sexta-feira, 25 de novembro de 2016

PreparaNem e Núcleo de Pesquisa Corporal no OcupaUFF

Sou homem de buceta!!
Ame ser trans 
Não somos doentes
Trava 
Puta
Mapoa
Edy
Neca odara
Existem corpos que você nem imagina
Mulher de pênis 
Homem de vagina
Bixa nordestina viva!
viado trans também racha
(R)Existimos
Quebra o armario y ocúpa o corpo
Minha buceta masculina

Essas foram as frases-manifestos produzidas coletivamente durante uma atividades do PreparaNem em parceria com o Núcleo de Pesquisa Corporal. O evento ocorrido no Ocupa UFF, no dia 24 de novembro de 2015, chamou a atenção dos estudantes universitários para ocupar e resistir junto com os trans e as travestis! 
"Pessoas trans, educação e universidade" foi uma mesa de debate com profes e estudantes trans do PreparaNem, representades por Luiza Ferreira, Leticia Suhet e Tertuliana Lustosa que levantou temas como a história do PreparaNem e a importância de se trazer para o espaço acadêmico discussões sobre o respeito do uso do nome social, interseccionalidade, a importância da despatologização das identidades trans, cotas para pessoas trans, processos de transição, dentre outros temas políticos relacionados às pautas trans.
O evento concluiu com uma oficina da cartazes ocupando a universidade com vozes dissonantes e resistentes!





terça-feira, 15 de novembro de 2016

O corpo trans como diáspora

Uma transição nem sempre é apenas uma nova performatividade de gênero: é também diáspora, nos seus diversos sentidos. Trans significa além, mas pensando em contextos micro, o desvio de gênero está, na maioria dos casos, relacionado à partida. Digo, desde a partida de casa, por exemplo... O meu corpo que não coube mais no estado onde eu nasci e morei por algum tempo – Piauí – nem na cidade onde eu me criei – Salvador –, almejou o movimento de retirada. O que me leva a pensar que assim como os corpos dos meus ancestrais piauienses e baianos buscaram outros territórios por uma nova perspectiva de vida, eu também, por motivos semelhantes e outros também o fiz.

Deste modo, pensar a complexidade da ideia de pertencimento identitário é pensar que o movimento de uma travesti nordestina deixar suas cidades e famílias diz respeito tanto a uma questão de gênero quanto a uma questão étnica/territorial. A geopolítica do corpo nordestino trans remete a precariedades multifacetadas, tão caras à sua ancestralidade que fica difícil assinalar um processo de migração de forma homogênea. Então o corpo que migra ganha camadas que são talvez do estado híbrido.

Meu próximo ato poético eu não posso mais chamá-lo senão de retorno ao deslocamento. Nesses tempos da guerra fragmentada, certas frequências em mim careceram de escuta e o sujeito que em mim almeja as revoluções precisa agora de raiz. Estou falando, mesmo que não pareça, do movimento de ancestralidade como prática de autoconhecimento e de reconhecimento. Corrente Milk, ou o leite maldito que escorre dos seios hormonizados, é uma gota de displicência que eu me darei a mim mesma, derrota de um racionalismo que quis, derrota de mim. Não, o giro decolonial, nem a filosofia da diferença, nem mesmo ação direta serão as minhas verdades e os meus motes de fé. Nem autodeclarar a contradição me isentaria de alguma forma de qualquer responsabilidade ética.

Hoje tenho as passagens compradas para a cidade em que eu nasci: Corrente. Fica no sul do Piauí. Nessa pequena cidade, habitam tantas frequências que me chamam e eu não sei definir, tantas pessoas que me constituem enquanto ser fricção/poesia. Não me avexo para o que vier e te digo que na roça e no sertão é onde se faz tanto transfeminismo que a sinhá nem imagina!