segunda-feira, 29 de setembro de 2014

KOMBI, KOMBEIRO, EQUÍVOCA DA VIOLÊNCIA E OUTROS CONCEITOS

Performance Komboio. Corpos Informáticos: CCBB, Brasília. 2011.

KOMBI, KOMBEIRO, EQUÍVOCA DA VIOLÊNCIA E OUTROS CONCEITOS
Fernando Aquino - Corpos Informáticos
Márcio H. Mota - Corpos Informáticos
Maria Beatriz de Medeiros - Corpos Informáticos/UnB

RESUMO
O presente texto pensa, apresenta, tange e poesia (sic) sobre a intervenção/performance Komboio, Kombeiro ou Kombunda, realizada pelo Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos, 2011. Para tanto são utilizados os conceitos de “equívoca da violência”, composição urbana,

No princípio era o corpo e neste rapidamente inaugurou-se a violência. A violência é o poder inaugurado no corpo. Poder sobre o corpo próprio, sobre o corpo do outro, dos outros. Violência: abuso de força; violação; tortura; juízo. “Viol”, em francês, é estupro. Corpo lascado, rachado, ardido de seus fluídos, hoje, prenhe de hormônios. O corpo submisso diante destas palavras, escritas de forma compartilhada a seismãos, em rede, está sendo violentado. O corpo submisso no banco da escola desde os primórdios, o corpo submisso à biblioteca e Mestrado, o corpo submisso, mais biblioteca e Doutorado, o corpo submisso professor. O corpo submisso no carro. E na Kombi, o corpo é submisso?

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Arte da fuleragem

Canal vimeo: http://vimeo.com/corpos/videos

birutas levam birutas de metro até a praia. 15072014



Corpos Informáticos

http://adautocandidosoares.files.wordpress.com/2011/06/encerando-rio-31.jpg

Arte da fuleragem, termo cunhado pelas mentes criativas de artistas plásticos e cênicos liderados pela Profª Drª Bia Medeiros do Instituto de Artes da Universidade de Brasília.
Com uma produção intensa, cujos trabalhos estão presentes em muitas das principais exposições de arte e tecnologia, artes plásticas e performance do País, o Corpos vem se firmando há duas décadas como uma referência no conceito de arte e tecnologia. O registro audiovisual; a manipulação de imagens e a utilização de novas tecnologias de informação e comunicação tais como as redes sociais e a pesquisa sobre técnicas de tele-presença são atividades corriqueiras nos projetos do Grupo.
Composto por uma dezena de artistas, o Corpos Informáticos utiliza espaços públicos e de exposição para mostrar suas criações que utilizam uma variedade incrível de recursos e linguagens para mostrar sua arte. A performance, no entanto, é a forma de expressão artística mais utilizada e que guarda a predileção de seus integrantes. Salta aos olhos o dinamismo do processo de criação do grupo que acontece delineado num percurso curioso. 


Grupo de Pesquisa CORPOS INFORMÁTICOS
coordenação: Professora Doutora Maria Beatriz de Medeiros
Pesquisadores: Alice Stephanie, Carla Rocha, Frederick Sidou, Gisele Alvarenga, Katiana Donna, Maria Luiza Taunay, Milton Marques, Ramon Sodoma, Robiara Becker. 



"O questionamento que norteia a pesquisa do Grupo CORPOS INFORMÁTICOS, por mim coordenado, refere-se à relação homem-máquina, à secante corpo/novas tecnologias sendo estas últimas tomadas como fundadoras do organismo simbólico do indivíduo contemporâneo. Pensamos em um equilíbrio para o sistema ecológico deste organismo simbólico, agora, em acelerada modificação permanente. 

O corpo animal do homem questiona a efficaci®realidade do universo tecnológico. O corpo é o sujeito, e o maior objeto, das novas tecnologias. Na publicidade, o corpo não é corpo vivo e contraditório. Ele, aí, não é o lugar da “verdade subversiva do desejo”. (1) O corpo veiculado pelos meios de comunicação unidirecional, ditos, de massa, é um corpo “erotizado” com uma significação sexual planificada e calculada, ele é esvaziado do desejo. (Qual desejo? Em meio de comunicação unidirecional não há espaço para uma reflexão imagética, ou teórica, desta ordem). O corpo, aí, não é nem carne, nem sexo, mas objeto transformado em signo por abstração e semiologização: signo com uma função social de troca. Pela valorização destes “corpos”, o indivíduo é levado à se privar de seu corpo orgânico. Obcessão: higiene e asepsia. Corpo-objeto, objeto de culto a ser cuidado, limpo, tratado.

A partir dos anos 20, mas, sobretudo, a partir dos anos 50, o artista plástico torna-se o sujeito da arte e seu corpo objeto. Performances, happenings ameaçam os contornos das artes plásticas. Belas-Artes? As outras linguagens artísticas também trans-bordam. Dois elementos são fios condutores de perturbações: o corpo e o tempo como elemento estético.

“Particularmente, hoje em dia, o real não é mais do que isto: estocagem de matéria morta, de corpos mortos, de linguagem morta.”(2) A linguagem corporal, corpo real, dificilmente se tornará linguagem arcáica e comprometida. O corpo humano e sensual, secreções e contaminações, é processo e efêmero. Por sua opacidade se opõe à “transparência” conceitual, ele é ruptura e revela o indizível, condição da arte, como queremos, com Barthes.

A linha (o desenho, a pintura) têm em si um eco do corpo, “os desenhos são irmãos dos textos em pressão de angústia”(3), então os desenhos são também irmãos dos textos em pressão de prazer. Sobre o papel a linha escorre livre, ela não segue as paralelas do caderno, ela toma toda a página, de cima em baixo, da direita à esquerda. Em desenhos, o gesto se destaca, se desgarra em uma direção onde não podemos surpreendê-lo. Assim estes são irmãos dos textos em pressão de prazer e em intensidade de gôzo. O corpo, desenhando no espaço tridimensional um momento “infinito enquanto dure”(4) e efêmero, não somente com a mão e o braço, mas com todos os seus membros e membranas, não pode ser linguagem, código. Ele desafia e gera descarrilhamento da inteligência, risco de ilimitação, desmantelamento das fronteiras da identidade, enfim, prazer estético.

