Márcia X – uma antibiografia.
Alexandre Sá
..."Conheci Márcia X em 2003, em Pau Grande, no município de Magé, no Rio de
Janeiro, numa ação coletiva do grupo Imaginário Periférico. Estava engatinhando
completamente nessas fronteiras entre o corpo, o movimento, a poesia e a teatralidade, e, ao ser convidado para participar de tal evento, resolvi fazer uma performance (embora não soubesse bem o que era aquilo) em que vendava os olhos com uma atadura e, vagarosamente, rasgava e queimava algumas páginas do livro No interior do cubo branco, de Brian O’Doherty, como resultado de uma preocupação direta com os limites do trabalho de arte e com suas consequentes possibilidades de explosão e atravessamento. Ao final, lembro que Márcia X se aproximou e me perguntou, como um tiro: “Quem é você?”. A pergunta, que a princípio poderia soar preconceituosa e um pouco blasé por ser tão direta
e à queima-roupa, pareceu doce e dedicada, endossada por uns olhos realmente curiosos e que, naquele momento, me davam a sensação legítima de que me atravessavam. Respondi o que consegui, mesmo sem saber de fato quem era a tal figura exótica com cabelos longuíssimos; e ela, depois de um silêncio instantâneo, mas que se revelava estendido o suficiente para que o diálogo parecesse preenchido por diferentes marés, me disse que tinha gostado muito do trabalho e, com uma generosidade como nem sempre é possível encontrar no sistema de arte, me deu todo o incentivo possível para continuar."
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