quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Celeida Tostes


Despojei-me
Cobri meu corpo de barro e fui.
Entrei no bojo do escuro, ventre da terra.
O tempo perdeu o sentido de tempo.
Cheguei ao amorfo.
Posso ter sido mineral, animal, vegetal.
Não sei o que fui.
Não sei onde estava. Espaço.
A história não existia mais.
Sons ressoavam. Saíam de mim.
Dor.
Não sei por onde andei.
O escuro, os sons, a dor, se confundiam.
Transmutação.
O espaço encolheu.
Saí. Voltei."

Celeida Tostes


Referência:
http://ensinandoartesvisuais.blogspot.com.br/2007/09/cermica-artstica-e-performance-arte-de.html

Chuva de dinheiro (1983)



Performance Chuva de Dinheiro (1983), quando Márcia Pinheiro – nome que utilizava na época - e Ana Cavalcanti lançaram enormes notas de CR$ 5 de cima de um prédio na esquina da Av. Rio Branco e Nilo Peçanha, no Rio.





quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Márcia X - uma antibiografia

concinnitas | ano 2014, volume 01, número 24, julho de 2014 


Márcia X – uma antibiografia.
Alexandre Sá


..."Conheci Márcia X em 2003, em Pau Grande, no município de Magé, no Rio de
Janeiro, numa ação coletiva do grupo Imaginário Periférico. Estava engatinhando
completamente nessas fronteiras entre o corpo, o movimento, a poesia e a teatralidade, e, ao ser convidado para participar de tal evento, resolvi fazer uma performance (embora não soubesse bem o que era aquilo) em que vendava os olhos com uma atadura e, vagarosamente, rasgava e queimava algumas páginas do livro No interior do cubo branco, de Brian O’Doherty, como resultado de uma preocupação direta com os limites do trabalho de arte e com suas consequentes possibilidades de explosão e atravessamento. Ao final, lembro que Márcia X se aproximou e me perguntou, como um tiro: “Quem é você?”. A pergunta, que a princípio poderia soar preconceituosa e um pouco blasé por ser tão direta
e à queima-roupa, pareceu doce e dedicada, endossada por uns olhos realmente curiosos e que, naquele momento, me davam a sensação legítima de que me atravessavam. Respondi o que consegui, mesmo sem saber de fato quem era a tal figura exótica com cabelos longuíssimos; e ela, depois de um silêncio instantâneo, mas que se revelava estendido o suficiente para que o diálogo parecesse preenchido por diferentes marés, me disse que tinha gostado muito do trabalho e, com uma generosidade como nem sempre é possível encontrar no sistema de arte, me deu todo o incentivo possível para continuar."

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terça-feira, 25 de novembro de 2014

Márcia X. Burguer

concinnitas | ano 2014, volume 01, número 24, julho de 2014


Marcia X. Burguer
Alex Hamburger


Prefácio
Como parceiro de vida e obra por cerca de oito anos da nossa estrela, aqui um
tanto pobremente retratada, se considerarmos a intensidade dos fatos vividos na época da quase perdida ‘geração performática dos anos 80', fui gentilmente convidado para gravar meu testemunho sobre aqueles loucos anos, movidos ao mesmo tempo por uma ingenuidade protocolar, fúria eletiva, lançamento de dados, além de uma complexa, porém refinada tentativa de resgatar uma visão alternada aos pontos de vista imperativos e absolutos.
Estou plenamente convicto que um relato na linha biográfica pura, mesmo que
pudesse inscrever nele a gênese dos inúmeros desafios protagonizados, não faria jus a alguém cuja linha mestra de partida (e chegada) sempre foi o vigor inabalável, o fôlego renovador, a invenção transgressiva e a reordenação das prioridades do ser, que ela tão bem soube desenvolver e que brotava de seus poros de forma contagiante e permeável a todos que dela se acercaram ou conviveram.

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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Performance: a questão da autoria

concinnitas | ano 2014, volume 01, número 24, julho de 2014


Performance: a questão da autoria
Ricardo Basbaum


" ... na cadeia de reações que acompanham o ato criador falta um elo. Essa
falha que representa a inabilidade do artista em expressar integralmente sua intenção; essa diferença entre o que quis realizar e o que na verdade realizou é o ‘coeficiente artistico' pessoal contido na sua obra de arte."
É fácil reconhecer no texto acima a formulação de Marcel Duchamp a respeito
do ato criador, enfatizando o papel do público na recepção da obra, no julgamento que o incluirá ou não entre "as figuras primordiais da história da arte". O artista desenhado por Duchamp é "mediúnico", trabalhando no domínio da "pura intuição". Mas o genial artista francês parece, neste pequeno texto de 1957 –pronunciado em Houston durante uma Conferência da Federação Americana das Artes1 (à qual também compareceu o interessante antropólogo-biólogo Gregory Bateson) –, excessivamente preocupado com a "posteridade" e o "veredito do público": afinal, pensa-se logo, nem mesmo Duchamp escapou à obsessão modernista com a História.
Entretanto, Duchamp já havia feito às coisas funcionarem de outro modo, e
depois dele os objetos nunca mais foram os mesmos. Com certeza, podemos localizar na invenção do ready-made o gesto decisivo, indicativo de uma mudança no padrão da autoria artística, deslocando-a para o campo da apropriação – para um trabalho de redefinição do objeto. Duchamp não "cria" um ready-made, mas descobre-o com dia e hora marcados.