As teorias filosóficas, assim como a percepção e o senso comum, imobilizam. Pensamos por conceitos durante séculos. Hoje nasce uma compreensão da realidade que nos sensibiliza para o tempo (e para os conceitos) como processo. O aparecimento da ecologia é uma das cconsequências desta nova compreensão. O prazer estético contemporâneo rreivindicao tempo como elemento estético presente nas “artes do tempo”(Gillo DORFLES): performance, happening, instalações efêmeras, vídeo-arte, e computação gráfica. Nas duas últimas existe ainda uma outra linha de reflexão: a espacialidade gerada por cor-luz emitida.

“E se a obra pressupõe a travessia da transitoriedade para buscar o tempo em estado puro ela se colocará, também, do ponto de vista da elaboração, numa situação temporalmente indeterminada, entre dois horizontes, o do começo, numa abertura indefinida para o antes, e o do fim, numa perspectiva indefinidamente aberta para o depois. … o tempo… assumí-lo como meio envolvente, em que se transita e em relação ao qual o começo e o fim não são instantes absolutos mas, respectivamente, paisagem de origem e nostalgia de completude.” (5)


A vídeo-arte possibilita a transcrição de secreções e contaminações se exprimindo em faíscas de prazer, de angústia. Ela pode trazer à tona o corpo-signo energético, signo questionador da positividade tecnológica, efficaci®realidade, deste mídia, a teoria da cor-luz (a ser escrita), o tempo como elemento estético, questões de autoria, de obra única, de imutabilidade de conteúdos… A vídeo-arte, mas sobretudo, o computador pessoal (futura televisão interativa), suporte comunicacional (pluri-direcional), não mais permitirão um retorno à arte estática, duradoura e individual. No entanto, na computação gráfica, o corpo é simulacro deste signo. Que corpo para as redes de comunicação? 

O corpo, tornado signo na linguagem videográfica, circulando em mídia digital interativo, deixará sobreviver o risco de ilimitação, de desmantelamento das fronteiras da identidade, ou ainda, que resquícios, que centelhas de hipoícone “sobreviverão” em corpos algorítmicos? Que consequências para a ecologia simbólica dos indivíduos e da sociedade? 
__________________

(1) BAUDRILLARD, Jean, “La société de consommation”, Idées/Gallimard, Paris, 1970, p 213.
(2) BAUDRILLARD, Jean, “Oublier Foucault”, Galilée, Paris, 19777, p. 63.
(3) LYOTARD, J.-F., “Dérive a partir de Marx et Freud”, UGE, col. 10/18, Paris 1973, 320pp.
(4) Vinícius de Moraes.
(5) SILVA, Franklin Leopoldo e, “Bergson, Proust. Tensões do tempo”, in NOVAES, Adauto, Tempo e História, pp. 141 à 153, p.152.

Bia Medeiros
Brasília, 1995





Referências:
http://adautocandidosoares.com/2011/06/24/pura-fulerage-do-grupo-corpos-informaticos/
http://corpos.blogspot.com.br/2004_10_01_archive.html

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Grupo EmpreZa

“Eles têm essa relação com o corpo que é algo muito recorrente em suas performances. Esse tipo de pesquisa que fazem os coloca hoje como um dos grupos mais importantes dessa área no país”, diz Bruno Figueiredo (artista e fotógrafo mineiro)

Nossa poética é fortemente ancorada na materialidade do corpo, e em suas qualidades simbólicas, remetendo às estratégias da Body-Art dos anos 60 e 70 do sec. XX. Nossas obras remetem ora a momentos de grande lirismo, ora a quadros de violenta escatologia, e pretendem-se sempre como alegorias corporais políticas do sujeito em seu meio.


Fundado em 2001, o Grupo EmpreZa é um coletivo artístico com atuações pautadas na performance arte, nas experimentações com o vídeo e com a fotografia.
O principal eixo poético do grupo é o próprio corpo e seus desdobramentos, a partir de um reconhecimento de diversas situações humanas, coletivas e individuais, contemporâneas. A maioria das ações opera com questões como corpo individual e corpo coletivo, corpo privado e corpo público, corpo natural e corpo cultural, corpos centrais e corpos periféricos, e de como, sendo nosso corpo a nossa âncora existencial, ele se situa e se comporta nos substratos da realidade. Esta abordagem considera a idéia de um corpo que, de fato, é a coisa mais universal que o ser humano possui, nosso vínculo com a lama primordial, onde se situa nosso parentesco com as outras coisas, nosso claustro de prazeres e dores, fonte de todos os desejos, portanto de todas as dúvidas, e nossa única chance de existir. Integrantes: Aishá Terumi Babidu Christiane Frauzino Keith Richard Mariana Marcassa Paulo Veiga Jordão Rafael Abdala Thiago Lemos















Referências:
- http://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/magazine/artistas-p%C3%B5em-museu-em-xeque-1.874808
- https://www.facebook.com/EmpreZaGrupo
- http://www.grupoempreza.blogspot.com.br/
- https://www.youtube.com/channel/UCViGq733-K36zVGXW7Dcxag

UERJ SEM MUROS

Apresentação do projeto Núcleo de Pesquisa Corporal no último dia 25 de Setembro.





segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Performa(ti)Cidades

24, 25 e 26 de Setembro de 2014

"O Colóquio Internacional Performa(ti)Cidades reúne um grupo de professores, artistas-pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduação dos campos da dança, do teatro, da performance, das artes visuais, da filosofia, da comunicação e educação, para apresentação de trabalhos que tenham como foco o tema do corpo/cidade/performatividade. 
Pensando como lugar de encontros, de intercâmbios e produção de saberes em rede, o colóquio constitui alguns dos desdobramentos do projeto Zonas de Contato, que se constitui de um programa de resistência artística e de intercâmbio cultural voltado para o fortalecimento das pesquisas e produções artísticas de grupos e coletivos da cidade do Rio de Janeiro e do interior do estado.

O projeto Zonas de Contato iniciou-se em 2011 vinculado ao projeto de extensão Palco em Debate, do Instituto de Artes da UERJ; mas, foi a partir de 2012 com o apoio da FAPERJ, que o projeto ampliou sua rede de parcerias, proporcionando novas discussões acerca das relações entre arte, intervenção e coreografias urbanas, que resultaram na criação de performances e de experimentos cênicos voltados para o cenário voltados para o cenário expandido das cidades." 




