PERFORMATUS
Ed. 14
Ano 3 | N
14 | Jul
2015
Jerzy Grotowski
O Performer, com letra maiúscula, é um homem de ação. Ele não é um homem que faz o papel de outro. É o atuante, o sacerdote, o guerreiro: está fora dos gêneros estéticos. O ritual é performance, uma ação realizada, um ato. O ritual degenerado é um espetáculo. Não quero descobrir algo novo, mas algo que foi esquecido. Algo tão antigo que todas as distinções entre gêneros estéticos deixam de ser válidas.
Eu sou teacher of Performer (Falo no singular: of Performer). Teacher – como em qualquer ofício – é uma pessoa por meio da qual o ensinamento passa; o ensinamento deve ser recebido, mas a maneira de o aprendiz redescobri-lo só pode ser pessoal. E como é que o teacher, por sua vez, conheceu o ensinamento? Pela iniciação, ou pelo furto. O Performer é um estado do ser. O homem de conhecimento, podemos pensá-lo relacionando-o aos romances de Castañeda, se gostarmos do romantismo. Eu prefiro pensar em Pierre de Combas. Ou até nesse Don Juan descrito por Nietzsche: um rebelde diante do qual o conhecimento é tido como um dever; ainda que os outros não o amaldiçoem, ele sente que é diferente, um outsider. Na tradição hindú, fala-se dos vratias (hordas de rebeldes). Um vratia é alguém que está no caminho para conquistar o conhecimento. O homem de conhecimento [czlowiek poznania] tem à sua disposição o fazer, o doing, e não ideias ou teorias. O verdadeiroteacher – o que ele faz pelo aprendiz? Ele diz: faça isso. O aprendiz luta para entender, para reduzir o desconhecido ao conhecido, para evitar fazer. Pelo simples fato de querer entender, ele resiste. Ele só pode entender depois defazer. Ele faz ou não faz. O conhecimento é uma questão de fazer.
Tradução de Patricia Furtado de Mendonça
Revisão ortográfica de Marcio Honorio de Godoy
© 2015 eRevista Performatus, Jerzy Grotowski, 1987, 1990 e The Jerzy Grotowski Estate, 2005