Marco Paulo Rolla
É artista multidisciplinar, professor e curador de performance, e criador, coordenador e editor do CEIA – Centro de Experimentação e Informação de Arte, em Belo Horizonte.
Preenchendo o Espaço coloca o artista, acompanhado de um acordeom, propagando o som ou a tensão do silêncio, fazendo da música e do movimento, estímulos para explorar infinitas imagens atmosféricas. Suas presenças serão desenvolvidas em improvisos ininterruptos entre o corpo, o som, o tempo e o espaço.
Como surgiu a ideia de “Preenchendo o Espaço”?
Foi o contato com o acordeão. Achei no chão da casa de uma amiga e pedi emprestado. Eu percebi que tirava sons legais dele. Raptei o instrumento, liguei para essa amiga e disse que o acordeão estava tocando em outros dedos. Ela aceitou deixá-lo comigo. Além de ser dramático, ele tem um potencial de expansão de som muito grande. Vira um instrumento de sopro, órgão, algo orquestral. A princípio, chamei a obra de “Enchendo o Vazio”, mas mudei para “Preenchendo o Espaço” por ser mais amplo e pela poética da palavra também.
A relação com o acordão começou como hobby?
Eu não consigo fazer nada como hobby. Hobby para mim é ginástica, dança. Eu tenho um aprendizado musical forte, que vem da minha juventude. Quando peguei o instrumento e vi que eu tinha um domínio, eu decidi apresentar para as pessoas. Comecei a me perguntar onde eu teria um espaço que toparia a obra. Quando veio o convite de Marina, mandei muitas propostas complexas para ela, que optou por essa, a mais simples. Pensei nele por causa desse convite.
Qual é o principal objetivo com Preenchendo o Espaço?
Esse trabalho em questão tem uma grandeza no material da música e no espaço como não visão. Um lugar vazio. A minha sensação é que eu ia atingir o emocional por meio da experiência musical das pessoas e do local. Também tem a ideia do improviso. É como uma morte viva. As imagens que eu construí têm um pouco de morte, drama e desaparecimento. Acho que isso é devido a música do acordeão ser dramática. O instrumento fica próximo do corpo. Vejo o instrumento como outro corpo, então tem o meu e o dele. Quando ele está acoplado no meu peito, sinto uma vibração. Eu saio do improviso muito arrepiado. Sensibilizado mesmo.
Você consegue traçar um paralelo entre a sua performance e a do Fernando Ribeiro, O Datilógrafo?
Quando eu improviso, me conecto com o público por meio do olhar. Eu não posso falar nada, mas as pessoas ao redor podem. O Fernando vê coisas e reage, assim como eu. As duas obras têm o potencial dos acontecimentos cotidianos provocados pelo público.
Qual é a importância do público em “Preenchendo o Espaço”?
Ele pode ser um agente da obra. Eu fico ali numa meditação. O público pode interferir ou não, mas a energia de quem está ali sempre existe. O silêncio também faz parte da performance.
"Encontro entre as performances "Preenchendo o Espaço", de Marco Paulo Rolla (BH), e "O Datilógrafo", de Fernando Ribeiro (Curitiba), durante a programação da Terra Comunal no Sesc Pompeia, no dia 10 de abril de 2015."
Fontes: