sexta-feira, 29 de maio de 2015

Um e três coletivos

UM E TRÊS COLETIVOS é uma ação performática articulada para deflagar uma reflexão sobre as práticas e os mecanismos de definição crítico-teórica acerca dos coletivos de arte. 

Premiado no 66º Salão de Abril de Fortaleza (2015), o trabalho parte da obra "Uma e Três Cadeiras", realizada por Joseph Kosuth em 1965, onde o coletivo Filé de Peixe inverte o procedimento tautológico na Arte Conceitual, em que os trabalhos buscavam ser a expressão literal de suas próprias definições artísticas, para mencionar justamente o contrário: a impossibilidade (na qual acreditamos) de se estabelecer uma morfologia típica-comum, uma representação ou conceito que possam ser tomados como gerais na definição de uma prática artística coletiva. Trata-se de discutir os sentidos de um coletivo artístico, em que medida refletem ou não a busca por um conceito permanentemente em aberto, manifestam ou não um esforço poético de indefinição, mantendo-se sempre múltiplas e diversas as justificativas acerca de suas motivações e propósitos.


quinta-feira, 28 de maio de 2015

Liquidação de vídeo-arte! A pirataria do Filé de Peixe

por Lucila Vilela

“Dane-se os direitos autorais, não ligue pra isso, nem pense nisso, ignore.” Em uma fala no Seminário de Jornalismo Cultural, organizado pelo Itaú Cultural em São Paulo, o poeta norte-americano Kenneth Goldsmith, criador da UbuWeb, provavelmente o maior arquivo de arte de vanguarda na internet, deixou clara sua posição, atravessando o consenso estabelecido no evento. Além do mais, apontou os problemas de uma mídia como o youtube, que censura pornografia, dentre outras coisas, controla direitos autorais e impõe limites ao tempo de exibição.

Disse não se interessar por redes sociais, de modo geral, que são todas administradas por empresas, com interesses próprios, e quase nenhuma plataforma em internet 2.0. “Sejamos sinceros: se tivéssemos que pedir permissão para todos os artistas expostos na UbuWeb, não haveria UbuWeb”, diz um aviso no site. Kenneth ainda criticou os artistas contemporâneos que produzem como se a internet não existisse, mesmo como idéia, e declarou, quase no fim de sua fala, sua admiração pela poesia concreta, justamente pela apropriação. “Tudo que estamos falando aqui, os poetas concretos já disseram há cinquenta anos”, afirmou.

É a partir deste debate, tão fundamental para a cultura contemporânea quanto espinhoso, que pode-se entender a ação conhecida como Piratão, do coletivo Filé de Peixe, do Rio de Janeiro. Evento em forma de performance, o Piratão consiste em comercializar vídeo-arte – de artistas consagrados e emergentes, nacionais e internacionais – através do comércio informal. Tanto o preço dos vídeos, 3 por 10 reais, livremente inspirado nos camelódromos da Uruguaiana (RJ); quanto a sua aparência tosca, com telas aramadas, embalagens de plástico, capas xerocadas; e finalmente a forma de vendê-los, através de anúncios realizados em um mega-fone, tudo se move pela
apropriação, e não pela simulação, da pirataria.
 
A estratégia do coletivo é simples e parece eficiente. A pirataria, anunciada já no título, aparece como um procedimento, e não apenas como forma, que torna possível ironizar o mercado – usando, de algum modo, sua própria técnica. O coletivo baixa da internet diversos trabalhos de vídeo-arte e vende as obras, adotando o mesmo procedimento dos camelôs que vendem cópias do mais atuais filmes de Hollywood antes mesmo de saírem em DVD.

O procedimento é parte da ação e a vídeo-arte se torna ironicamente um produto comercial. No entanto, é lançada não dentro de um mercado de arte, mas dentro de um mercado negro popular. Mas a própria ação do grupo é aceita como arte dentro do circuito artístico. A arte então, protegida pelo próprio conceito, tem a liberdade de passar pelas leis para levantar questões.

Com Piratão, Filé de Peixe faz surgir um dispositivo político para a arte confundindo ficção e documento. Percebe-se, no entanto, que esta ação tem abordagens distintas dependendo do lugar onde é realizada. Com uma espécie de barraquinha expositiva e uma televisão com DVD – que serve, ao mesmo tempo, para verificar a qualidade do produto e para exibi-lo – os performers se instalam tanto em eventos de arte, embora quase sempre (nem sempre) realizem suas ações na rua, quanto nos camelódromos mesmo, provavelmente se confundindo, neste caso, com outros vendedores informais e levando ao limite a informação mais radical da performance: sua ilegalidade. Afinal, não adianta dizer para um fiscal da prefeitura que aquilo é arte.