Instituto de Artes 
Direção
Denise Espirito Santo
Comissão cientifica
Aldo Victorio, Alexandre Sa e  Eloisa Brantes 
Comissão organizadora 
Ana Paula Emerich, Carmen Luz, Julia Lotufo, Juliana Cunha, Juliana Zarur, Natalia Regina, Paola Marugan, Raquel Lazaro, Rodney Wilbert, Sara Panamby e Violeta Pavão


informações:
 facebook.com/PerformaCidades
performacidades.wix.com/performaticidades
performa.cidades@gmail.com
facebook.com/ZonasdeContato
zonasdecontato.wix.com/zonas-de-contato

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Confiança


Autor: Mariana Schumacher Aguiar
Co-autor: Alexandre Sá Barretto da Paixão

O participante principal será guiado por vários ajudantes dentro de um espaço público após ter os olhos vendados por um pano preto. Cada pessoa que acompanhar o performer será responsável por guiá-lo dentro do espaço e entregá-lo até outra pessoa que cumprirá essa mesma função.  O objetivo da ação é deixar-se levar e aprender a confiar dependendo do outro. Através dessa relação que se estabelece entre os indivíduos, as preocupações se tornam mais amenas e a realização pessoal de que não podemos decidir tudo sozinhos é alcançada.  A performance dura cerca de 30 minutos.

Local: Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
Data: 18/09/2014


Foto: Nathan Gomes
Foto: Nathan Gomes

Foto: Nathan Gomes

Foto: Nathan Gomes

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Você sabe para onde está indo ou apenas segue o fluxo?

O Núcleo de Pesquisa Corporal também se propõe a pensar e realizar performances artísticas. A ação "Você sabe para onde está indo ou apenas segue o fluxo?" foi realizada no mês de Setembro e parte de uma questão pessoal da estagiária Mariana Schumacher cuja pressão para decidir seu futuro profissional é uma grande agonia. Assim como para muitos jovens e para aqueles, mais velhos, que acabaram vivendo apenas seguindo o fluxo de uma sociedade que impõe seu ritmo de trabalho e não tomando suas sinceras decisões.


Performance/2014
Autor: Mariana Schumacher Aguiar
Co-autor: Alexandre Sá Barretto da Paixão

O performer se coloca em um local de grande circulação de pessoas assim como a entrada da UERJ e começa a entregar panfletos com a seguinte pergunta: "Você sabe para onde está indo ou apenas segue o fluxo?".
O objetivo da ação é o de instaurar o questionamento na cabeça daquele que aceita o papel. Afim dele se perguntar se está realmente indo fazer ou realizando o que realmente deseja para a sua vida.

Registros: Thatiana Montenegro








terça-feira, 16 de setembro de 2014

Zmário



José Mário Peixoto Santos (Zmário) é educador, artista performático e pesquisador da linguagem artística performance. Mestre em Artes Visuais (Teoria e História da Arte) pelo PPGAV - Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes - UFBA.

Referência: http://www.zmarioperformer.blogspot.com.br/



  • A sombra dos pilotis, 2011. Festival Performance Arte Brasil - MAM Rio de Janeiro




  • Teorias e conceitos bem amarrados (palestra performática), 2007-11. 


  • Fluorescência Z1M1, 2009-13

O artista utilizará água e sabão antibacteriano para lavar as mãos de maneira obsessiva e compulsiva nos sanitários públicos e fontes do centro da cidade enquanto cria uma coreografia no ritmo de música eletrônica (Ma House, DJ Fernando Ribeiro). A ação faz referência não somente à Influenza H1N1, mas de maneira geral aos medos, fobias e ansiedades tão comuns na sociedade contemporânea. Ao término da ação, algumas imagens serão editadas/transformadas em cores fluorescentes e lançadas na rede mundial de computadores como um “vírus imaginário” que, em tempos de pavor e mortes anunciadas, poderá contaminar a todos com leveza e bom humor.

"Fluorescência Z1M1", 2013.

Performance integrante da Mostra Casa Aberta, Vivadança Festival Internacional 2013. 
Passeio Público, Teatro Vila Velha. 
Salvador, Bahia, Brasil.
Curadoria geral: Cristina Castro.

Set "Ma House", DJ Fernando Ribeiro:

Vivadança:

Registros: Arthur Scovino.



Mostra OSSO Coletivo de Performance Urbanas. Série: Praças. (2009)
Registro: Tuti Minervino
http://www.zmarioperformer.blogspot.com.br/

Performance e os movimentos estéticos de vanguarda

PERFORMANCE E OS MOVIMENTOS ESTÉTICOS DE VANGUARDA
Ana Erica Reis da SILVA (FL- UFG/ CAPES-REUNI)
anaerica86@gmail.com
Jamesson BUARQUE (FL-UFG)
jamessonbuarque@gmail.com


"Resumo: A performance como gênero que flutua por entre fronteiras de outras 
linguagens artísticas não se enquadra em limites disciplinantes, vez que valoriza o 
processo de liberdade criativo. Ao perpassar por movimentos estéticos como 
Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo e a escola da Bauhaus, a performance funcionou 
como uma “mola” propulsora no que tange ser uma arte desprovida de regras e 
conceitos, visto que possibilitou aos artistas de cada estética experimentações das 
mais variadas, que iam desde um tipo de música diferenciada feita com ruídos até 
espetáculos deslumbrantes que misturavam teatro, circo, pintura e poesia. A partir 
dessas afirmações, pretendemos investigar como essas estéticas se relacionavam 
com a performance a fim de romper com a arte tradicional e propor novas formas, 
firmando-se como artes de vanguarda. "


Performance como linguagem



Renato Cohen
PERFORMANCE COMO LINGUAGEM

Criação de um tempo-espaço de experimentação




"A questão da performance torna-se central na sua manifestação
contemporânea e o próprio campo de estudos amplia-se desde as
manifestações da arte-performance, cuja genealogia e modo de
produção são abordados neste livro, desde as questões da ritualização,
da oralidade, da tecnologia, até as de todo o contexto cultural envolvido
na ação performática e performativa, estudos esses que têm sido
desenvolvidos pela Performance Studies - associação filiada aos
estudos pioneiros de Richard Schechner da New York University." (fragmento)




