Texto de Douglas Negrisolli*
Resumo – Este artigo discute a relação do corpo sendo utilizado como objeto do artista dentro da performance nas artes visuais. A aproximação do teatro e da dança nas artes visuais mudou a noção do uso do corpo como objeto participante ou principal da obra do artista plástico.
"A história do corpo é muito anterior ao que se costuma encontrar nos livros de História da Arte, que, frequentemente, iniciam o uso do corpo nas artes perto do final do século XX. Pensar em uma história da performance e, sobretudo, o corpo como objeto dessa linguagem nas artes visuais nos faz indagar algumas questões como: o corpo é o objeto do artista? Qual a preocupação com a construção do corpo dentro da performance nas artes visuais? Estas questões são ponto de partida para abordarmos este tema, que está intrinsecamente presente na sociedade atual. A intenção deste artigo não é compor uma historiografia da performance nas artes visuais, pois há inúmeras publicações a respeito, mas sim relevar sua importância dentro das artes visuais e discutir a condição do corpo do performer como proposta de suporte para sua realização.
Desde os remotos tempos das cavernas o homem quis transmitir informações por meio de desenhos e pinturas, entalhando nas paredes ou usando fluidos de animais e extratos de plantas. A necessidade de sobrevivência para o homem sempre foi uma constante e a necessidade de se expressar também deu início a uma forma para comunicar seus sentimentos a seus iguais. O corpo, dentro da história, foi, muitas vezes, estigmatizado e conduzido a ações canalizadas ora pelos déspotas, ora pela Igreja ou pelas regras da sociedade.
Passando à modernidade, já nos anos 1950, nos Estados Unidos, alguns artistas, como Jackson Pollock (1912-1970) e Willem de Kooning (1904-1997), utilizavam o gesto como essencial para suas pinturas. Pollock inova com a técnica de gotejamento das tintas em um plano horizontal e o faz com a ajuda do corpo, ao gotejar essas tintas na tela. O objeto ainda continua sendo a tinta no plano, então, a tela; o corpo do artista é somente um canalizador da arte final, da arte que ele pensou e estudou para realizar. Tal como Pollock, Willem de Kooning em meados das décadas de 1950 e 1960 utiliza o gesto, que os críticos valorizavam muito; a pintura podia ser importante, mas o gesto participava da obra, era quase como uma representação do estado de espírito do artista, uma canalização da vida
urbana que se vivia, sobretudo no novo polo de arte: Nova York. O gesto, então, passa a ser um diferencial daqueles que queriam fazer sucesso com o Expressionismo Abstrato, rompendo com a figuração.
Segundo a autora RoseLee Goldberg (2006, p. 3), a performance nas artes visuais começou a ser aceita como “expressão artística independente na década de 1970. Naquela época, [como] arte conceitual”. Anteriormente a esse evento, o corpo como expressão é utilizado há séculos, pela dança e pelo teatro, que foram, então, absorvidos e, naturalmente, agregados nas artes visuais. Podemos, então, dizer que o corpo foi incorporado como objeto de uma nova linguagem."
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