Ao vender seus produtos no camelódromo, por exemplo, a ação ganha força política pois produz uma tensão de venda ilegal – coisa que dentro na galeria, protegidos pela quarta parede da instituição, não acontece. Fora do espaço destinado à arte, a dúvida permanece e a vídeo-arte é exposta ao lado de filmes comerciais, desenhos, pornografia. A tensão comum que faz parte do dia-a-dia dos camelôs é
vivenciada pelos artistas, tornando mais tênue a distinção entre arte e vida.
 
Realizada em espaços de arte ou galerias, como é o caso da ação Piratão #08, de 2010, que se passou dentro do Memorial da América Latina, o lugar da arte torna-se transparente. A possibilidade de um fiscal aparecer é quase nula e por isso a tensão é amenizada já que se trata de um espaço protegido. A ilegalidade da performance se apóia em uma zona de conforto dentro do circuito artístico perdendo
parte de sua força. Seja como for, as vendas contribuem para a democratização de idéias e mídias de arte possibilitando a difusão e acesso à trabalhos difíceis de serem encontrados.

A performance, que foi feita em cinco estados diferentes, com mais de dez edições – a primeira edição aconteceu em maio de 2009 – já conseguiu vender em torno de 3.000 vídeos piratas, segundo sua contabilidade, que informa também os artistas mais vendidos em todas as edições. Mathew Barney é um dos mais pedidos, Helio Oiticica, Duchamp, Bill Viola, Ligia Pape, John Cage também tem. E acaba rápido. Se a performance não altera as regras do mercado da arte, consegue ao menos criar uma zona autônoma e temporária. O deslocamento provoca a discussão: o que cai na rede é peixe.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Hélio Oiticica acabou

Por Victor da Rosa

O escritor anarquista Hakim Bey, em seu teoria do TAZ - Zona Autônoma Temporária, já aconselha a pirataria como uma forma possível de levante. Piratão, uma ação realizada pelo coletivo Filé de Peixe, do Rio de Janeiro, consiste nisso: comercializar vídeo-arte - de artistas consagrados e emergentes, nacionais e internacionais - através de comércio informal. Tanto o preço dos vídeos, três por dez reais, livremente inspirado nos camelódromos da Uruguaiana; quanto a sua aparência tosca, com telas aramadas, embalagens de plástico, capas xerocadas; e finalmente a forma de vendê-los, através de anúncios realizados em um mega-fone, tudo se move pela apropriação - e não pela simulação - da pirataria. 
O coletivo, a rigor, não quer fazer teatro. Com uma espécie de barraquinha expositiva e uma televisão com DVD - que serve, ao mesmo tempo, para verificar a qualidade do produto e para exibi-lo - os performers se instalam tanto em eventos de arte, embora quase sempre (nem sempre) realizem suas ações na rua, quanto nos camelódromos mesmo, provavelmente se confundindo, neste caso, com outros vendedores informais e levando ao limite a informação que considero a mais radical da performance: sua ilegalidade. Afinal, não adianta dizer para um fiscal da prefeitura - não é um curador - que aquilo é arte.
A estratégia do coletivo é simples e parece eficiente. A pirataria aparece como um procedimento que torna possível 1) ironizar o mercado - usando, de algum modo, sua própria técnica; 2) criar um dispositivo pós-estético (político, portanto) para a arte. confundindo ficção e documento; e 3) até mesmo, com as vendas, democratizar idéias e mídias de arte. A performance, que foi feita em cinco estados diferentes, com mais de dez edições - a primeira edição aconteceu em maio do ano passado - já conseguiu vender em torno de 3.000 vídeos piratas, segundo sua contabilidade, que informa também os artistas mais vendidos em todas as edições. Se a performance não altera as regras do mercado da arte, consegue ao menos criar uma zona autônoma e temporária.


Fonte:
http://victordarosa.blogspot.com.br/2010/12/helio-oiticica-acabou_05.html




terça-feira, 26 de maio de 2015

#01


Piratão

PIRATÃO é uma prática artística que investiga e simula a economia informal e pirata para forjar um sistema de distribuição, acesso e circulação a trabalhos de videoartes e filmes de artista numa escala sem precedentes, rearticulados como um produto audiovisual, e não mais como objetos, voltados para a lógica do consumo, e não mais do colecionismo, vendidos a preço banal e com tiragem ilimitada. 

