terça-feira, 2 de setembro de 2014

Performance artística e a questão da censura

Performance artística e a questão da censura
Maria Beatriz de Medeiros
Universidade de Brasília


A performance é arte tornada ação corporal efêmera, realizada no vivo ou ao vivo, isto é realizada com a presença de perfomers, artistas e interatores (espectadores convidados à participação) ou realizada através de novas tecnologias de comunicação, a internet. Aqui, não consideramos toda
ação (to act) performance (to perform). O que denominamos performance é arte, isto é, voluntariamente ato que visa revelar o outro do mundo sensível e, assim fazendo, criar faíscas de sensível inteligibilidade, entre seres humanos. Inteligibilidade sensível entendida sempre como faísca: pedaços desgarrados de compreensão redimensionável. E o sensível inteligente como aquilo que perdura. A sensação é aquilo que dura (DELEUZE & GUATTARI, 1991). A percepção é
aquilo que nos deixa abertos ao mundo. A performance quer tocar a percepção e ser guardada como sensação acariciada por alguma busca de compreensão.
Não se trata de dança ou de teatro. A carga de improviso eleva a tensão. O texto pode existir, mas não rege a ação. O corpo se coloca com tal. O outro é parte do projeto.
Assim, era uma vez uma mulher que adorava correr perigos mortais. Por isto resolveu realizar performances artísticas, primeiramente, confrontando seu parco corpo aos imensos cartazes publicitários de Paris. Nua, louca. Não satisfeita resolveu fazer um Doutorado sobre performance art. Isto é, resolveu, e temeu, tornar suas ações figuras de retórica: ações, para sempre mortas como
fotografias e vídeos sem sangue, tornadas palavras alinhadas, letras desesperadamente frias arrumadinhas como convém à academia.
Estávamos nos anos 80 e recebi uma bolsa de Mestrado do governo francês para realizar dois anos de estudos na França, mais precisamente em Paris. No Brasil fazia gravuras, litografias, sobre papel nobre e sobre papel ordinário. Estes eram colados nas ruas, nas paradas de ônibus, sobre cartazes publicitários no Rio de Janeiro. E também utilizava carimbos: “Atenção, para sua segurança, este
trem somente circula com as portas fechadas”, foi o carimbo mais utilizado. Estávamos no fim da ditadura e este texto, retirado do trem da Central do Brasil, fazia pensar. A estas ações chamava interferências urbanas com o intuito claro de ‘ferir’.

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