Guaraci Gabriel



GUARACI GABRIEL

O artista  participa da Bienal com a obra  “O artista que não existe”,
Que pode ser vista em tablets com leitor de Código QR
Fotografia: Divulgação

 TEM FORMIGA NA BIENAL

Yuno Silva (Tribuna do Norte)
  

Montado na garupa de uma formiga imaginária, o sempre inquieto Guaraci Gabriel pegou a estrada rumo ao Sudeste para se integrar à 31ª edição da Bienal de São Paulo, evento de alcance internacional que figura na lista dos três mais importantes do mundo no circuito das artes visuais. Inicialmente Guaraci iria fazer apenas uma participação extraoficial, mas a performance “O Artista que não Existe” acabou integrada a programação e fez do artista o segundo potiguar a participar oficialmente da Bienal paulista – o pioneiro foi Abraham Palatnik, 86, menção honrosa na primeira edição da mostra paulista em 1951 com sua arte cinética.

A proposta de Gabriel é expandir a realidade a partir da leitura de um código QR, impresso nas costas do paletó do artista, que remete quem aponta um smartphone ou tablet (conectado à internet) para outra dimensão, revelando uma paisagem virtual onde se vê a galeria onde acontece a Bienal ocupada pela escultura do formigão de 5 toneladas e 12 metros montada às margens da BR 104 em Queimadas (PB) – para conferir a obra enquanto você lê esse texto, basta apontar o leitor de QR Code de seu equipamento para o desenho nas costas do artista.

Vale destacar que o foco da Bienal deste ano está centrado no “potencial da arte e sua capacidade de agir e intervir”, tirando do centro das atenções as obras de arte em si para valorizar a criação compartilhada e a relação pessoa-arte desdobrada durante e depois do encerramento da exposição. “Minha performance está sintonizada com o tema da Bienal, que é ‘Como (ouvir/ver/escrever sobre) coisas que não existem’”, explicou Guaraci, que após circular com seu trabalho nos dois primeiros dias da Bienal (6 e 7 de setembro), no Parque do Ibirapuera, levou sua formiga imaginária ao Memorial da América Latina.

O artista já colhe os frutos de sua ousadia, e revela em primeira mão ao VIVER que, “se tudo correr nos conformes”, no final de outubro voltará ao Memorial da América Latina acompanhado da instalação física da formiga gigante.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

"Cuidado" - Bia Medeiros





Concerto para cigarras no tempo de um cigarro

Performance realizada no PCCP 2012

Diego Azambuja






Diego Azambuja – Conceito de arte da performance como arte em rede

http://vimeo.com/72671556

CorpoPoético: uma cartografia do lugar

CorpoPoético: uma cartografia do lugar 

Texto de Lilian Amaral

CorpoPoético funda-se na concepção ampliada da arte como experiência, tendo os lugares da 
cidade – reais e imaginários – como suporte para criações coletivas envolvendo artistas e não 
artistas. Do espetáculo à experiência da cidade, passa-se às diferenças entre visualidade e 
visibilidade, passa-se da cidade ao lugar. Opera-se uma distinção entre visualidade e 
visibilidade, entre recepção e percepção, entre comunicação e informação. Em todas essas 
diferenças se produzem metamorfoses do olhar. 