Francamente inspirados nos dvds piratas comercializados informalmente, os PIRATÕES consistem numa mídia dvd printable + capa xerocada + embalagem plástica + carimbo manual + vídeos apropriados, comercializados somente no momento da ação, aos moldes e preços praticados pelos camelôs dos grandes centros urbanos. No acervo do coletivo, mais de 1.000 vídeos catalogados, permitindo-se saber quais são os artistas mais vendidos, mais exibidos e demandados, quantos dvds são comercializados a cada edição do projeto, o montante de dinheiro movimentado, dentre outros dados estatísticos.
 
Ao se deslocar, PIRATÃO difunde/exibe por outros lugares o acervo de vídeos aglutinado no local de origem do coletivo, na mesma medida em que gera condições para que novos trabalhos de artistas locais sejam incorporados ao projeto, difundindo-se em seqüência, num movimento polinizador que opera constantemente aglutinação – deslocamento – difusão.

 


Desde 2009 foram realizadas 20 edições do projeto, que já percorreu as principais capitais de todas as regiões brasileiras, ocorrendo tanto em ruas e praças, quanto integrando mostras e exposições no MAM (RJ), Paço das Artes (SP), Caixa Cultural (RJ), Santander Cultural (PE), Prêmio Funarte Artes Visuais (PA/DF), Memorial da América Latina (SP), Galeria A Gentil Carioca (RJ), dentre outros, comercializando mais de 4.000 dvds PIRATÕES, num total de 8.329 vídeos difundidos.
A cada realização do projeto PIRATÃO um registro em vídeo é gerado, como forma de introduzir e documentar, dentro do campo das artes visuais, no atual estágio da arte contemporânea, um amplo debate sobre direitos autorais, pirataria, flexibilidade e democratização de acesso a bens artísticos, entendidos em sua dimensão imaterial/informacional.
Além da ação de venda de dvds piratas de videoartes, o projeto também se desdobra em outros trabalhos como a SESSÃO PIRATAVIDEOTECAPIRATA, FÁBRICA PIRATA e o PIRATÃO JUKEVIDEO
PIRATÃO buscar ativar redes de troca em torno da produção audiovisual voltada para o campo das artes plásticas, evidenciando a novíssima e vasta produção no campo da videoarte, facilitando o acesso/contato com trabalhos clássicos, propiciando um ponto aglutinação e difusão desse trabalhos a partir de um modelo que faz referência ao comércio popular, informal e pirata.

Fonte:

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Coletivo Filé de Peixe

O coletivo Filé de Peixe intervém na economia política da arte, agindo criticamente sobre processos de recepção e circulação da arte enquanto mercadoria, investigando as relações entre arte e vida, as instâncias limítrofes entre objeto e produto, entre colecionismo e consumo.
Mantém desde 2009 o projeto PIRATÃO, que ao modo e preços praticados pelos camelôs piratas dos grandes centros urbanos, comercializou mais de 7000 vídeos de autores clássicos e recentes, da produção videoartística nacional e internacional.Iniciou em 2012 a coleção CM² ARTE CONTEMPORÂNEA, adquirindo de artistas como Antonio Dias, Cildo Meireles, Ernesto Neto, Rosângela Rennó, dentre outros, obras de 1 cm² pelo preço do valor médio do cm² da obra.

Realizou em 2013 sua primeira exposição individual no Centro Cultural Banco do Nordeste (BNB), além de coletivas no Oi Futuro, MAM e Caixa Cultural-RJ, Santander Cultural-PE, Paço das Artes-SP, etc. Em 2014 participou da 6ª Bienal de Vancouver, Canadá. Em 2015 foi premiado no 66º Salão de Abril (Fortaleza – CE).


Fonte:

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Luis Henrique Saia

Eletro Performance
Luis Henrique SaiaRevista Around, 1990




Conheci Guto Lacaz no verão de 78, em Peruibe, durante filmagens onde eu atuava e ele era o cenógrafo do filme. No ato ficamos amigos. Dei minha peça para ele num final de tarde, que foi ler na piscina do hotel onde estavámos hospedados com a equipe, e, da janela do meu quarto podia vê-Ia dando boas gargalhadas com o texto. Daí em diante, nosso relacionamento foi se intensificando. Relampagos, Trovoadas. Muito sol e vento. Almoçamos. Guto mostrou-se ótimo degustador. Ouvimos operetas, Alberta Hunter e Caetano Veloso durante nosso papo e, em determinado momento, decolamos.
Criativo e instigante, nada lhe parece suficientemente perfeito e por não ser bobo, Guto Lacaz procura o humor como modo de vida. Admira movimentos culturais, o aprumo técnico das coisas, a desenvolrura dos sentimentos e das amizades. Admira também as mulheres "Que com sua formosura e sensibilidade alegram o mundo", mas se diz um tímido para um chega mais. Seu guru de cabeçeira? Bem, esse só pode ser o Prof. Bicudo, o nobre colega que tem con tribuido muito em sua vida científica, pela inteligéncia e perspicácia.
Guto nasceu em São Paulo. O signo? Adivinhem? Virgem, que tem Mercúrio como planeta, que rege a inteligência e cuias palavras chaves são: eficiência, perfeição e comunicação. Seus piores defeitos manifestam-se em atitudes conservadoras e hiper críticas. Telúrico e apegado, Guto nunca saiu do país, salvo excessão de uma viagem ao Paraguay, para um rápido contrabando, não realizado. Risos Gerais. Fora isso, viajou pouco pelo Brasil: "Me sinto muito bem em São Paulo, pois é onde estou instalado, onde tenho meu conforto garantido, onde estão meus amigos e familiares. Culturalmente, em São Paulo é onde, entre parêntesis, acontecem as coisas no país. Acho que é uma cidade que está sem saída, urbanisticamente condenada. Conheci São Paulo como sendo um verdadeito paraíso. Morava numa casa espaçosa, com quintal, muita brincadeira e nenhuma violência. Uma cidade rica em arquitetura, praças e monumentos, que desapareceram".
Arquiteto de formação, mas artista plástico e gráfico por opção, Guto estudou um ano no Dante Alleghieri, que achava caretíssimo, e fez o ginásio no vocacional Eduardo Prado, onde se encontrou, pois "lá estava a nata dos reprovados ou casos perdidos", disse ele. Fez o curso de Eletrônica, mas no ano em que ia se formar entrou na Faculdade de Arquitetura de São José dos Campos (sendo da turma que inaugurou a faculdade) onde fez sua cabeça e a cabeça de muitas pessoas. Guto adorava dar bola no pilotis. Lá, Guto, que sempre sentiu prazer em desenhar, dirigiu melhor tal atividade, mas sem nunca pensar em ser artista plástico. Um dia, deu-lhe na telha e, apanhou as coisas que fazia por impulso e apresentou 14 trabalhos na "I.. Mostra do Móvel e do Objeto Inusitado". Ganhou um prêmio, sentiu o pique da coisa e foi lançado. Nessa época, já fazia ilustração, livros, marcas, e exercia a profissão de arquiteto (e que exerce aré hoie quando o cliente aparece).
Guto costuma dizer que quando era menino, a chave de sua cabeça e primeiro referencial foi Ruy Jorge Pedreira: "Uma pessoa única, integra, serísslma e ultra irônica. Sabia tirar um bom sarro. Desenhava muiro bem com a formação das histórias em quadrinhos, e enquanto desenhava, toda a molecada da rua ficava ao seu redor, fascinada". Lembra também com satisfação de Dorinho e Borracha, amigos de colégio que faziam "arte" e davam risada prá cacete. Depois da faculdade, foi de encontro aos artistas plásticos: Dudi Maia Rosa, vigoroso e criativo e o excêntrico Boi. Nas artes gráficas, seus mestres e sócios são Mário Cafiero, Ricardo Van Steen e Farah.
Depois de algumas coletivas de objetos e desenhos, foi convidado para fazer sua primeira individual, IDÉIAS MODERNAS, uma das melhores exposições do ano passado, na qual mostrou

pessoas que comentam com alegria alguns trabalhos expostos.
Guto é do tipo rápido, certeiro, prático. Pega um problema ou uma situação e decompõe em partes, estudando uma a uma com detalhes. É um inventor. Gosta de trabalhar, mas sabe se divertir, curtir a vida, ver com poesia o quebrar de uma onda, ver o por do sol (do sol propriamente dito ele gosta com moderação) e acha que a felicidade é fundamental. Trabalha continuamente e, de um ano para cá, começou a admirar e se interessar pelas performances, gênero artístico que acha muito contemporâneo e como seu trabalho tem muitos objetos, gostaria de colocar esses objetos num espaço cênico. No momenro, Guto prepara uma pedormance multi-mídia. Entre seus trabalhos divulgados, fez a capa da revista Veja sobre cursos de inglês no Brasil e quebrou o gelo, pois as capas da revista, salvo excessões, são muito caretas. lIustrou o livro" Antes Que eu Me Esqueça" do Deus perdido Roberto Bicelli; o projeto gráfico da peça "Coração na Boca"; projeto gráfico da Vídeo-Verso; Revista Arte em São Paulo; Revista Via Cinturato da Pirelli; projetos gráficos para a Racional Engenharia, entre outros. No momento, faz o projero gráfico do livro Café Cadillac, poesias do artista plástico e arquiteto Fernando Stickel. 

