Eletroperformance
A Ciência e a Tecnologia postas a nu. Reinventadas. Usadas como recurso cênico e performático. A discussão vital do mito do progresso científico permeia todo trabalho de Guto Lacaz.
João Pedrosa/HV
Sheila Leiner/Fundação Bienal
Oswaldo Faustino/Diário Popular
Miguel de Almeida/FSP
Data: Junho de 1983
Renato Cohen/Performance como Linguagem
Editora Perspectiva
Como performer Guto Lacaz destaca-se pelo senso de humor e pelo rigoroso ritmo com que opera o caos emergente de seu palco portátil onde marcam encontro cadeiras elétricas, rádios especializados em sintonizar Vicente Celestino, serrotes em contraponto com espadas de néon, vídeos, super 8, datilógrafas punks escrevendo memorandos para Satã, toca discos digitando nuvens; a alegria pontuando o espaço. Roberto Bicelli/Funarte
Seu trabalho em performance com instalação revela empenho, humor e invenção. O expressivo domínio do tempo, espaço e imagem torna-o compreensível e comunicativo.
... E Lacaz, junto com o grupo que o acompanha, é considerado o mais louco, mais rigoroso, mais equilibrado e detonador de paixões, de todos os performáticos que estarão presentes na Funarte, nestes dois dias.
...O criativo Guto Lacaz fez genial performance ao lado de Cristina Mutarelli no West Bar Ponderosa. Os ingressos custaram mil cruzeiros e deram um feliz prazer.
... De tudo, o que mais me impressionou foi Guto Lacaz / Cristina Mutarelli e a Eletroperformance. O inventor Guto Lacaz, também um lapidador de frases e imagens iconoclastas, teve a perfeição de construir dezenas de objetos para figurar em sua apresentação. Ou de utilizar objetos de uso doméstico como um aspirador de pó. Ele é da idéia de que um objeto de uso cotidiano tirado de seu cenário, e usado em outro contexto, provoca rupturas e atritos. O público assim é chamado a observar detalhes que normalmente nem mais presta atenção.A estrutura da Eletroperformance se baseia na mistura e talvez síntese de todas as mídias. Prevalecia a coisa cênica, mas, antes de tudo sob a estrutura cinética, de quadros e imagens. Guto Lacaz fazia ainda o uso abusado de alguns clichês cinematográficos, mas todos eles sob o ponto de vista critico e iconoclasta. Ele parecia estar atrás do riso ao confrontar detalhes e linguagens. Conseguiu. Mostrou algo importante, em outro aspecto: não é porque o trabalho foi criado, concebido sob uma idéia, que ele perde seu valor de impacto ou de enlouquecimento. Os loucos racionais me parecem os piores. Há quem assine embaixo esta afirmação.
Miguel de Almeida/Primeiramão
Aproximação de um Espetáculo Conceitual A Eletroperformance de Guto Lacaz Local: Ponderosa Bar São Paulo
O local da performance é um café-teatro que tem, no segundo andar, uma pequena sala de espetáculos. A sala é dividida em um pequeno palco e um espaço para o público. O público é de aproximadamente setenta pessoas e a performance acontece somente neste dia, no horário especial das 24 horas. O espetáculo se divide em quadros (num total de 14), cada quadro tendo como base um aparelho elétrico, uma idéia e um clima determinado. O espetáculo é apresentado por dois performers: Guto Lacaz e Cristina Mutarelli. Ambos vestem aventais brancos e usam óculos escuros. À medida que os dois vão mexendo com os aparelhos elétricos, temos a impressão de estarmos diante de um “cientista (criador) maluco“ e sua partner. O espetáculo é multimidiático (utilizase de teatro, cinema, cibernética, plástica, iluminação por néon, etc) e não existe nos performers a preocupação de “interpretação”, a impressão que fica é de sempre estarmos vendo uma demonstração. Os performers, com ironia e principalmente humor, vão mostrando várias possibilidades de utilização dos objetos elétricos (sempre inusitadas, como descreveremos a seguir). Deter-nos-emos em dois quadros da performance que merecem destaque especial: num dos quadros a cena é de um rádio (do tipo antigo, de madeira e luminoso). O rádio é o
A Ciência e a Tecnologia postas a nu. Reinventadas. Usadas como recurso cênico e performático. A discussão vital do mito do progresso científico permeia todo trabalho de Guto Lacaz.