CorpoPoético: 
Confluência de espaços

O texto elaborado a seguir define-se mais como um roteiro e idéias e experiências
do que propriamente um ensaio. Entendemos a arte como provocadora de encontros e é
sobre encontros que constituem novas paisagens humanas que vamos iniciar nossa
discussão.
Cabe, antes, abordarmos certas conceituações que têm permeado nossa
investigação. Pode a produção artística contemporânea ser tomada como campo
potencial para um processo transdisciplinar de conscientização de nossa época? Quais
são as perspectivas transdisciplinares de re-significação dos espaços culturais – os locais
tradicionais da arte e a os da não-arte, o cotidiano? Como pensar a relação da arte e o
público no espaço urbano, uma vez que este espaço, na atualidade, alterou a lógica do
monumento, sendo ele próprio o monumento contemporâneo, instaurando cidadesmuseu,
estabelecendo analogias entre cidade e indústria cultural, turismo e
entertainment?
Diante de um panorama caracterizado por tamanha complexidade, apontamos a
experiência CorpoPoético, prática estética coletiva e colaborativa configurada no âmbito
da arte pública contemporânea, ou seja, da arte inspirada, tecida e construída no espaço
urbano e para o habitante urbano, a qual redefiniu decisivamente nossa plataforma de
atuação em inter-ação/intervenção urbana e humana. CorpoPoético desenvolveu em
finais dos anos 90 conceitos e ações que problematizaram e potencializaram, por
intermédio de diversas linguagens artísticas, meios expressivos e comunicacionais,
formas renovadas de apropriação e atribuição de sentido à experiência urbana cotidiana.
Partimos da idéia de que os artistas transfiguram os espaços cotidianos e culturais
entre locais de alienação e rituais de conscientização. Milton Santos comenta que
quando o homem se defronta com um espaço que não ajudou a criar, cuja história
desconhece, cuja memória lhe é estranha, esse lugar é a sede de uma vigorosa alienação.
Mas o homem, um ser dotado de sensibilidade, busca reaprender o que nunca lhe foi
ensinado, e vai pouco a pouco substituindo a sua ignorância do entorno pelo
conhecimento, ainda que fragmentário. Pareceria estranho mencionar um geógrafo para
ancorar um comentário sobre o momento de re-significação dos espaços culturais. O
que está em jogo dentro de uma reflexão sobre papéis e tendências dos locais públicos
de circulação da arte e por conseguinte, cultura e conhecimento, é a preocupação com a
geografia de uma sociedade partida na qual tanto artistas quanto não-artistas se
encontram.
William Mitchell aponta que a mobilização do público em torno de um projeto de
interesse da comunidade é tão importante quanto o resultado por ele desenvolvido, uma
vez que problematiza o cidadão-participante em relação à sua realidade cotidiana. Ao
ver seu ‘produto artístico’ inserido no circuito urbano e fruído por inúmeras pessoas, o
artista/público é levado a refletir sobre as formas de circulação e consumo da arte
contemporânea a partir dos mecanismos utilizados pela publicidade e comunicação de
massa (Mitchell, 1984: 153).
Compartilhando das idéias desses autores, a historiadora e crítica de arte norteamericana
Mary Jane Jacob, refere-se à Arte Pública como um processo de cooperação,
de troca mútua, um diálogo. O plano de obra do artista deveria permitir flexibilidade e
mudança. O artista deveria constantemente ultrapassar as barreiras que separam arte e
vida estabelecendo uma aliança vigorosa entre arte e vida cultural das comunidades,
com a possibilidade de que artistas saiam de museus e galerias e entrem no espaço
público e vivo da cidade, de que eles encontrem sua própria voz artística enquanto
ajudam a expressar a voz dos outros.
A intersecção entre arte e cultura cotidiana – arte e vida – esteve sempre presente
na história das manifestações artísticas, porém positivamente como transcendência e
imanência do poético ao sagrado, do decorativo aos rituais.
Talvez uma nostalgia de comunhão entre arte e vida sejam reflexos de situações
ou estados culturais onde essa categoria como entendemos hoje – arte, não fosse
fragmentada ou mesmo identificada separadamente – tudo era vida/rituais de
vida/casamentos/guerras/morte/vida. Há mais de duzentos anos que essa crise de
fragmentação é articulada pela cultura européia, hegemônica, branca. Mas, de que crise
estamos falando? Quando a arte se distancia do cotidiano, são inaugurados os templos
da arte nos salões e seguidamente, os museus da república, do deslocamento entre
mundo da arte – arte erudita – e vida com arte – as artes populares, dança, música, teatro
de rua, etc. Esses Passaram a ser exatamente mundos paralelos – onde as revoluções
artísticas, ou os artistas revolucionários, como Goya, Courbert, entre outros, marcaram a
história por cruzarem estas fronteiras.
Da virada do século XX até os dias de hoje a história das vanguardas reconta
justamente este espírito de insatisfação com este isolamento e a busca de imersão ou
‘rituais’ de confluência entre a arte e o agora – cotidiano. Inspirados por poetas,
filósofos, (especial referência a Baudelaire, Apollinaire, Bergson, Ponge, Merleau-
Ponty) a produção artística moderna e pós-moderna constrói e desconstrói essa distância
entre arte e vida (moldura, pedestal, cubo branco, anti-museu, anti-arte).
Hoje voltamos a debater o lugar da arte – fora do museu, no cotidiano – e mais
ainda a própria instituição ‘museu’ se vê pressionada a conquistar um lugar no cotidiano
urbano na era do espetáculo, ora confundindo-se ora competindo com shopping centers.
A informação e a comunicação que caracterizam a cidade contemporânea parece
emergir de uma lógica própria, aliada que está à sociedade de consumo.








segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Espectador na Performance: tempo presente

Espectador na Performance: Tempo Presente
Rita Gusmão

O espectador como suporte e co-realizador da obra de arte performática, no seu modo ao vivo; a relação entre a fisicalidade das emoções e do tempo-espaço, sua expressão e formalização no corpo do espectador, tornando-o uma das expressões da obra. A fluência, percebida como desenvolvimento no espaço-tempo, interação e composição do fluidor com a obra, caracteriza melhor a relação da figura espectador com a obra na atualidade, pois não ao usufruto que leva esta relação, mas à troca e à reconstrução.