Fonte:

http://www.gutolacaz.com.br/artes/textos/Around.pdf

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Comentários sobre o trabalho em performance

Eletroperformance

A Ciência e a Tecnologia postas a nu. Reinventadas. Usadas como recurso cênico e performático. A discussão vital do mito do progresso científico permeia todo trabalho de Guto Lacaz.
João Pedrosa/HV
Sheila Leiner/Fundação Bienal
Oswaldo Faustino/Diário Popular
Miguel de Almeida/FSP
Data: Junho de 1983
Renato Cohen/Performance como Linguagem
Editora Perspectiva 




Como performer Guto Lacaz destaca-se pelo senso de humor e pelo rigoroso ritmo com que opera o caos emergente de seu palco portátil onde marcam encontro cadeiras elétricas, rádios especializados em sintonizar Vicente Celestino, serrotes em contraponto com espadas de néon, vídeos, super 8, datilógrafas punks escrevendo memorandos para Satã, toca discos digitando nuvens; a alegria pontuando o espaço. Roberto Bicelli/Funarte
Seu trabalho em performance com instalação revela empenho, humor e invenção. O expressivo domínio do tempo, espaço e imagem torna-o compreensível e comunicativo.
... E Lacaz, junto com o grupo que o acompanha, é considerado o mais louco, mais rigoroso, mais equilibrado e detonador de paixões, de todos os performáticos que estarão presentes na Funarte, nestes dois dias.
...O criativo Guto Lacaz fez genial performance ao lado de Cristina Mutarelli no West Bar Ponderosa. Os ingressos custaram mil cruzeiros e deram um feliz prazer.
... De tudo, o que mais me impressionou foi Guto Lacaz / Cristina Mutarelli e a Eletroperformance. O inventor Guto Lacaz, também um lapidador de frases e imagens iconoclastas, teve a perfeição de construir dezenas de objetos para figurar em sua apresentação. Ou de utilizar objetos de uso doméstico como um aspirador de pó. Ele é da idéia de que um objeto de uso cotidiano tirado de seu cenário, e usado em outro contexto, provoca rupturas e atritos. O público assim é chamado a observar detalhes que normalmente nem mais presta atenção.A estrutura da Eletroperformance se baseia na mistura e talvez síntese de todas as mídias. Prevalecia a coisa cênica, mas, antes de tudo sob a estrutura cinética, de quadros e imagens. Guto Lacaz fazia ainda o uso abusado de alguns clichês cinematográficos, mas todos eles sob o ponto de vista critico e iconoclasta. Ele parecia estar atrás do riso ao confrontar detalhes e linguagens. Conseguiu. Mostrou algo importante, em outro aspecto: não é porque o trabalho foi criado, concebido sob uma idéia, que ele perde seu valor de impacto ou de enlouquecimento. Os loucos racionais me parecem os piores. Há quem assine embaixo esta afirmação.

Miguel de Almeida/Primeiramão
Aproximação de um Espetáculo Conceitual A Eletroperformance de Guto Lacaz Local: Ponderosa Bar São Paulo

O local da performance é um café-teatro que tem, no segundo andar, uma pequena sala de espetáculos. A sala é dividida em um pequeno palco e um espaço para o público. O público é de aproximadamente setenta pessoas e a performance acontece somente neste dia, no horário especial das 24 horas. O espetáculo se divide em quadros (num total de 14), cada quadro tendo como base um aparelho elétrico, uma idéia e um clima determinado. O espetáculo é apresentado por dois performers: Guto Lacaz e Cristina Mutarelli. Ambos vestem aventais brancos e usam óculos escuros. À medida que os dois vão mexendo com os aparelhos elétricos, temos a impressão de estarmos diante de um “cientista (criador) maluco“ e sua partner. O espetáculo é multimidiático (utilizase de teatro, cinema, cibernética, plástica, iluminação por néon, etc) e não existe nos performers a preocupação de “interpretação”, a impressão que fica é de sempre estarmos vendo uma demonstração. Os performers, com ironia e principalmente humor, vão mostrando várias possibilidades de utilização dos objetos elétricos (sempre inusitadas, como descreveremos a seguir). Deter-nos-emos em dois quadros da performance que merecem destaque especial: num dos quadros a cena é de um rádio (do tipo antigo, de madeira e luminoso). O rádio é o