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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A hibridação entre performance e fotografia

A HIBRIDAÇÃO ENTRE PERFORMANCE E FOTOGRAFIA:  UM ESTUDO SOBRE A PERFORMANCE, A FOTOGRAFIA E O ARTISTA 
LUIZ RETTAMOZZO 

Flávia Adami
 flaviaadami@hotmail.com


Resumo 
A linguagem da performance sempre foi e continuará sendo um assunto controverso no campo das arte visuais. Questionamentos sobre o entendimento dessa linguagem continuam em pauta: de que maneira a performance interfere nas relações interpessoais, culturais e sociais?; como caracterizar os resultados obtidos pelos trabalhos performáticos? Essas são perguntas que exigem muita reflexão. Este artigo tem por objetivo discutir a relação entre performance e fotografia. Tentaremos identificar um tipo de performance que encontra na fotografia não apenas o registro, ou seja, uma performance que contraria o
entendimento da ação ao vivo como única possibilidade. Para este estudo, foi analisado o trabalho intitulado Ar Retta, publicado em 1981, pelo artista Luis Rettamozzo. Estes trabalhos fotográficos afirmam uma poética entre a performance e a fotografia, no qual a fotografia não é o registro de uma ação ao vivo, mas o lugar de seu acontecimento.

Palavras chaves: Performance; Fotografia; Interseção.

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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Caminho

Realizada no dia 13/11/14 
Local: Universidade do Estado do Rio de Janeiro

A performance Caminho deixa a marca de uma fita no chão. Ela representa as escolhas que fazemos todos os dias. Cada passo é uma decisão para um futuro próximo ou distante pois escolhemos a todo momento nosso caminho.
A luta diária do dia a dia é que demarca nossas escolhas do que almejamos para o futuro. E é no momento presente que se deve focar pois o sonho é resultado do esforço.








Registros: Natalia Rey e Thatiana Montenegro

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Ricardo Marinelli



Monstruosidade e resistência na performance de Ricardo Marinelli

Texto de Caio Riscado
Revisão de Marcio Honorio de Godoy
© 2014 eRevista Performatus e o autor

Curitiba, 24 de maio de 2014, sede do Água Viva Concentrado Artístico, segunda edição da Transborda – Mostra de Performance [1]. Faz frio e o performer Ricardo Marinelli [2] está nu, deitado no chão, em posição fetal, com o corpo recolhido contra a parede da sala. Dessa vez Marinelli não usa roupa, nem maquiagem, nem peruca, nem meia-calça, nem salto alto, nem esmalte, elementos que o acompanharam em performances anteriores. De cabeça raspada, barba feita, o performer tem a genitália, a visão, a boca e algumas articulações do seu corpo aprisionadas por camadas de fita adesiva. Nas costas, um quadrado de fita adesiva impede que a recepção veja a única tatuagem do performer. Faz frio e o performer Ricardo Marinelli está nu mas trajando aquilo que chamamos de corpo.
Um corpo que sem o apoio das mãos, sem a base dos dedos dos pés e sem a visão, dança pelo espaço por meio de curtos movimentos espasmódicos. O performer procura apoio nas paredes, no chão e nas pernas daqueles que o observam. Na medida em que se desloca, sua respiração fica ofegante – podemos ouvir a fricção do ar em contato com a fita adesiva que sufoca sua boca. As narinas de Marinelli parecem fazer mais esforço do que o comum, reverberando em seu corpo as dificuldades geradas pelo aprisionamento voluntário de alguns dos seus equipamentos corpóreos.
O corpo sem genitália, sem pelos, sem as próteses de gênero sistematicamente associadas ao masculino, dança com precisão o/no micro limite de espaço-tempo que se faz presente entre a ação de tentativa e sua respectiva falha. Muitas são as imagens. A criança tentando dar os seus primeiros passos, alguém que se movimenta pela primeira vez depois de um coma, uma absurda máquina de lavar descontrolada, uma cadela machucada, a animalização do humano. O corpo sem seus apoios e referências habituais (re)conduz o olhar da recepção, pois desnaturaliza os movimentos tidos como comuns. Entre idas e vindas do chão ao plano médio, ou alto, o performer busca o equilíbrio naquilo que justamente está ausente: ele quer ver, quer tocar, lamber, comer, apoiar, ficar de pé, mas não pode.
O corpo sem órgãos de Ricardo Marinelli denuncia o sistema de monitoramento e setorização da heteronorma. Mesmo sem genitália, sem visão, sem boca e mãos, ainda lhe resta uma categoria arraigada pelo plano social dominante. Mesmo distanciado da zona dos “gêneros inteligíveis”, Marinelli não está isento de ser classificado, julgado e nomeado. Marinelli não é homem e nem mulher, não é gay, não é lésbica, não é travesti, não é bicho, é bizarra, é monstro. A bizarrice (des)regulada do corpo em movimento toma conta da pequena sala de ensaio onde a performance é exibida e a monstra Marinelli dança a experiência do corpo abjeto, temido e recusado com repugnância.

