentro do projeto "Herói e sacrifício
da Grécia Antiga até a Contemporaneidade: uma investigação cênico-performática",
desenvolvido sob minha coordenação na Escola de Teatro da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), em parceria com alunos e professores desta
instituição e da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ) e da
PUC/Rio. Na primeira fase, apresentada no Colóquio "Arquitetura, Teatro e Cultura"
em 2011, foi efetuada uma pesquisa performática acerca da questão do herói na
cidade do Rio de Janeiro, evidenciando os processos de subjetivação que fomentam
nossa percepção e concepção do que é um herói hoje. Partindo dessa questão, as
performances propunham e incentivavam novas cartografias possíveis para estas
subjetividades associadas à figura do herói, buscando ampliar a liberdade de
percepção e compreensão do conceito de herói e de sacrifício, mas também alargar as
fronteiras associadas à própria linguagem da performance. Na segunda parte da
pesquisa, as performances realizadas ao longo dos dois primeiros anos foram
reelaboradas, servindo de material para a criação de um espetáculo/instalação
realizado em torno da pergunta "Por que você é pobre?". Este material foi ampliado
por investigações de campo e criações por parte dos atores-performers envolvidos no
projeto. Os resultados desta pesquisa foram apresentados em maio de 2012 no
Castelinho do Flamengo, na cidade do Rio de Janeiro. Realizado integralmente sem
dinheiro e na base da troca de competência e saberes, o espetáculo propõe um desafio
ético e estético, tentando repensar os valores tradicionalmente associados a idéia de
pobreza e riqueza. Este desafio passa por um questionamento relativo à
funcionalidade de diversos espaços culturais (salas de exposição, teatro e
performance) da cidade do Rio de Janeiro, já que a pesquisa permitiu evidenciar a
maneira como estes espaços são tradicionalmente associados em nosso pensamento
contemporâneo à idéia de pobreza ou riqueza. Desta forma, o espetáculo propõe uma
reflexão sobre a segmentação dos espaços culturais na cidade do Rio de Janeiro:
segmentação que conduz à uma seleção quase orgânica das populações que os
freqüentam, gerando agrupamentos temporários organizados em função da lógica do
capital. O artigo propõe uma reflexão sobre estas questões a partir dos experimentos
cênicos realizados juntamente com o grupo de professores e alunos de iniciação
científica e artística, levantando e cartografando novas possibilidades de criação
artística, de trabalho, de produção de sentido e de reflexão sobre os mecanismos de
valoração éticos e estéticos dos espaços. O trabalho busca assim refletir sobre as
formas de diálogo possíveis com os espaços materiais e imaginários mobilizados no
experimento, tentando levantar novas modalidades de pensar o mercado da arte
contemporânea, transitando por esferas distintas e gerando visibilidade em cima de
questões associadas a valores, corporeidade e espacialidade de uma forma mais
ampla.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Coletivo Heróis do Cotidiano

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Coletivo de Performance "Heróis do Cotidiano", com sede na Praça São Salvador, Flamengo, Rio de Janeiro. O Coletivo é composto por Gilson Motta, Jarbas Albuquerque, Larissa Siqueira, Marcio Vito e Tania Alice, a fotógrafa Eléonore Guisnet e vários "amigos do herói", como Vanessa Augusta, Kamila e Bernardo Marinho.


O Coletivo de Performance Heróis de Cotidiano, em atividade desde 2009 nas ruas do Rio de Janeiro, realiza intervenções urbanas que visam a potencializar os afetos e gerar micro-utopias efêmeras e temporárias dentro do espaço urbano, trabalhando na linha do artivismo, mistura entre ativismo político e arte. Vestidos de super-heróis (ou não), os performers do Coletivo investigam a linguagem performática, fundindo elementos do teatro, das artes visuais, dança, meditação parada e em movimento e ativismo político com elementos da vida cotidiana,
fundindo as instâncias arte/vida e investigando os rituais como formas de comunhão.

As performances valorizam o elemento relacional na arte, que considera como foco da obra de arte a transformação da relação entre performers e participantes, recriando um vínculo entre ambos e o espaço urbano e a natureza. Criando irrupções poéticas dentro de espaços urbanos sempre mais organizados em função da lógica neoliberal, as performances conduzem a uma forma alternativa de perceber e vivenciar os dispositivos sociais cotidianos e a repensar a relação entre arte e mercado e entre arte e “não-arte”.