personagem único da cena (os dois performers estão fora no momento). À medida que transmite informações bombásticas, o rádio pisca e movimenta-se em cena (grande parte do mérito do espetáculo de Guto Lacaz se baseia na qualidade das engenhocas que este originalmente um artista plástico, constrói. O rádio está encaixado em um trilho que permite a sua movimentação sem que se perceba
isso da platéia). O outro quadro é o do fechamento da performance. Os dois performers estão em cena. A luz de néon os ilumina. A partner segura uma bola de plástico. Uma música clássica, triunfal, anuncia que o gran finale está para acontecer. Guto liga o tubo de ar – um aspirador de pó ao contrário e aproxima suas mãos das de sua partner. De repente, os dois se posicionam em cima do tubo de ar, a bola sobe e fica flutuando a uma certa altura no espaço. O efeito produzido é mágico.
A Eletroperformance trabalha com a dialética tempo-espaço ficcional/tempo espaço real. E justamente o jogo com esses dois tempos, que se dá através de uma brincadeira com a convenção teatral, que faz com que essa performance possa ser apontada como um espetáculo conceitual (na medida em que brinca com os conceitos de convenção, representação, atuação etc. que estruturam a arte teatral). A Eletroperformance funciona como uma demonstração. Fica demonstrado que qualquer coisa interessante pode ser uma cena (como o rádio) e que não precisa haver o fio dramatúrgico nem grandes personagens em cena, para o espetáculo se sustentar. A Eletroperformance caminha sempre à base do anticlímax, da anticena, da antiatuação. Os performers entram e saem de cena e demonstram o uso dos aparelhos elétricos (sempre inusitados) como uma feira de utilidades domésticas: Guto e Cristina entram seguram a bola, olham para o público e de repente o aspirador é ligado e a bola, inusitadamente, fica suspensa no ar. Não acontece nenhuma grande cena, nenhuma grande interpretação.
Fica sempre demonstrado, nessa performance a substituição do eixo de sustentação do teatro convencional (narração / personagem) pelo eixo da performance (live art/performer). O que o performer coloca em cena, no lugar de uma personagem construída, é sua habilidade pessoal (no caso a habilidade de Guto Lacaz de construir as engenhocas e de fundir linguagens). Guto Lacaz centra sua pesquisa no que podemos chamar de uma cenotécnica eletrônica. O espetáculo se enquadra na linha do trabalho formalizado, deliberado. Na Eletroperformance, as cenas (uso dos aparelho) são rigorosamente ensaiadas e cada efeito é milimetricamente calculado.


Fonte:
http://gutolacaz.com.br/artes/textos/ComentariosPerformance.pdf

terça-feira, 19 de maio de 2015

Eletroperformance

Guto Lacaz


Guto Lacaz

Carlos Auguto Martins Lacaz (São Paulo SP 1948). Artista multimídia, ilustrador, designer, desenhista e cenógrafo. Forma-se em eletrônica industrial pelo Liceu Eduardo Prado, em 1970, e em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São José dos Campos, São Paulo, em 1974. É editor de arte das revistas Around/AZ e Via Cinturato. Entre 1978 e 1984, leciona comunicação visual e desenho de arquitetura na Faculdade de Artes Plásticas da Pontifícia Universidade Católica - PUC, de Campinas. Em São Paulo, leciona no Colégio Iadê, no curso de arquitetura na Faculdade de Belas Artes e no curso livre Artur Cole, entre 1981 e 1984. Realiza performances como Eletro-Performance, 1984; Estranha Descoberta Acidental, 1984; O Executivo Heavy Metal, 1987; Espetáculo Máquinas II, 1999, entre outras. Na década de 1990, ilustra os livros Crescente: 1977-1990, de Duda Machado; Num Zoológico de Letras, de Régis Bonvicino (1955); e o Balé dos Skazka's, de Kátia Canton. Em 2005, publica o livro Desculpe a Letra, que reúne desenhos realizados para a coluna da jornalista Joyce Paschowith, no jornal Folha de S. Paulo.
Comentário Crítico
A produção de Guto Lacaz transita entre o design gráfico, a criação com objetos do cotidiano e a exploração das possibilidades tecnológicas na arte, sempre tratados com humor e ironia, como é possível notar em Crushfixo (1974), um de seus primeiros trabalhos, ou em Fuscão Preto no Acapulco Drive-In (1981), no qual, por meio de uma maquete, associa uma canção popular à música de vanguarda do compositor Arrigo Barnabé (1951).