Quero ver aqui o espectador como figura do evento artístico, que se faz necessário nas diversas linguagens sob formatos diferenciados e que complementa a obra quando flui com ela. No caso das Artes Visuais, penso o espectador como o que
contempla o formal, que participa da atmosfera e da significação da obra no espaço, e que imerge em emoções predominantemente individuais.
Nas Artes Cênicas, a fluência da obra é coletiva, isto é, de pelo menos um
atuante e um espectador simultaneamente, e isto acopla à percepção formal a percepção corpórea e emotiva de outro. Na Peformance, no seu modo ao vivo, a fisicalidade das emoções e do tempo-espaço, se expressam e formalizam no corpo do espectador, tornando-o uma das expressões da obra. A fluência, percebida como desenvolvimento no espaço-tempo, interação e composição do fluidor com a obra, caracteriza melhor a relação da figura espectador com a obra na atualidade, pois não ao usufruto que leva esta relação, mas à troca e à reconstrução.
O espectador, receptor público, está na ponta do processo comunicativo em que
se inserem o criador, o espaço e a obra. É, ele quem realiza a obra, pois é ele quem compõe a sua totalidade, num processo ativo de percepção, associação e resposta ao criador. O funcionamento da obra de arte é um complexo que não poderá ser reduzido apenas à decifração de signos, e o espectador é o elo que possibilita que as várias funções da obra se articulem e se realizem.
No espectador acontecem simultaneamente as seis funções de linguagem
(Jakobson In: Ubersfeld, 2005) que podem nos servir para definir esta figura no
processo elaborador da obra. Primeiramente, a função emotiva, ou de motivação para, participar, refletir, negar ou continuar a obra; em segundo lugar a função conativa, que é a articulação interna de resposta do receptor segundo seu repertório de vivências anteriores; em seguida a função referencial, que garante que este receptor se remeta ao real e contextualize o signo escolhido pelo criador. A função fática mantém o espectador ciente de que está em presença de uma obra de arte e que as relações possíveis são de fato possíveis. A função metalingüística reflete a condição de produção, auxiliando o espectador na fluência dos signos e do todo da obra. E a função poética, que é a projeção dos signos e do complexo sígnico que perfaz a obra sobre a totalidade da sua presença no tempo e no espaço reais. O espectador é este complexo que compõe e completa a obra.
A idéia de evento artístico para designar os variados formatos utilizados na
atualidade para a mostra das obras de arte, surge da triangulação de três elementos comuns na obra de arte contemporânea: o tempo como conceito em debate ou conflito nas obras, segundo a rejeição a definições em contraponto à assunção ou provocação de dinâmica de transformação interna às obras, e em terceiro, a ação devoradora da imposição midiática da novidade constante.
A questão do tempo como conceito primordial nas relações do ser humano social
com o espaço e com sua produção simbólica, na atualidade toca à velocidade, como conflito. Para Paul Virílio, o limite do processo de percepção do movimento a que o espectador contemporâneo está submetido pelos motores, entre eles a câmera de filmar, treinou-o a usar o máximo da sua capacidade de identificação visual rápida para averiguar as imagens. A fluência das obras de arte é atingida por este treinamento, e o olhar que contemplava e tinha o tempo de ver, “não escolhe mais onde se deter porque a partir de então ele pode se deter não importa onde, em todos os lugares e em nenhum lugar, o que para constituir suas próprias imagens, volumes, valores, distâncias lhe fazem cruelmente falta” (Virilio, 1996: 67).
A questão da necessidade de dinâmica interna em movimento para a obra, e sua
transformação dentro desta dinâmica parece ter sido estimulada pela rejeição ao passado oriunda da modernidade. Esta modernidade se constituiu como uma figura crítica que suscitou no seu momento de auge o impulso de ruptura e inovação, de autoquestionamento, concordando com Subirats (Subirats: 1991). Penso no ato de assumir a deterioração dos materiais como linguagem das obras, ao invés de imobilizar o movimento do material para torná-lo plástico. E de implicar o espectador nesta deterioração, incitando-o a manipular, penetrar, usar ou destruir a obra. Estimulando a cultura da crise.
Quanto à ação devoradora da imposição midiática pela novidade constante,
parece ser uma influência pós moderna. Um demonstrativo da angústia artística diante da constatação de que nada é original, pois o pensamento é construído pelas vivências coletivas, desde a concepção uterina, e tudo o que colocamos à mostra, muito mais vem à tona do que é criado, sendo esta não-originalidade uma das prerrogativas pós modernistas. Estas características formam um contexto, onde as obras e até as linguagens, se querem eventuais e se desdobram em afirmar isto, se propondo a desconstruir os significados iniciais a cada elemento acrescentado ao contexto criativo.
A posmodernidade parece pensar o artista como um aglutinador de momentos de
passagem, onde as sínteses pairam, e cabe ao espectador realizá-las em si mesmo, no espaço ou na obra. Uma cultura da não-arte.
O espectador, moderno e/ou posmoderno, realiza com seu corpo um sistema
complexo de relações que liga a criação à fluência da arte. Outra prerrogativa do
posmodernismo, a identidade (Stangos, 1994), é a estrutura que lhe proporciona
consentir este sistema, que envolve intelecto, emotivo e corpóreo em igual medida. O corpo sobre si mesmo, e por acepção o espírito sobre si mesmo, envolvido pela fluência da obra de arte, dá vazão ao caráter polifônico da subjetividade (Guattari, 1998), permitindo uma colocação em atividade de vários canais perceptivos simultaneamente e o deslocamento da percepção mecânica do seu ao redor.
Na Performance o deslocamento exige do espectador que a cartografia deste lhe
seja consciente, pois caracteriza este evento artístico a agregação de territórios
existenciais, do criador e do espectador, por meio da experiência sensorial simultânea de ambos. A interação de campos de significado é uma atitude performática, que revela o plural de vozes que interagem na obra desde a sua concepção, implica uma consciência em seus fluidores da sobreposição de significados que lhe é resultante. O lugar do artista passa a ser o uso das interfaces que emergem dos campos de significância como material artístico, e a composição de ações e materiais que sejam capazes de contextualizá-las para o tempo e o espaço da fluência da obra com o espectador.
No processo performático, o artista é catalisador da circunstância efêmera da
obra para o espectador; desenvolve a materialidade da representação, através da
multiplicidade de discursos contrastantes implícitos nas ações-objetos. Esta
materialização se expressa por meio de discursos que entram em diálogo com o
espectador, gerando o vínculo energético indispensável e onde ambos são sujeitos do fazer, assim como suporte do prazer do outro. A noção de suporte se amplia se a pensarmos como vivência do desejo e seus fluxos emotivos. O espectador, esse
vivenciador da invenção sígnica, é solicitado a exercer suas próprias significações para os elementos da obra, e a fluir plenamente com a fusão dos elementos afetivos no prazer pela relação simbólica, pelo desejo representado.
A Performance está para o deslocamento da significação, para uma dispersão do
sujeito socialmente elaborado, em busca da autenticidade do seu desejo. O espaço e o tempo se integram para o cruzamento das referências e das simulações do ser; lugar onde a leitura seja o espaço da ativação da figuração para o espectador, da alteridade, do poder, da memória, do reflexo, da espacialização do pensamento, e mais uma vez, do desejo. Há uma ocupação com a corporalidade do espectador, que aponta para uma renovada relação social, cultural e política para o evento artístico. Uma área de discurso aberta na direção de uma figuração do reprimido, e até do impossível ou intolerável, sedutora para uma civilização imersa na tecnologização do cotidiano e na materialização mecanizada das ações. Esse corpo-espectador, multiculturalizado pelas mídias, convive com a velocidade, e esta se lhe afigura como espontânea e natural.
A velocidade, como manifestação do tempo, gera modos de conhecimento e de
representação. Na corporalidade, a velocidade marca a ausência do objeto e uma relação absolutamente efêmera com ele. Por outro lado, a velocidade gera uma substituição óptica da ausência, quero dizer que a velocidade gera um contexto de proximidade com o que já não está presente, tornando desnecessária a presença. Esta percepção vem sendo desenvolvida no espectador pelas mídias da imagem em movimento e pela cultura da não-arte. Ela apaga os indícios materiais da realidade, imprimindo uma espécie de apreciação seqüencial do mundo, que é todo ele fragmentação e necessidade de vivência do presente, pois a velocidade deixa atrás de si o vazio.
Um olhar treinado para captar, sem perceber, a seqüência de imagens que
desfilam ininterruptamente no mundo, levará a percepção a transformar o tempo
presente ao espectador em tempo real. O tempo da percepção será fragmentado pela diferença entre a ação de olhar e a necessidade de ver/captar imagens em seqüência contínua de movimento.
A velocidade reestrutura a noção de tempo presente para o espectador, e este na
posmodernidade contém a marca da percepção pessoal. A velocidade consegue garantir a condição de verdadeirização do evento, mas deixa livre o espectador para vivenciar sua condição de efemeridade. Na fluência da Performance o tempo presente é o canal de abdicação da racionalidade pura, que possibilita a abertura para percepções simbolizadoras do evento. A aceitação do processo de verdadeirização individual é parte do contexto de captação do complexo sígnico da Performance. O tempo presente é um contexto narrativo que absorve as percepções negativas e positivas, e que vai se adaptando aos imprevistos e às surpresas, gerando um momento simbólico único, e que se fortalece por ser dependente do estado do espectador em relação ao espaço e às ações da Performance.
A Performance é pensada aqui como a arte do instante presente, o tempo real
substanciado e se tornando presente para a percepção, no sentido de que todo o contexto continua sendo criado na presença e no diálogo de presenças entre criador e espectadorcriador. Ambos estarão presentes nas suas pessoas, as ações serão ampliadas para continuarem mais e mais presentes e a efemeridade comporá a ritualização do instante. O tempo presente como ação de leitura que emerge do contato e do diálogo com os corpos atuantes. A presença como única mediação da fluência da obra. Ao encarar o tempo presente como categoria definidora de ação performática, a atitude reconstrutiva e aberta em relação à realização da obra é seu complemento. A produção de relações só se pode realizar de fato numa atitude de presentificar o tempo e a presença do outro. Estar com e promover a relação constante, assumir a presença e o tempo presente de cada espaço e da maioria possível de espectadores como o roteiro da ação performática.