Além das intervenções urbanas realizadas de forma cotidiana ao longo da pesquisa, vinculada ao projeto de pesquisa de Tania Alice na UNIRIO, o Coletivo apresentou seu trabalho em diversos eventos artísticos nacionais e internacionais como a Mostra de Artes do SESC São Paulo, o Encontro de Arte Contemporânea de Aix-en-Provence (França), o Fórum Cidade Criativa, o SESC Palco Giratório, o Simpósio Internacional da Brecht Society, a Semana de Arquitetura da PUC/RJ,  O Festival de Inverno do SESC, entre outros. Em 2012, o Coletivo se colocou o desafio de realizar sem dinheiro nenhum o espetáculo Por que você é pobre? (direção: Tania Alice), que ficou em cartaz durante 2 meses no Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho, no Rio de Janeiro.

Os registros em vídeo das performances foram apresentados na abertura de festivais de cinema e vídeo importantes como a Mostra Globale, a Mostra de Arte Livre e Sincera, o Festival Tricycle de Cinema de Washington, a Mostra CineSul ou a Mostra do Filme Livre. O Coletivo ganhou o Prêmio Artes Cênicas nas Ruas 2010 e o Prêmio de Circulação do Estado do Rio de Janeiro em 2011.


HERÓIS DO COTIDIANO - Trailer oficial - UNIRIO




Referências:
- https://www.blogger.com/profile/04350508139561023977
http://taniaalice.com/herois-do-cotidiano/

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

9 variações sobre coisas e performance

9 variações sobre coisas e performance

André Lepecki, Sandra Mayer

Resumo


Observado uma proliferação de uso de coisas, objetos, tralha em vários trabalhos de dançaexperimental e performance art recentes, proponho nove teses preliminares sobre tal fenômeno. Partindo do conceito de “dispositif” em Giorgio Agamben, e da sua expansão para lá dos limites com os quais Michel Foucault o havia definido, foco em como Agamben diagnostica uma onipotência no cerne do dispositif e que determina a subjetividade contemporânea como essencialmente subjugada ao jugo de objetos-dispositifs. Extraio desta noção, por via da obra de Fred Moten em estudos da performance e estudos críticos de raça, a necessidade de um movimento de co-liberação de sujeitos e objetos desse modo de sujeição ao dispositif. Com Karl Marx e Guy Débord, associo essa liberação a uma rejeição do objeto como dispositif-mercadoria, e procuro a afirmação objetiva-subjetiva da coisa. Invocando um paralelo com o devir-animal que alguma dança e performance buscam desde os anos 1960, proponho um devir-coisa na dança e performance recente, onde tanto objetos como sujeitos se libertam do jugo do dispositif-mercadoria e de noções de instrumentalização. Neste devir-coisa na dança, as teorias de Mario Perniola e Silvia Benso são fundamentais.

http://www.revistas.udesc.br/index.php/urdimento/article/view/3194

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

KOMBI, KOMBEIRO, EQUÍVOCA DA VIOLÊNCIA E OUTROS CONCEITOS

Performance Komboio. Corpos Informáticos: CCBB, Brasília. 2011.

KOMBI, KOMBEIRO, EQUÍVOCA DA VIOLÊNCIA E OUTROS CONCEITOS
Fernando Aquino - Corpos Informáticos
Márcio H. Mota - Corpos Informáticos
Maria Beatriz de Medeiros - Corpos Informáticos/UnB

RESUMO
O presente texto pensa, apresenta, tange e poesia (sic) sobre a intervenção/performance Komboio, Kombeiro ou Kombunda, realizada pelo Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos, 2011. Para tanto são utilizados os conceitos de “equívoca da violência”, composição urbana,

No princípio era o corpo e neste rapidamente inaugurou-se a violência. A violência é o poder inaugurado no corpo. Poder sobre o corpo próprio, sobre o corpo do outro, dos outros. Violência: abuso de força; violação; tortura; juízo. “Viol”, em francês, é estupro. Corpo lascado, rachado, ardido de seus fluídos, hoje, prenhe de hormônios. O corpo submisso diante destas palavras, escritas de forma compartilhada a seismãos, em rede, está sendo violentado. O corpo submisso no banco da escola desde os primórdios, o corpo submisso à biblioteca e Mestrado, o corpo submisso, mais biblioteca e Doutorado, o corpo submisso professor. O corpo submisso no carro. E na Kombi, o corpo é submisso?

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