Vários de seus trabalhos relacionam-se ao universo da mídia e do consumo, como Óleo Maria à Procura da Salada (1982), em que uma lata de óleo se desloca em uma bandeja equipada com radares, ou Ono (1991), obra em homenagem ao arquiteto Walter Ono, criada a partir de um embalagem de sabão em pó. Lacaz realiza também grandes instalações, como Auditório para Questões Delicadas (1989), na qual faz uma intervenção no parque Ibirapuera, em São Paulo. Instala, no meio do lago do parque, seqüências de cadeiras, que, por meio de estruturas ocultas, parecem flutuar na água. Em Cosmos (1991), definida pelo artista como uma livre interpretação da mecânica celeste, dispõe, em uma sala escura, pedestais de diferentes alturas, cujos motores elétricos fazem com que pequenas esferas brancas descrevam orbitais que variam em direção, diâmetro e velocidade. Ao percorrer a instalação, o espectador tem a sensação de estar caminhando por entre os corpos celestes.
Guto Lacaz realiza ainda diversas performances, como Espetáculo Máquinas II (1999) ou Eletro Performance (1984), que tem como participantes a atriz Cristina Mutarelli (1957), o arquiteto Javier Borracha e o irmão do artista Nenê Lacaz, entre outros.
Fonte: 

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Incômodo

PERFORMASOM
Neologismo criado pra expressar a vontade de unir duas linguagens da arte: Performance e Som. 
Tenho pensado muito sobre a  imersão que a experiência da performance e da música causam no corpo e na mente humana, de forma até parecida quando comparamos performers e músicos. A fim de atingir uma entrega do público participante e uma superação das resistências da sociedade, vejo o som como forma de cura. 

INCÔMODO
Data: 6/05/2015 
Duração: Flexível a mudanças
Gravação: Thatiana Montenegro

A performance "Incômodo" nasceu pra dar star a essa relação, ela tem como principal objetivo causar o estranhamento das pessoas ao redor. A ação do performer consiste em entrar num espaço de caráter silencioso, onde a maioria se mantém calado, como em elevadores, igrejas ou museus, e acionar um som estridente, ou seja, não esperado por todos. 
"Incômodo" foi realizada dentro dos elevadores da UERJ e entre olhares pude notar o desconforto e desconfiança de muitas pessoas, tirando aquelas que estavam com seus fones de ouvido. 

Começo assim a experiência entre performance e som no corpo e na mente humana. 





terça-feira, 12 de maio de 2015

Volumetria

Performance Volumetria

A ação se resume em acumulações de corpos e movéis que reconfiguram a visão do caos já instaurado. Som, luz e movimento alimentam a visão do desmantelamento...e da recomposição de uma realidade. Nas Volumetrias do mundo, homem e objeto se tornam elementos de composição da existência.



segunda-feira, 11 de maio de 2015

Bancarrotas

Bancarrotas [performance, 2012]
Parque Municipal, Noites Brancas


Duração: 2 horas
Performers: Ana Luisa Santos, Inácio Mariani, Marco Paulo Rolla, Noemi Assumpção, Regina Ganz.
Produção: Fernando Costa.


Cinco aristocráticos exageradamente vestidos e enfeitados com jóias percorrem o Parque Municipal, no centro de Belo Horizonte. Cada um deles tem um saco de dinheiro falso. Eles circulam rindo exageradamente, até encontrarem uma enorme árvore para subir. Do topo da árvore deixam o dinheiro a cair, nota por nota, rindo constantemente.

A performance é uma crítica sobre o quadro social hierárquico - econômica e politicamente - no Brasil. O poder do dinheiro e o comportamento repugnante em relação às pessoas no país.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Dialética do corpo e espaço

