terça-feira, 14 de abril de 2015

O datilógrafo

A performance O Datilógrafo fez parte do evento Jornalismo e Literatura, promovido pelo Sesc da Esquina, Curitiba/PR. Durante os dias 7, 8 e 9 de outubro de 2009, no horário do almoço e no fim da tarde, Fernando Ribeiro, portando uma máquina de datilografar portátil, ocupava algum espaço do Sesc da Esquina e começava a escrever.
Em cada lugar que parava escrevia uma página. Intitulava o dia e a numeração da página. Logo após escrita, colocava-a dentro de um pacote plástico e fixava no lugar em que escreveu. Os textos tratavam desde suas impressões do momento, observações que aconteciam até reflexões sobre a performance em si.
A performance alude as mais diversas questões, sejam biográficas ou não. Quanto a primeira, a datilografia possui um papel importante na vida do artista. Fora com 12 anos que cursou seu primeiro curso de datilografia. Logo começou a trabalhar como estagiário da escola, o que o possibilitou ampliar os cursos e o domínio da técnica. Para o artista a datilografia sempre teve um papel especial herdado de seu pai, que considerava o domínio de tal técnica como um primeiro passo para se conseguir um bom emprego.
Quanto a questões não-biográficas, a performance alude mesmo ao desenvolvimento tecnológico relacionado a escrita. Fernando Ribeiro colocava a máquina de datilografar no seu colo para escrever, como hoje é geralmente visto no uso de computadores portáteis. Quanto a escrita mesma, ela ganhava um corpo fenomenológico a cada letra escrita. Das palavras, dos erros, dos acertos, acentuações, pontuações etc, tudo que o artista escrevia naquele momento era impresso no papel. A própria correção ou anulação de uma escrita errada ou de qualquer outro erro era feito através da sobreposição de letras e hífens. A preocupação era de inscrever aquele momento, aqueles pensamentos e observações que corriam entre o toque dos 10 dedos sobre as teclas, olhando ou não para o teclado.
Sobre a própria escrita, a performance chamava a atenção do público por presenciar o uso de uma máquina que hoje caiu em desuso devido ao advento do computador. A relação do artista com o público era de diálogo direto, seja entre uma página ou outra, seja parando de datilografar para ouvir as estórias que cada um tinha em relação com a máquina ou mesmo com a prática. As pessoas mais velhas geralmente contavam estórias relacionadas, máquinas de datilografar que já tiveram ou que já trabalharam, as pessoas mais novas, principalmente crianças, tinham interesse no que era essa máquina, como ela funcionava e, por fim, no que o artista estava escrevendo.
foto: Christiano Montiani
Fontes:

Nenhum comentário:

Postar um comentário