segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Performance: a questão da autoria

concinnitas | ano 2014, volume 01, número 24, julho de 2014


Performance: a questão da autoria
Ricardo Basbaum


" ... na cadeia de reações que acompanham o ato criador falta um elo. Essa
falha que representa a inabilidade do artista em expressar integralmente sua intenção; essa diferença entre o que quis realizar e o que na verdade realizou é o ‘coeficiente artistico' pessoal contido na sua obra de arte."
É fácil reconhecer no texto acima a formulação de Marcel Duchamp a respeito
do ato criador, enfatizando o papel do público na recepção da obra, no julgamento que o incluirá ou não entre "as figuras primordiais da história da arte". O artista desenhado por Duchamp é "mediúnico", trabalhando no domínio da "pura intuição". Mas o genial artista francês parece, neste pequeno texto de 1957 –pronunciado em Houston durante uma Conferência da Federação Americana das Artes1 (à qual também compareceu o interessante antropólogo-biólogo Gregory Bateson) –, excessivamente preocupado com a "posteridade" e o "veredito do público": afinal, pensa-se logo, nem mesmo Duchamp escapou à obsessão modernista com a História.
Entretanto, Duchamp já havia feito às coisas funcionarem de outro modo, e
depois dele os objetos nunca mais foram os mesmos. Com certeza, podemos localizar na invenção do ready-made o gesto decisivo, indicativo de uma mudança no padrão da autoria artística, deslocando-a para o campo da apropriação – para um trabalho de redefinição do objeto. Duchamp não "cria" um ready-made, mas descobre-o com dia e hora marcados.

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