DESCRIÇÃO
No início da escadaria do prédio do Paço da Liberdade encontra-se um grande saco de espuma contendo 57 placas de espuma e 57 novelos de lã. Tiro do saco uma placa de espuma e, com um novelo de lã, amarro-o na sola do meu pé. Subo o primeiro degrau da escada e coloco o novelo no degrau. Tiro outra placa de espuma, outro novelo de lã, amarro-o no meu outro pé e subo, carregando o saco, mais um degrau, colocando no novelo no degrau. Para cada degrau que subo, tiro uma placa de espuma e um novelo do saco, amarrando no meu corpo e soltando o novelo em cada degrau. Até o segundo andar do prédio são 56 degraus. Subo cada degrau completando exatamente essa ação. Próximo ao segundo andar, faltando poucos degraus, não consigo mais amarrar as placas, e todos os novelos viraram um grande emaranhado de fios. Pego o saco, visto sobre minha cabeça e subo até o segundo andar. Por conta dos novelos deixados para trás, fico preso à escada. Começo a me movimentar para dar uma volta por trás dela. Quando não consigo mais me movimentar, arrebendo alguns fios de lã presos ao corpo. Quando consigo dar a volta por trás da escada, tiro do meu bolso uma tesoura e começo a descer, dessa vez cortando os fios a cada degrau que desço. Quando chego ao primeiro degrau do térreo, onde começou a performance, corto o último fio de lã, que prende a última placa de espuma ao meu corpo, finalizando a performance
SOBRE A PERFORMANCE
Esta performance foi criada especialmente para o prédio do Sesc Paço da Liberdade. Por ser um prédio histórico e tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional, há diversas regras e limites que impossibilitam a execução de performance com os mais variados materiais, por exemplo, água, tinta, pó etc. Este trabalho surgiu exatamente por essa questão, a essa limitação comum em espaços tombados. Pensando em uma ação que ‘protegesse’ o espaço, trabalhei com materiais que não agredissem o mesmo, ou seja, espuma e lã. As cores dos novelos de lã foram retiradas das cores presentes no prédio. 
Como em outros trabalhos, a teleologia da ação aparece como base do trabalho e o fim visado (télos) cada vez mais difícil de ser alcançado conforme desenvolvo a minha ação. Contudo, a ação ganha um novo sentido aqui, um sentido que relaciona meu corpo ao espaço. É a ação que constrói a dialética entre corpo e espaço.

Vídeo:
Fonte:

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Eu prometo!

EU PROMETO! | MEMORIAL MINAS GERAIS VALE • 2014

A performance ocorreu no dia 23 de agosto de 2014, no programa Performance no Museu com curadoria de Marco Paulo Rolla | Memorial Minas Gerais Vale | Belo Horizonte.
Nesta performance faço uma reflexão sobre a frase "Quando eu falo 'eu prometo', eu prometo uma ação a alguém". Exploro nesse trabalho ações complexas que se relacionam com as minhas reflexões que desenvolvo durante a performance. 
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Artista da performance

Fernando Ribeiro

Artista da performance e curador, vive e trabalha em Curitiba, Brasil. Bacharel em Artes Visuais pela Universidade Tuiuti do Paraná (2002) e especialista em Estética e Filosofia da Arte pela Universidade Federal do Paraná (2010).
Iniciou seus estudos sobre a performance art em 1999. Nesta última década, foi um dos responsáveis pela divulgação, reflexão e discussão sobre a performance art em sua cidade. Além de apresentar diversos trabalhos nesse período, também fomentou esse tipo de arte por meio de palestras e workshops.
O seu trabalho está calcado na exploração da ação, em um sentido lato. Questões relacionadas à teleologia da ação, ações simples, complexas e práticas, ao saber-agir e poder-agir são constantes. E, relacionada à ação, mas direcionando-se para além desta, a filosofia se faz cada vez mais presente na sua prática.
Fernando participou de diversos eventos, festivais e exposições, entre eles MIP – Manifestação Internacional de Performance – Belo Horizonte, 2003; O Corpo na Cidade: performance em Curitiba, 2009; Trampolim – Vitória, 2011; Performa Paço – São Paulo, 2011; 1º Itajaí Arte e Mídia – Itajaí, 2011; Direct Action 2011, Berlim, Hannover e Londres, 2011; Urbe-Brote Urbano – Buenos Aires, 2011; Defibrillator Performance Art Gallery – Chicago, 2012; Mobius Inc – Boston, 2012; Grace Exhibition Space – Nova York, 2012; 4to Encuentro de Acción en Vivo y Diferido – Bogotá, 2012; Performance Corpo Política, Brasília, 2013; Miami Performance International Festival, Miami, 2013; Corpo Ausente – Circuito Bode Arte – Natal, 2013; Mostra Performatus #1 – São Paulo, 2014; Independência: Quem troca? – Curitiba, 2014; Linguada Mostra de Artes – Curitiba, 2014; II Mostra de Arte Performática do Sesc Paço da Liberdade, 2014; Performance no Memorial, Memorial Minas Gerais Vale – Belo Horizonte, 2014.
Para além de seu trabalho prático, também é curador e organizador da p.ARTE – Mostra de Performance Art: noite mensal de performance art em Curitiba, que ocorre desde maio de 2012. Foi curador convidado da Bienal Internacional de Curitiba 2013, sendo responsável pela curadoria do programa de performance art. E novamente foi convidado para ser curador de performance da Bienal Internacional de Curitiba 2015.
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