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Referências Bibliográficas
COHEN, Renato. Performance Como Linguagem. São Paulo: Perspectiva. 2002.
STANGOS, Nikko. Concepts of Modern Art. From Fauvism to Postmodernism. Third Edition,
London: Thames and Hudson. 1994.
SUBIRATS, Eduardo. Da vanguarda ao Pós-moderno. 4ª. Edição. São Paulo: Nobel. 1991.
UBERSFELD, Anne. Para ler o Teatro. São Paulo: Perspectiva. 2005.
VIRILIO, Paul. A Arte do Motor. Tradução Paulo Roberto Pires. São Paulo: Estação Liberdade,
1996.

PerformanceCorpoPolítica

"O site PerformanceCorpoPolítica visa discutir a linguagem artística performance enquanto campo híbrido da arte contemporânea: corpo, coletivo, cidade e política, com o objetivo de gerar reflexão a partir de material fotográfico, videográfico e bibliográfico.
Os debatedores e artistas selecionados pela curadoria dos eventos: Performance, Corpo, Política e Tecnologia (2010. MINC/Petrobrás), Performance, Corpo, Política e Tecnologia do Cerrado (2012. Corpos Informáticos), Performance, Corpo, cidade (2012. FLAAC, UnB) e Performance, Corpo Política (2013. FUNARTE) visam atender a diversidade teórica e prática no campo da arte contemporânea em geral e da performance em particular (arte da performance e performance como campo híbrido e como campo antropológico e etnográfico). As questões giram em torno de:
1- a performance como linguagem artística híbrida.
2- a performance como atitude política, isto é como micropolítica (Foucault), como macropolítica (no campo das artes) e como terceiro expansão.
3- as micropolíticas do corpo.
4- o trabalho artístico realizado em grupos ou coletivos. As mesas-redondas/debates estão assim nomeadas e tratarão os seguintes temas:
Conceito de arte da performance, redes, outras políticas, espaço urbano, relações de poder, arte contemporânea, política, corpo coletivo, dança, novas tecnologias.
Outro objetivo da proposta é o fortalecimento das discussões, das políticas e do acesso a materiaissobre a performance, uma vez que são escassas fontes de pesquisas são lidas sobre esta linguagem no Brasil, fato que já apagou de nossa história recente diversos artistas e manifestações que utilizaram esta linguagem que é por essência efêmera. A performance se caracteriza como arte efêmera, então sua necessidade de memória é estrutural para o pensamento atual mas sobretudo para gerações vindouras (meméria e pesquisa). Este paradigma é sua própria essência.
Diferentes correntes de pensamento estão representadas para debater performance e corpo, arte e tecnologia; performance e trabalho em grupo; tecnologia como possibilidade de criação de memória; performance em telepresença; dança; vídeo-dança; máquina de dança; cinema e performance; grupos e coletivos; ciberfeminismo; performance e composição urbana; artivismo.
O proponente, o Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos – GPCI (www.corpos.org), reconhecido CNPq desde 1994, efetua reflexões e práticas relacionadas à performance e pensa a presença dastecnologias digitais frente a um corpo que, jogado na cidade, se re-dimensiona.
A arte contemporânea, em geral, a performance e a dança contemporânea são por essência linguagens artísticas experimentais e efêmeras no campo dos comportamentos pós-modernistas. Necessita, porém, de maior potencia de afeto e entendimento, sobretudo no que diz respeito ao seu confronto com o grande público e com as novas tecnologias digitais de criação e transmissão de som, imagem e movimento.
Com a massificação da internet, outras perspectivas apareceram e atitudes ressurgem. Terreno de combate privilegiado, campo de invenção político-social extremamente fecundo e possibilidades de desmassificação crescente. Mas este novo suporte para as comunicações sociais é constantemente assediado com modelos e parâmetros colocados pela indústria cultural, o que nos leva a perguntar: até que ponto esse espaço virtual contempla somente as demandas impostas pela sociedade do consumo? E a finalidade deste espaço seria única e exclusivamente a de atender ao conceito maior e imutável do capitalismo, ou seja, o lucro?
A performance necessita de maior potência de afecto e entendimento, sobretudo no que diz respeito ao seu confronto com o grande público e com as novas tecnologias digitais de criação e transmissão de som, imagem e movimento. A performance não se limita a universos particulares, ao contrário, ela precisa do outro para acontecer, para confrontar universos e criar possibilidades políticas e inusitadas. São poucos os eventos, são limitadas as publicações e são raros os arquivos áudios-visuais sobre performance e tecnologia no Brasil, sobretudo num viés político.
Esta escassez de materiais e de manifestações espontâneas no contexto das cidades contribui para uma crescente especialização do circuito artístico. Por um lado, o desejo maior é o que nos querem vender: desejamos uma produção ininterrupta e insensata ou ainda, uma velocidade e exuberância em cada produção artística. Essa atitude megalomaníaca vem no percalço das superproduções estrangeiras do cinema, da televisão, da internet e da publicidade. Nestes espaços rígidos e conservadores o corpo é apresentado sempre carregado de conotações e nunca é o corpo vivo contraditório presente em nosso cotidiano. Ele, aí, não é mais o lugar da verdade subversiva do desejo. O corpo na publicidade não é nem carne nem sexo, mas objeto transformado em signo, com uma função de troca.