João Pedrosa/HV
Sheila Leiner/Fundação Bienal
Oswaldo Faustino/Diário Popular
Miguel de Almeida/FSP
Data: Junho de 1983
Renato Cohen/Performance como Linguagem
Editora Perspectiva
Como performer Guto Lacaz destaca-se pelo senso de humor e pelo rigoroso ritmo com que opera o caos emergente de seu palco portátil onde marcam encontro cadeiras elétricas, rádios especializados em sintonizar Vicente Celestino, serrotes em contraponto com espadas de néon, vídeos, super 8, datilógrafas punks escrevendo memorandos para Satã, toca discos digitando nuvens; a alegria pontuando o espaço. Roberto Bicelli/Funarte
Seu trabalho em performance com instalação revela empenho, humor e invenção. O expressivo domínio do tempo, espaço e imagem torna-o compreensível e comunicativo.
... E Lacaz, junto com o grupo que o acompanha, é considerado o mais louco, mais rigoroso, mais equilibrado e detonador de paixões, de todos os performáticos que estarão presentes na Funarte, nestes dois dias.
...O criativo Guto Lacaz fez genial performance ao lado de Cristina Mutarelli no West Bar Ponderosa. Os ingressos custaram mil cruzeiros e deram um feliz prazer.
... De tudo, o que mais me impressionou foi Guto Lacaz / Cristina Mutarelli e a Eletroperformance. O inventor Guto Lacaz, também um lapidador de frases e imagens iconoclastas, teve a perfeição de construir dezenas de objetos para figurar em sua apresentação. Ou de utilizar objetos de uso doméstico como um aspirador de pó. Ele é da idéia de que um objeto de uso cotidiano tirado de seu cenário, e usado em outro contexto, provoca rupturas e atritos. O público assim é chamado a observar detalhes que normalmente nem mais presta atenção.A estrutura da Eletroperformance se baseia na mistura e talvez síntese de todas as mídias. Prevalecia a coisa cênica, mas, antes de tudo sob a estrutura cinética, de quadros e imagens. Guto Lacaz fazia ainda o uso abusado de alguns clichês cinematográficos, mas todos eles sob o ponto de vista critico e iconoclasta. Ele parecia estar atrás do riso ao confrontar detalhes e linguagens. Conseguiu. Mostrou algo importante, em outro aspecto: não é porque o trabalho foi criado, concebido sob uma idéia, que ele perde seu valor de impacto ou de enlouquecimento. Os loucos racionais me parecem os piores. Há quem assine embaixo esta afirmação.
Miguel de Almeida/Primeiramão
Aproximação de um Espetáculo Conceitual A Eletroperformance de Guto Lacaz Local: Ponderosa Bar São Paulo
O local da performance é um café-teatro que tem, no segundo andar, uma pequena sala de espetáculos. A sala é dividida em um pequeno palco e um espaço para o público. O público é de aproximadamente setenta pessoas e a performance acontece somente neste dia, no horário especial das 24 horas. O espetáculo se divide em quadros (num total de 14), cada quadro tendo como base um aparelho elétrico, uma idéia e um clima determinado. O espetáculo é apresentado por dois performers: Guto Lacaz e Cristina Mutarelli. Ambos vestem aventais brancos e usam óculos escuros. À medida que os dois vão mexendo com os aparelhos elétricos, temos a impressão de estarmos diante de um “cientista (criador) maluco“ e sua partner. O espetáculo é multimidiático (utilizase de teatro, cinema, cibernética, plástica, iluminação por néon, etc) e não existe nos performers a preocupação de “interpretação”, a impressão que fica é de sempre estarmos vendo uma demonstração. Os performers, com ironia e principalmente humor, vão mostrando várias possibilidades de utilização dos objetos elétricos (sempre inusitadas, como descreveremos a seguir). Deter-nos-emos em dois quadros da performance que merecem destaque especial: num dos quadros a cena é de um rádio (do tipo antigo, de madeira e luminoso). O rádio é o
personagem único da cena (os dois performers estão fora no momento). À medida que transmite
informações bombásticas, o rádio pisca e movimenta-se em cena (grande parte do mérito do espetáculo
de Guto Lacaz se baseia na qualidade das engenhocas que este originalmente um artista plástico,
constrói. O rádio está encaixado em um trilho que permite a sua movimentação sem que se perceba
isso da platéia). O outro quadro é o do fechamento da performance. Os dois performers estão em cena. A luz de néon os ilumina. A partner segura uma bola de plástico. Uma música clássica, triunfal, anuncia que o gran finale está para acontecer. Guto liga o tubo de ar – um aspirador de pó ao contrário e aproxima suas mãos das de sua partner. De repente, os dois se posicionam em cima do tubo de ar, a bola sobe e fica flutuando a uma certa altura no espaço. O efeito produzido é mágico.
A Eletroperformance trabalha com a dialética tempo-espaço ficcional/tempo espaço real. E justamente o jogo com esses dois tempos, que se dá através de uma brincadeira com a convenção teatral, que faz com que essa performance possa ser apontada como um espetáculo conceitual (na medida em que brinca com os conceitos de convenção, representação, atuação etc. que estruturam a arte teatral). A Eletroperformance funciona como uma demonstração. Fica demonstrado que qualquer coisa interessante pode ser uma cena (como o rádio) e que não precisa haver o fio dramatúrgico nem grandes personagens em cena, para o espetáculo se sustentar. A Eletroperformance caminha sempre à base do anticlímax, da anticena, da antiatuação. Os performers entram e saem de cena e demonstram o uso dos aparelhos elétricos (sempre inusitados) como uma feira de utilidades domésticas: Guto e Cristina entram seguram a bola, olham para o público e de repente o aspirador é ligado e a bola, inusitadamente, fica suspensa no ar. Não acontece nenhuma grande cena, nenhuma grande interpretação.
Fica sempre demonstrado, nessa performance a substituição do eixo de sustentação do teatro convencional (narração / personagem) pelo eixo da performance (live art/performer). O que o performer coloca em cena, no lugar de uma personagem construída, é sua habilidade pessoal (no caso a habilidade de Guto Lacaz de construir as engenhocas e de fundir linguagens). Guto Lacaz centra sua pesquisa no que podemos chamar de uma cenotécnica eletrônica. O espetáculo se enquadra na linha do trabalho formalizado, deliberado. Na Eletroperformance, as cenas (uso dos aparelho) são rigorosamente ensaiadas e cada efeito é milimetricamente calculado.
Fonte:
- http://gutolacaz.com.br/artes/textos/ComentariosPerformance.pdf
isso da platéia). O outro quadro é o do fechamento da performance. Os dois performers estão em cena. A luz de néon os ilumina. A partner segura uma bola de plástico. Uma música clássica, triunfal, anuncia que o gran finale está para acontecer. Guto liga o tubo de ar – um aspirador de pó ao contrário e aproxima suas mãos das de sua partner. De repente, os dois se posicionam em cima do tubo de ar, a bola sobe e fica flutuando a uma certa altura no espaço. O efeito produzido é mágico.
A Eletroperformance trabalha com a dialética tempo-espaço ficcional/tempo espaço real. E justamente o jogo com esses dois tempos, que se dá através de uma brincadeira com a convenção teatral, que faz com que essa performance possa ser apontada como um espetáculo conceitual (na medida em que brinca com os conceitos de convenção, representação, atuação etc. que estruturam a arte teatral). A Eletroperformance funciona como uma demonstração. Fica demonstrado que qualquer coisa interessante pode ser uma cena (como o rádio) e que não precisa haver o fio dramatúrgico nem grandes personagens em cena, para o espetáculo se sustentar. A Eletroperformance caminha sempre à base do anticlímax, da anticena, da antiatuação. Os performers entram e saem de cena e demonstram o uso dos aparelhos elétricos (sempre inusitados) como uma feira de utilidades domésticas: Guto e Cristina entram seguram a bola, olham para o público e de repente o aspirador é ligado e a bola, inusitadamente, fica suspensa no ar. Não acontece nenhuma grande cena, nenhuma grande interpretação.
Fica sempre demonstrado, nessa performance a substituição do eixo de sustentação do teatro convencional (narração / personagem) pelo eixo da performance (live art/performer). O que o performer coloca em cena, no lugar de uma personagem construída, é sua habilidade pessoal (no caso a habilidade de Guto Lacaz de construir as engenhocas e de fundir linguagens). Guto Lacaz centra sua pesquisa no que podemos chamar de uma cenotécnica eletrônica. O espetáculo se enquadra na linha do trabalho formalizado, deliberado. Na Eletroperformance, as cenas (uso dos aparelho) são rigorosamente ensaiadas e cada efeito é milimetricamente calculado.
Fonte:
- http://gutolacaz.com.br/artes/textos/ComentariosPerformance.pdf
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