Performance: Ricardo Marinelli. Fotografia de Matias Cds

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Coletivo Corpo Expresso


Coletivo Corpo Expresso é uma associação sem fins lucrativos, que surgiu em Santa Maria - RS, Brasil. Tem a finalidade de fomentar a criação e a circulação artística local, bem como promover o intercâmbio de ideias e obras artísticas no estado do Rio Grande do Sul e por todo o território nacional.



O Afogamento

Foto: Ronald Mendes / Agencia RBS
"A artista Élle de Bernardini, responsável pela performance, conta que o objetivo era fazer algo natural e que trouxesse à memória um ato politico. Após pesquisas junto a seus colegas do Coletivo Corpo Expresso, ela chegou a ideia do afogamento, "uma tortura possível de ser reproduzida". E foi assim que, sem ensaio, ela mergulhou na agonia sofrida por milhares de pessoas durante os anos de chumbo.
_ Queríamos trabalhar com a memória do corpo e não com aquela memória racional. Queríamos que a performance atingisse os sentidos, alguma coisa que chamasse a atenção para que o público sentisse algo próximo daquilo que aquelas pessoas ou seus familiares vivenciaram _ explica Élle."

Instrumento de reivindicação social

© 2014 eRevista Performatus e o autor
Ed. 12Ano 2 | Nº 12 | Out 2014

Fragmento do texto "Resignificação coletiva da memória dos sentidos: um processo artístico com performance" de Élle de Bernardini

"Notei que pensar a performance enquanto arte possui um alcance SOCIAL e um apelo aos sentimentos das pessoas de modo geral muito maior que a pintura, por exemplo. Observei também que ela podia, se bem empregada com propósitos estéticos sérios, ser instrumento de reivindicação social. Ao mesmo tempo, percebi ainda na performance um papel de assegurar e conservar o caráter de essência da arte, que é de se direcionar aos sentidos dos sujeitos e, através dos sentidos, se fazer entendida. A performance é um veículo artístico de propagação de ideias e queixas, e ela acontece justamente onde o público se doa a recebê-la, prestando-se a dividir o tempo-espaço com ela, de modo que um afeta o outro reciprocamente, e ambos, sem saber, chegam a instantes semelhantes, a conclusões semelhantes. Em outras palavras, a performance desperta um sentimento de coletividade nos sujeitos, e ela faz isso evidenciando o que temos de singular, através da ação de uma única pessoa, do artista, e une todos os que dela participam em um sentimento coletivo, que resignifica o tempo todo a história e o próprio tempo-espaço. Num jogo mútuo entre performer e público, a performance coloca as pessoas em um estado de arte, e desse estado provém, além da recepção e contemplação da obra, o que eu particularmente considero mais importante para o presente em se tratando de arte e criações artísticas: a crítica, o exercício do qual muito Bertolt Brecht falou, que é o de ver o mundo com olhos estranhados."

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Resignificação coletiva da memória dos sentidos: um processo artístico com performance

© 2014 eRevista Performatus e o autor
Ed. 12Ano 2 | Nº 12 | Out 2014


Texto de Élle de Bernardini


Para Halbwaschs a memória é sempre fruto de um processo coletivo, na medida em que necessita de uma comunidade afetiva, ou seja, um grupo ao qual o  sujeito já faça parte. A lembrança está sempre inserida em um contexto social
preciso. Para esse pensador, o apego afetivo a uma comunidade dá consistência às lembranças, e o desapego é oposto disso, estando, por sua vez, ligado ao
esquecimento. A memória em Halbwaschs é reconhecimento e reconstrução. É
reconhecimento na medida em que porta o "sentimento do já visto". E
reconstrução, porque não é uma repetição linear de acontecimentos vivenciados no passado, mas sim um resgate desses acontecimentos e vivências no contexto de um quadro de preocupações e interesses atuais.
Sobre essas considerações de Halbwaschs, iniciei uma pesquisa com a
memória que chamei de "Memória dos Sentidos" ou "Memória do Corpo". No
começo, minha pesquisa tinha como objeto a relação nebulosa entre a lembrança racional e a lembrança física. Para mim, enquanto artista, o que interessa é a lembrança dos sentidos, a lembrança do corpo. Minha pesquisa estabelece, como objeto, os sentidos, e parte deles para falar da memória e do resgate das sensações através do reviver um acontecimento do passado.

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