Acreditamos ser esse um desejo demente e gerador de problemas, isso porque retira do sujeito singular a possibilidade de se estruturar como eu, por retirar do sujeito sua singularidade. Ele deseja pouco porque assim quer a publicidade. Um desejo descartável e superficial que logo se torna obsoleto. Na instância micro-político essa exploração industrial gera a homogeneização dos desejos e dos hábitos e conseqüente homogeneização da cultura e do pensamento na instância macro-político.
Com a massificação da internet, outras perspectivas apareceram e atitudes ressurgem. Terreno de combate privilegiado, campo de invenção político-social extremamente fecundo e possibilidades de desmassificação crescente (youtube, vimeo, entre outros invadem os campos que antes pertenciam à televisão). Mas este novo suporte para as comunicações sociais é constantemente assediado com modelos e parâmetros colocados pela indústria cultural, o que nos leva a perguntar: até que ponto esse espaço virtual contempla somente as demandas impostas pela sociedade do consumo? E a finalidade deste espaço será única e exclusivamente a de atender ao conceito maior e imutável do capitalismo, ou seja, o lucro?
Hoje, é como se o consumo, sincronizando o eu, tornando cada eu similar, o adotasse, anulando, conseqüentemente, o nós, e “criando um agente” (STIEGLER, Bernard. Amar, nos amar, se amar, Paris: Galilée, 2003. Tradução e organização: Maria Beatriz de Medeiros). A evolução técnica gera desequilíbrio, mas quando esse desequilíbrio está associado à perda da individuação, o desajuste pode atingir um limite, e esse limite pode impossibilitar o futuro (avenir). Stiegler chega mesmo a dizer que, se o futuro (avenir) se confundir com o devir (devenir), o “fim dos tempos” pode ser uma possibilidade.
Ilya Prigogine (Temps à devenir. A propôs de l’histoire Du temps. Paris: Les Grandes conférences, 1994, p. 29), de outra forma, também fala dessa compreensão do tempo e do mundo e dos seres vivos: “[...] O não-equilíbrio é a via mais extraordinária que a natureza inventou para coordenar fenômenos, para tornar fenômenos complexos possíveis”.
Entre esses fenômenos complexos, Prigogine cita o ser vivo, cuja vida só é possível devido a ritmos, todos eles “longe do equilíbrio”. Complexidade, não-unicidade, múltiplas forças, muitos aspectos (Wittgenstein), tudo em inter-relação e em movimento. Isso se faz necessário para que haja vida. A sincronia, a homogeneização é perigosa. Aí não há movimento, agenciamentos, como fizeram ver Gilles Deleuze e Félix Guattari. O que há é um nós-rebanho, como nos advertiu Nietzsche.
Neste momento em que o Museum of Modern Art de New York realiza uma imensa exposição sobre o trabalho de performance de Marina Abramovich, com sua presença diária em performance, todo o mundo da arte está pensando qual o lugar da performance na arte, na política, no mercado de arte, qual o papel do corpo vivo e ao vivo na arte contemporânea. Assim, vale ressaltar que esta proposta está alinhada com este momento e se faz importante deixando o Brasil na vanguarda do pensar esta linguagem artística híbrida que redimensiona diversas áreas de conhecimento.
Na forma como o Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos (GPCI) utiliza a internet para a arte, com a performance em telepresença e a com a composição urbana, propomos um outro corpo, um corpo coletivo que gera sincronia e diacronia, um corpo social que atende às demandas políticas de nossa sociedade e confronta este espaço virtual da mesma maneira que confronta o espaço real. A conseqüência dessa atitude é a de garantir a liberdade imanente que este espaço oferece. Destas performances em telepresença foram gerados os vídeo-documentários: Estar (Bienal do Mercosul, 2006), Replexo e Plexo-re (a partir das performances de mesmo nome no SESC -Pinheiros, SP e FUNARTE), Ponto cílios (a partir das performances de mesmo nome realizadas nas exposições Cinético Digital no CCBB, Brasília e O corpo na arte contemporânea no Itaú Cultural, 2005), Hungry@corpos (2001), etc.
A internet, embora possa gerar solidão, quando utilizada apenas como meio de comunicação, isto é, como meio de in-formação, pode gerar, se utilizada como instrumento de pesquisa, busca o encontro do outro singular, espaço para a germinação de singularidades onde o eu se individua em um processo de individuação do nós, possibilidade da criação da diacronia.
Os corpos-desejo-de-fato desejam outros vivos, no vivo e/ou ao vivo, de algum ponto qualquer da rede, eles nos desejam. Nesta, eles são inorgânicos e não mercadoria. Eles são luz emitida e corpos contraditórios. Podemos identificar processos de adoção que nos inserem no seio de um nós tal como um grupo de amigos que compartilham trabalho ou lazer, trabalhos colaborativos [1] ou grupos de profissionais (artistas, filósofos, pesquisadores em áreas específicas) [2] e grupos virtuais [3].
A linguagem artística performance, com seus “homens-ação” (Tristan Tzara) é “máquina de guerra” (Deleuze e Guattari) ou carícia, como se exprime o GPCI, neste contexto: ela questiona, critica e propõe. Seu aspecto híbrido redefine a positividade técnica da tecnologia. O corpo aqui (a)presentado (sic) é potência política no momento atual de tanto desinteresse por mudanças. Trata-se, ainda, de redimensionar e politizar o corpo no espaço urbano e a internet, que é entendida como espaço público por excelência (rua), através destas ações artísticas.
Organizar este site sobre Performance: corpo, política e tecnologia permite reunir pensadores e artistas de grande parte do Brasil e do exterior, pensadores e artistas esparsos, ainda que por vezes em grupos ou coletivos. Desta reunião resulta debate, divulgação, maior entendimento desta linguagem artística e sua função política."